Avó reclama que criança teve cabeça
decepada e não recebeu explicações.
Bebê chegou morto ao hospital e
procedimento salvou a mãe, diz médico.
Tahiane Stochero
Do G1, em São Paulo
Familiares de Maria Concebida de Jesus,
de 30 anos, estão revoltados com a morte do terceiro filho dela, que foi
entregue aos pais, logo após o parto, em uma caixa de sapatos, disse a avó,
Osmarina de Jesus.
Segundo ela, o bebê foi “decepado” pelo
obstetra Sergio Souza Barbosa, que fez o parto no Hospital das Clínicas em
Chapadinha, cidade de pouco mais de 70 mil habitantes.
Barbosa afirmou ao G1 que teve que fazer
o procedimento de cortar o pescoço do bebê porque o corpo da criança estava
preso, com parte das pernas para o lado de fora da pélvis e a cabeça ainda
dentro do útero. “O bebê chegou ao
hospital morto. Eu tive que fazer uma cesárea e cortar a cabeça para poder
tirar o bebê e conseguir salvar a mãe”, disse ele.
A avó diz não ter recebido explicações
do hospital e do obstetra sobre o caso. “Estávamos esperando com um berço e o médico me chama
para dizer que havia tentado salvar a criança, mas não conseguiu. Me entrega o
bebê em uma caixa de sapato, com o pescoço enfaixado", reclama. Ela contou
que, ao mostrar o bebê morto para parentes e amigos, perceberam sangue no corpo
e resolveram tirar a faixa. "Foi neste momento que vimos que o pescoço
havia sido decepado", lembra.
“O bebê não tinha condições de sair por
parto normal, estava em posição sentada e isso já era constatado pelo
ultrassom. O médico devia ter feito uma cesárea e resolveu fazer parto normal.
Tentou puxar a criança pelo pescoço e ela não saiu e acabou dando nisso”, disse
Osmarina. “Eu estava esperando o bebê com fraldas, e não com um caixão”,
acrescentou a mãe do bebê, Maria Concebida.
Versão
do médico
O médico Barbosa disse que a gestante
tinha cesárea prevista para ser realizada nesta sexta-feira (13), mas chegou ao
hospital em trabalho de parto por volta das 16h de quinta-feira (12) e que o
parto normal foi necessário porque “a criança já estava com as pernas e parte
do quadril para o lado de fora, e com a cabeça presa na vagina".
"Chamamos isso na medicina de
cabeça derradeira. Eu tentei fazer manobras para liberar a cabeça, mas estava
presa. Como o bebê não tinha batimentos, estava morto, busquei salvar a mãe.”
“Eu tinha que tomar uma atitude. Se não,
a mãe poderia morrer. Tive que abrir, fazer a cesárea e cortar o bebê, tirando
a cabeça pela barriga. Expliquei para a mãe e a avó, mas elas acham isso algo
fantasmagórico. Deviam estar me vangloriando por salvar a vida dela (da mãe)”,
afirmou Barbosa.
A secretária municipal de Saúde de
Chapadinha, Maria Jose Pereira Coutinho, disse acreditar que o médico agiu de
forma correta, mas instaurou um procedimento para apurar o que ocorreu e
acionou o Conselho Regional de Medicina. O corpo foi levado para perícia no
Instituto Médico Legal (IML) e a família registrou um boletim de ocorrência
sobre o caso.
Procedimento
para salvar a mãe
A pedido do G1, o ginecologista e
obstetra José Bento de Souza analisou o caso. Ele afirma que a primeira coisa
que o médico deve tentar em casos de “cabeça derradeira”, quando a cabeça do
bebê fica presa, é tentar aumentar a dilação e expelir a cabeça por baixo. Já
quando o bebê está morto, como o médio Barbosa relatou que ocorreu no Maranhão,
o objetivo é salvar a vida da mãe, pois, caso o parto demore, há risco de
infecções ou hemorragia.
“Se o bebê está morto e a cabeça presa,
existe a possibilidade de, com uso de instrumentos, esvaziar a cabeça e fazê-la
sair por baixo. Mas, se ele não tinha instrumentos, a prática feita pelo médico,
pelo que foi descrito, está correta, este procedimento de decepar a criança
existe”, explicou Bento. “Ele fez o que podia para salvar a mãe. A família está
julgando-o por ter decepado a criança, mas deviam tê-lo louvado por salvar a
mulher”, afirmou.
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