Presidente do PT divulgou nota criticando primeiros atos do novo governo; Partido, que faz reunião nacional nesta terça-feira, ainda estuda como fará oposição no Congresso
VERA ROSA
O ESTADO DE S.PAULO
BRASÍLIA - Em artigo publicado
nesta segunda-feira, 16, no site do PT, o presidente do partido, Rui Falcão,
chamou o governo comandado por Michel Temer de "usurpador" e disse
que "num ministério sem mulheres e negros, com vários ministros
investigados por corrupção", haverá revogação de direitos sociais.
Falcão está presidindo nesta
segunda uma reunião da Executiva Nacional do PT, a primeira depois do
afastamento da presidente Dilma Rousseff por até 180 dias, aprovado pelo
Senado. O encontro antecede o do Diretório Nacional, marcado para terça, 17,
que também contará com a presença de governadores e prefeitos do partido e vai
definir o modelo de oposição a Temer.
Deputados petistas pregam
oposição ferrenha e prometem obstruir votações na Câmara, mesmo quando os
projetos enviados pelo presidente em exercício forem semelhantes aos que o PT
sempre defendeu, como é o caso da proposta de recriação da Contribuição
Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF).
"Mal começou e o governo
usurpador confirma o que já prevíamos. Em sua primeira entrevista - e na de
alguns ministros -, o presidente interino anuncia a disposição de avançar em
privatizações, em rever políticas sociais e de reforma agrária, bem como de acabar
com o multilateralismo da política externa brasileira, retornando à dependência
dos Estados Unidos", afirmou Falcão, no artigo publicado no site do PT.
"Num ministério sem mulheres e negros, com vários ministros investigados
por corrupção, a revogação de direitos não se resume à reforma da Previdência,
com fixação de idade mínima".
Falcão também criticou o novo
titular da Fazenda, Henrique Meirelles, chamado por ele de "interino da
Fazenda", e disse que o desmonte da seguridade social, incluindo a Previdência,
"faz parte do programa neoliberal 'Uma Ponte para o Futuro'", lançado
pelo PMDB no ano passado.
Para o presidente do PT, medidas
tomadas pelo novo governo, como "cancelamento de recursos para o MST e
sufocamento dos blogueiros" de esquerda revelam o "caráter repressivo
dos ocupantes provisórios do Planalto".
"O PT continuará alinhado
com os partidos, frentes e movimentos do 'Não ao Golpe. Fora Temer!',
participando e organizando atos, eventos e manifestações em defesa da
democracia, da Justiça e do Estado de Direito", insistiu Falcão.
Novas Eleições
A cúpula do PT,
porém, está dividida sobre o tom da estratégia de oposição ao governo Temer. À
procura de uma bandeira que vá além do discurso do "golpe" contra
Dilma, o comando petista pode apoiar até mesmo a proposta de antecipação das
eleições presidenciais, mas ainda há divergências sobre o rumo a seguir.
O PT também abriga diferentes
posições sobre a forma de tratar, a partir de agora, projetos que antes
contavam com a simpatia do partido, como a CPMF. "Nada do que vier desse
governo ilegítimo será aprovado por nós. Faremos oposição ferrenha",
resumiu o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Nem todos, porém, têm a mesma
opinião.
"Em princípio, o que nós
defendíamos antes, continuaremos defendendo. Se os recursos da CPMF forem
vinculados à saúde, a proposta pode ter nosso apoio. Eu sou favorável a
isso", argumentou o ex-líder do governo no Senado Humberto Costa (PT-PE),
que foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
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