Escolha
de André Moura para líder do governo Temer é péssimo sinal. Ele é réu em três
ações penais no Supremo.
Fica
a sensação de que o mundo político, o novo governo e até o presidente interino
são reféns de Cunha.
Por Eliane Cantanhede
O Estado de São Paulo
A escolha do deputado André
Moura (PSC-SE) para a liderança do governo Michel Temer na Câmara é um péssimo
sinal, um sinal de que, mesmo afastado da presidência da Câmara e do próprio
mandato, o peemedebista Eduardo Cunha mantém um imenso _ e entranhíssimo _
poder. Pode fazer sentido para o mundo político, mas não para o mundo real a
desenvoltura com que um réu do Supremo Tribunal Federal, com tantas suspeitas e
tantas contas secretas no exterior, possa indicar seus apadrinhados para cargos
estratégicos do governo interino.
O novo líder do governo André Moura poderia ser
apenas inexpressivo, do chamado “baixo clero”, mas é muitíssimo mais grave do
que isso. O sujeito é réu em três ações penais no Supremo, sob a acusação de
desviar dinheiro público, e é investigado em pelo menos três outros inquéritos,
um deles por suposta participação em… tentativa de homicídio! Além disso, ele
também já foi condenado em Sergipe por improbidade administrativa.
Não satisfeito em nomear o líder
do governo, responsável pela comunicação do Planalto com a Câmara, o
onipresente Cunha fez também o chefe de gabinete do ministro Geddel Vieira
Lima, que é quem atende os parlamentares; fez o sub-chefe para Assuntos
Jurídicos da Casa Civil, que cuida dos pareceres da Presidência; e dizem até as
más línguas que, na verdade, quem fez o ministro da Justiça não foi o
governador tucano Geraldo Alckmin, mas o próprio Cunha.
Então, a gente fica com a
sensação de que o mundo político, o novo governo e até o presidente interino
são reféns de Cunha. Está o maior constrangimento entre os próprios aliados de
Temer, que tem engolido esse tipo de sapo sob o argumento de que precisa ter
sólida maioria no Congresso para aprovar medidas econômicas essenciais para
começar a tirar o país do imenso buraco em que a presidente afastada Dilma
Rousseff o jogou.
O fato, porém, é que Cunha terá
acesso a informações preciosas de dentro da Presidência da República, terá
gente dele para formular pareceres jurídicos sobre tudo, terá ingerência na
articulação política do Planalto com o Congresso e terá como saber, com
antecedência, o que está acontecendo até em áreas muito sensíveis do governo.
No mínimo preocupante, não é verdade?
Me desculpe, mas se o Eduardo Cunha tem influência nas decisões da Câmara, isso só prova que os nossos deputados são incompetentes incapazes de fazerem o trabalho para o qual foram eleitos. Isso é ABSURDO.
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