“Acho que houve uma
superestimação do papel e da fidelidade do PMDB, e isso resultou, infelizmente,
nesse quadro que nós assistimos”.
"Infelizmente nós estamos assistindo uma ansiedade e a transformação da política brasileira em um vale-tudo, e com isso perdem todos os brasileiros e claro que os maranhenses também".
Do Blog do Fábio Sena
“A luz da nossa estrada vem do brilho dos
olhares dos nossos irmãos. Com eles, olhamos confiantes para o futuro. Sentimos
e somos impulsionados pela força do vento que sopra do nosso litoral às
nascentes do Rio Parnaíba, que vai das suas margens ao leste até as águas do
Gurupi e do Tocantins. Esse vento se chama mudança”. Foi com este espírito de
transformação, inscrito na primeira página do programa de governo que registrou
no TSE, que o advogado e professor Flávio Dino de Castro e Costa cumpriu uma
função política de extraordinária importância histórica: derrotou, no voto, a
última oligarquia do Brasil, a da Família Sarney, que reinava incólume por meio
século num Maranhão marcado por uma triste realidade, a divisão entre pobres e
ricos.
Eleito no primeiro turno das
eleições de 2014 com 1.877.064 votos, 63,52 % do eleitorado válido, o
carismático comunista Flávio Dino reuniu nove partidos em torno de uma proposta
aparentemente simplória, mas de forte conteúdo progressista: colocar o Maranhão
no Século 21. Ou, conforme suas próprias palavras: “Derrotar para sempre o
coronelismo e o regime oligárquico maranhense… Viver um tempo democrático e
republicano”. Para alcançar tão expressivo resultado eleitoral, Flávio Dino e
companheiros criaram o Movimento Diálogos pelo Maranhão que, no período de um
ano, percorreu mais de cem cidades e dialogou com mais de 30 mil pessoas, em
reuniões partidárias, plenárias setoriais e temáticas.
Mais recentemente, o governador
do Maranhão ganhou projeção nacional ao encabeçar o movimento “Rede da
Legalidade”, em franca oposição ao processo de Impeachment da presidente Dilma
Rousseff, já em apreciação pelo Senado Federal. Ao lado de outros governadores,
ele argumentou que o processo é, na verdade, um golpe, subscrevendo a “Carta
pela Legalidade” e atuando como articulador numa contraofensiva nacional que
envolve outros governadores, deputados, prefeitos, vereadores e movimentos
sociais. Em entrevista exclusiva ao Blog do Fábio Sena – gentilmente articulada
pelo amigo de priscas eras Danilo Moreira, subsecretário de Educação do Governo
do Maranhão – o governador Flávio Dino faz uma leitura minuciosa do cenário
político nacional e reafirmou sua tese central de que as regras do jogo
democrático estão sendo “rasgadas” com o processo de impedimento contra a
presidenta.
Questionado se o seu Estado, o
Maranhão, sofreria prejuízos num eventual Governo Temer, o governador Flávio
Dino demonstrou as razões pelas quais acredita nesta possibilidade, afirmando
que o quadro de instabilidade institucional e os riscos iminentes de
retrocessos sociais, devem afetar negativamente a vida dos sete milhões “de
brasileiros que habitam no Maranhão que precisam da ajuda do Governo Federal”.
Quanto ao fato de governar, no Maranhão, com partidos que, no plano nacional, a
exemplo do PSDB, estão em franca articulação para desalojar Dilma do poder,
Flávio Dino ressaltou que o pacto firmado pela ampla frente política foi
necessária para derrotar a oligarquia da Família Sarney e que vem sendo mantida
a união no plano local. “Cada um respeita a autonomia no que se refere a
disputa política nacional”.
Ao final, o governador Flávio
Dino manifesta solidariedade ao camarada Fabrício Falcão, pré-candidato à
Prefeitura de Vitória da Conquista, a quem manda alguns conselhos: “É preciso,
acima de tudo, confiar na população, conversar com as pessoas olho no olho,
essa tem sido a nossa experiência aqui no Maranhão: assumir compromissos
claros. E venho prestando contas quanto a execução deles, apesar desse quadro
de dificuldades econômica e fiscal. Sempre dialogando com a população. De modo
que a minha sugestão, a minha opinião, ao nosso companheiro deputado Fabrício,
é que ele invista por esse caminho. O caminho do diálogo respeitoso, leal,
fraterno, humilde, de igual para igual, com a população. Confiar na sabedoria
da população. Confiar na capacidade de homens e mulheres de bem, homens e
mulheres de boa vontade, de construir junto com a liderança política, um
programa de governo que seja exequível, factível, e capaz de transformar a
realidade social”.
Segue abaixo a íntegra da
entrevista exclusiva ao Blog do Fábio Sena:
FÁBIO
SENA: Governador, a decisão da Câmara dos Deputados de aceitar a denúncia de
crime de responsabilidade supostamente praticado pela presidenta Dilma Rousseff,
já em fase de apreciação pelo Senado Federal, tem sido interpretada como “golpe
legislativo” ou “golpe branco”. Na sua avaliação, quando e como se originou
este gesto da oposição. Seria apenas uma não aceitação dos resultados das
urnas, como alardeiam os governistas, ou seria possível encontrar razões de
natureza histórica, sociológica nesta ação?
FLÁVIO DINO: Essa tentativa de
rasgar as regras do jogo democrático, de violar aquilo que a Constituição
determina, nasce desses dois fatores principais: de um lado a dificuldade de
aceitar a vontade da maioria expressa nas urnas; e de outro o desejo de
implementar um certo programa de governo que foi derrotado. De modo que
qualquer que seja o aspecto que nós analisemos a questão, nós vamos identificar
muito claramente um movimento de índole antidemocrática. O correto, o certo
para o Brasil é cumprir o calendário eleitoral previsto na Constituição. Em
2018, está prevista a próxima eleição presidencial, momento em que tanto a
presidenta Dilma pode ser julgada, como também, eventualmente, a maioria do
povo pode escolher outro programa de governo. O que não é correto é a alteração
tão brusca, tão profunda, do programa de governo sem que isso receba a
aprovação da maioria da população.
FÁBIO
SENA: A crise político-institucional e um eventual afastamento da presidenta
Dilma Rousseff opôs partidos e ideologias no Brasil. O muro instalado na
Esplanada dos Ministérios parece ter sido a face mais visível de um Brasil
dividido. Na sua visão, trata-se da evidência da luta de classes?
FLÁVIO DINO: Sim, claramente nós
temos uma divisão que deriva em larga medida dos interesses de apenas 1% da
população brasileira que controla e concentra nas suas mãos o conhecimento, o
poder e riqueza, e por isso mesmo não concorda com qualquer projeto que, ainda
que timidamente, tenha um caráter distributivo, e essa é a razão pela qual nós
temos sim, muito claramente, uma manifestação a mais dessa luta entre aqueles
que querem uma sociedade mais justa e de oportunidades para todos, para a
maioria da população, e aqueles que querem, na verdade, em última análise
apenas proteger seus privilégios.
FÁBIO
SENA: Uma aliança com o PSDB, em eleição disputada contra o Partido dos
Trabalhadores, conduziu o senhor ao Palácio dos Leões. Como é governar com
partido francamente favorável ao impedimento da Presidenta Dilma Rousseff e
como vem-se dando a relação especificamente neste momento de crise que vem
opondo esses partidos no plano nacional?
FLÁVIO DINO: Nós temos um pacto
em que essa ampla frente política necessária para derrotar a oligarquia mais
antiga do Brasil, liderada pelo senador José Sarney, mantem esse certo nível de
união no plano local e cada uma respeita a autonomia no que se refere a disputa
política nacional. De maneira que hoje nós temos secretários que são do PT e do
PSDB, por exemplo, e governamos bem porque há um comando, há uma diretriz, e,
sobretudo, há um programa. Um programa de governo de transformações sociais e
esse programa é aberto a todos aqueles com filiação partidária ou mesmo sem
filiação partidária que queiram nos ajudar.
FÁBIO
SENA: A esquerda brasileira apostou na estratégia de ter o PT como capitão do
seu projeto político no Brasil. O senhor acha que depois dessa crise toda a
esquerda continuará hegemonizada pelo Partido dos Trabalhadores ou por outro
partido?
FLÁVIO DINO: Acho que o que é
fundamental nesse momento é exatamente superarmos esse debate sobre qual força
política deve ser hegemônica. Tenho defendido já, há mais um ano, que haja uma
reconfiguração institucional da esquerda brasileira. Acho que a experiência da
Frente Ampla Uruguaia, ou mesmo da Consertación chilena são caminhos válidos,
em que cada partido mantém a sua identidade histórica e a sua organicidade, e
ao mesmo tempo você tem uma frente política e eleitoral, com um programa que
seja convergente entre essas várias forças políticas, possibilitando mais
claramente uma disputa de projetos na sociedade e que nós tenhamos nesse
momento de dificuldade, inclusive mais condições de acumular forças e de obter
vitórias já nas próximas eleições que se avizinham.
FÁBIO
SENA: Em entrevista recente, quando indagado se iria “implantar” o comunismo em
seu Estado, o senhor argumentou que o Maranhão não havia conhecido sequer o
capitalismo ainda. Isso demonstra uma visão doutrinária, algo próximo do
etapismo marxista. O PCdoB estaria em condições de assumir a dianteira,
liderando um projeto de esquerda no Brasil?
FLÁVIO DINO: Como disse na
pergunta anterior, imagino que não cabe ao PCdoB nesse momento ter essa
pretensão. Ao contrário, penso que devemos ter generosidade para enxergar as
dificuldades das outras forças políticas e as nossas próprias. E com esse
espírito aberto, fraterno, construirmos a aliança que a população precisa. Nós
estamos vivendo momentos difíceis e, infelizmente, caso se confirme esse
golpismo inusitado, nós teremos um período de muitos embates para a
preservação, inclusive, de conquistas sociais. É preciso ter um espírito de
muita combatividade, e ao mesmo tempo de muita fraternidade entre as várias
forças de esquerda.
FÁBIO
SENA: Caso o Senado afaste em definitivo a presidente Dilma da presidência, que
tipo de prejuízo poderia experimentar o Maranhão com um governo Temer?
FLÁVIO DINO: Considero que, em
primeiro lugar, é claro que o Maranhão vai sofrer prejuízos porque na medida em
que o Brasil está em um quadro de instabilidade institucional de crise política
profunda, de dificuldades mesmo de haver a chamada governabilidade e diante de
riscos iminentes e evidentes de retrocessos sociais, é natural que isso atinja
muito fortemente os sete milhões de brasileiros que habitam no Maranhão que
precisam da ajuda do Governo Federal. De modo que esse quadro nacional impacta
muito fortemente o Maranhão, o Nordeste, e todo o povo mais pobre do Brasil.
Razão pela qual eu tenho lutado com muita firmeza em defesa da Constituição, da
Democracia, para que nós possamos resolver as divergências, mantendo as regras
do jogo, e construir um novo futuro para a nossa nação. É indiscutível que em
relação ao modelo que vinha sendo praticado até aqui, nós tínhamos muitos
problemas. Esses problemas, por isso mesmo, devem ser resolvidos. Agora não de
qualquer jeito. Infelizmente nós estamos assistindo uma ansiedade e a
transformação da política brasileira em um vale-tudo, e com isso perdem todos
os brasileiros e claro que os maranhenses também.
FÁBIO
SENA: Nas eleições de 2014, a cúpula petista optou pelo pragmatismo puro e
simples ao reforçar uma aliança com partidos conservadores no plano nacional e
forçar partidos como o PCdoB a uma aliança com o PSDB no Maranhão, por exemplo,
com a clara opção de apoiar os Sarney para ver consolidada a aliança com o PMDB
no macro. Esta política de alianças do PT ultrapassou os limites ideológicos ou
estava dentro da coerência?
FLÁVIO DINO: Bom, eu creio que
os fatos mostram que você deve sim fazer uma política de alianças, porém sem
sacrificar aquilo que é o principal. Nós sempre questionamos muito firmemente
essa ideia de que apenas dois partidos iriam conduzir essa experiência política
do campo democrático, progressista e de esquerda. Acho que houve uma
superestimação do papel e da fidelidade do PMDB, e isso resultou, infelizmente,
nesse quadro que nós assistimos. Era necessário algum tempo atrás, oito, dez
anos atrás, investir também no crescimento de outras forças políticas que
tivessem maior identidade com as conquistas sociais que nós buscávamos e
continuamos a buscar. E não propriamente imaginar que você teria parceiros
eternamente leais nos chamados centro, centro-direita. A correlação de forças é
que define a firmeza do cimento que une entre aliados que tem perfis
diferentes. E quando você perde essa força popular e se fragiliza, infelizmente
nós vemos oportunistas de todas as naturezas. Como lamentavelmente assistimos
na Câmara dos Deputados. Acho, contudo, que é hora de olhar para frente. Claro
que fazendo o balanço histórico para não repetirmos os mesmos erros, porém,
procurando corrigir os rumos a partir daqui porque tenho muita esperança e
muita convicção que progressivamente a população, sobretudo a mais pobre e
aquela que se beneficiou das políticas sociais, de distribuição de renda, vai
identificar quais são os interesses em conflito e com isso fortalecer novamente
o projeto político liderado pela esquerda.
FÁBIO
SENA: Sua vitória no Maranhão ocorreu sem apoio do PT. Aqui em Vitória da
Conquista o PCdoB vai disputar a prefeitura com o Deputado Fabrício Falcão. Que
conselho você daria para ele?
FLÁVIO DINO: Bom, eu desejo que
o deputado Fabrício tenha muito sucesso em sua caminhada. É preciso, acima de
tudo, confiar na população, conversar com as pessoas olho no olho, essa tem
sido a nossa experiência aqui no Maranhão: assumir compromissos claros. E venho
prestando contas quanto a execução deles, apesar desse quadro de dificuldades
econômica e fiscal. Sempre dialogando com a população. De modo que a minha
sugestão, a minha opinião, ao nosso companheiro deputado Fabrício, é que ele
invista por esse caminho. O caminho do diálogo respeitoso, leal, fraterno,
humilde, de igual para igual, com a população. Confiar na sabedoria da
população. Confiar na capacidade de homens e mulheres de bem, homens e mulheres
de boa vontade, de construir junto com a liderança política, um programa de
governo que seja exequível, factível, e capaz de transformar a realidade
social. Eu desejo ao deputado Fabrício e aos companheiros do PCdoB, assim como
aos demais partidos aliados de Vitória da Conquista, uma boa luta. Tenho
certeza que o caminho até aqui trilhado justifica esse desejo de chegar ao
comando dessa importante cidade. Acho que no próprio nome da cidade está
embutida a mensagem principal. Vitória, que novas conquistas virão.
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