Ex-presidente foi gravado em
conversa com Sérgio Machado, ex-senador que foi o pivô da queda de Romero Jucá;
leia as transcrições das conversas
Por Redação
O Estado de São Paulo
Divulgado nesta quarta-feira,
25, o diálogo do ex-presidente da Transpetro e delator da Lava Jato Sérgio
Machado com o ex-presidente José Sarney bota ainda mais gasolina na crise ao
revelar o medo dos políticos com o avanço
da Lava Jato e das revelações que a maior empreiteira do País, a Odebrecht, deve fazer em
sua delação premiada que vem sendo negociada com a força-tarefa da Lava Jato. “Odebrecht vem com uma
metralhadora de ponto 100″, afirmou o cacique peemedebista.
Sarney, que foi gravado por
Machado nas conversas que os dois tiveram para discutir a crise política e a
operação que avança sobre os principais políticos brasileiros, também manifesta
sua preocupação com a possibilidade das investigações envolvendo Machado serem
enviadas para o juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal em Curitiba, e indica que
tentaria ajudá-lo a encontrar uma solução.
Veja a íntegra da transcrição
dos diálogos abaixo:
Primeira conversa
Sarney - Olha, o homem está no
exterior. Então a família dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E
não falei ontem porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E
eu falei com o secretário.
Machado – Eu vou tentar falar,
que o meu irmão é muito amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela
volta. Se ele me dá uma saída.
Machado Presidente, então tem
três saídas para a presidente Dilma, a mais inteligente…
Sarney - Não tem nenhuma saída
para ela.
Machado …ela pedir licença.
Sarney - Nenhuma saída para
ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela.
Machado - Tem que ser muito
rápido.
Sarney - E vai, está marchando
para ser muito rápido.
Machado - Que as delações são
as que vem, vem às pencas, não é?
Sarney - Odebrecht vem com uma
metralhadora de ponto 100.
Machado - Olha, acabei de sair
da casa do nosso amigo. Expliquei tudo a ele [Renan Calheiros], em todos os
detalhes, ele acha que é urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o
Romero e ele. E pode ser aqui… Só não pode ser na casa dele, porque entra muita
gente. Onde o senhor acha melhor?
Sarney - Aqui.
Machado - É. O senhor diz a
hora, que qualquer hora ele está disponível, quando puder avisar o Romero, eu
venho também. Ele [Renan] ficou muito preocupado. O sr. viu o que o [blog do]
Camarotti botou ontem?
Sarney -Não.
Machado - Alguém que vazou,
provavelmente grande aliado dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito
que está com medo de ser preso, podia ser preso a qualquer momento.
Sarney Ele?
Machado - Ele, Renan. E o
Camarotti botou. Na semana passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou
sexta, um jornalista aí, que tem certa repercussão na área política, colocou
que o Renan tinha saído às pressas daqui com medo dessa condição, delações, e
que estavam sendo montadas quatro operações da Polícia Federal, duas no
Nordeste e duas aqui. E que o Teori estava de plantão… Desculpe, presidente,
não foi quinta não. Foi sábado ou domingo. E que o Teori estava de plantão com
toda sua equipe lá no
Ministério e que isso
significaria uma operação… Isso foi uma… operação que iria acontecer em dois
Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota um basta nisso… O Moro
falando besteira, o outro falando isso. [inaudível] ‘Renan, tu tem trinta dias que
a bola está perto de você, está quase no seu colo’. Vamos fazer uma
estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode tentar, como o Brasil
sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser
sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda tem… E um longo
processo de impeachment é uma loucura.
E ela perdeu toda… […] Como é
que a presidente, numa crise desse tamanho, a presidente está sem um ministro
da Justiça? E não tem um plano B, uma alternativa. Esse governo acabou, acabou,
acabou. Agora, se a gente não agir… Outra coisa que é importante para a gente,
e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui
também. Eles sabem que são a próxima bola da vez.
Sarney - Eles sabem que eles
não vão se safar.
Machado - E não tinham essa
consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de bandeja… Então é o
momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como a gente
sempre conseguiu, das crises. E o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor
é o que tem a melhor cabeça. Tem que construir uma solução. Michel
tem que ir para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc
etc etc.
Sarney - Nem Michel eles
queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles
queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram,
diante de certas condições.
Machado - Não tem outa
alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente: não há quem resista a
Odebrecht.
Sarney - Mas para ver como é
que o pessoal..
Machado - Tá todo mundo se
cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro
da presidente foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda
a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora.
Sarney - Mas não se movimente
nada, de fazer, nada, para não se lembrarem…
Machado - É, eu preciso ter uma
garantia
Sarney - Não pensar com aquela
coisa apress… O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é
muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]
Machado - Só isso que eu quero,
não quero outra coisa.
Sarney - Agora, não fala isso.
Machado - Vou dizer pro senhor
uma coisa. Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando
seduzir meus advogados, de eu falar. Ou se não falar, vai botar para baixo.
Essa é a ameaça, presidente. Então tem que encontrar uma… Esse cara é muito mau
caráter. E a crise, o tempo é a nosso favor.
Sarney - O tempo é a nosso
favor.
Machado - Por causa da crise,
se a gente souber administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50
pessoas, não é assim que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se
estivéssemos só nos três com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se
reunindo 50 pessoas, chamar ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é
essa que o senhor falou é isso, só tem essa,parlamentarismo. Assegurando a ela
e o Lula que não vão ser… Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo
com o Supremo, etc, e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo
mundo fazer acordo porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora,
isso tem que ser feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder… Essa
cagada do Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito.
Sarney - Muito.
Machado - Muito, muito, muito.
Porque bota mais gente, que começa a entender… O [colunista da Folha] Janio de
Freitas já está na oposição, radicalmente, já está falando até em Operação
Bandeirante. A coisa começou… O Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê.
A gente tem que aproveitar ess… Aquele negócio do crime do político [de
inação]: nós temos 30 dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30
dias, alguém vai administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias.
Ele tem sorte. Com o medo do PSDB, acabou com ele, e no colo dele, uma chance
de poder ser ator desse processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que
entrar com a inteligência que não tem. E experiência que não tem. Como é que
você faz reunião com o Lula com 50 pessoas, como é que vai querer resolver
crise, que vaza tudo…
Sarney - Eu ontem disse a um
deles que veio aqui: ‘Eu disse, Olhe, esqueçam qualquer solução convencional.
Esqueçam!’.
Machado - Não existe,
presidente.
Sarney ‘Esqueçam, esqueçam!’
Machado - Eu soube que o senhor
teve uma conversa com o Michel.
Sarney - Eu tive. Ele está
consciente disso. Pelo menos não é ele que…
Machado - Temos que fazer um
governo, presidente, de união nacional.
Sarney - Sim, tudo isso está na
cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é
que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles
falando com ele em delação premiada.
Machado - Não estão falando.
Sarney - Até falando isso para
saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização dele.
Machado - Não é valoriz… Essa
história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a
PGR] dizendo como uma oportunidade, porque ‘como não encontrou nada…’ É nessa.
Sarney - Sim, mas nós temos é
que conseguir isso. Sem meter advogado no meio.
Machado - Não, advogado não
pode participar disso, eu nem quero conversa com advogado. Eu não quero
advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa.
Sarney - Sem meter advogado,
sem meter advogado, sem meter advogado.
Machado - De jeito nenhum.
Advogado é perigoso.
Sarney - É, ele quer ganhar…
Machado - Ele quer ganhar e é
perigoso. Presidente, não são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho
que o senhor podia convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o senhor
convidava o Renan e Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o
senhor acha melhor para o senhor?
Sarney - Eu vou falar, já
liguei para o Renan, ele estava deitado.
Machado - Não, ele estava
acordado, acabei de sair de lá agora.
Sarney - Ele ligou para mim de
lá, depois que tinha acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui
Machado - Ele disse para o
senhor marcar a hora que quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa?
Sarney - Eu combino e aviso.
[…]
Machado - O Moreira [Franco]
está achando o quê?
Sarney - O Moreira também tá
achando que está tudo perdido, agora, não tem gente com densidade para…
[inaudível]
Machado - Presidente, só tem o
senhor, presidente. Que já viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais
oba oba, não pode ser mais conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado
Maior. Estado Maior analisando. E não pode ser um […] que não resolve. Você
tem que criar o núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir
espalhando e ter a soluç… Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da
oposição.
Sarney - É, nós estamos… Duas
coisas estão correndo paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa
outra que nós não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu
quero ver se eu… Se essa chave… A gente tendo…
Machado - Eu vou tentar saber,
falar com meu irmão se ele sabe quando é que ela volta.
Sarney - E veja com o advogado
a situação. A situação onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.
Machado - Baixar o processo,
são duas coisas [suspeitas]: como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada
a ver com Renan, e os 500, que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me
apartar do Renan…
Sarney - Eles quem?
Machado - O Janot e a sua
turma. E aí me botar pro Moro, que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro
objetivo.
Sarney - Aí é mais difícil,
porque se eles não encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo
para lhe mandar para o Paraná.
Machado - Ele acha que essas
duas coisas são motivo para me investigar no Paraná. Esse é o argumento. Na
verdade o que eles querem é outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao
[inaudível] para me ligar então?
Sarney - Peço. Na hora que o
Renan marcar, eu peço… Vai ser de noite.
Machado - Tá. E o Romero também
está aguardando, se o senhor achar conveniente.
Sarney - [sussurrando] Não acho
conveniente.
Machado Não? O senhor que dá o
tom.
Sarney - Não acho conveniente.
A gente não põe muita gente.
Machado - O senhor é o meu
guia.
Sarney - O Amaral Peixoto dizia
isso: ‘duas pessoas já é reunião. Três é comício’.
Machado - [rindo]
Sarney - Então três pessoas já
é comício.
Machado - Presidente, o cara
[Sérgio Moro] agora seguiu aquela estratégia, de ‘deslegitimizar’ as coisas,
agora não tem ninguém mais legítimo para falar mais nada. Pegou Renan, pegou o
Eduardo, desmoralizou o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez essa suprema…
rasgou a Constituição.
Sarney - Foi. Fez aquele
negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma maneira…
[autorizou prisão do então senador].
Machado - O Senado não podia
ter aceito aquilo, não.
Sarney - Não podia, a partir
dali ele acabou. Aquilo é uma página negra do Senado.
Machado - Porque não foi
flagrante delito. Você tem que obedecer a lei.
Sarney - Não tinha nem
inquérito!
Machado - Não tem nada. Ali foi
um fígado dos ministros. Lascaram com o
André Esteves.. Agora pergunta,
quem é que vai reagir?
[…]
Machado - O Senado deixar o
Delcídio preso por um artista.
Sarney - Uma cilada.
Machado - Cilada.
Sarney - Que botaram eles. Uma
coisa que o Senado se desmoralizou. E agora o Teori acabou de desmoralizar o
Senado porque mostrou que tem mais coragem que o Senado, manda soltar.
Machado - Presidente, ficou
muito mal. A classe política está acabada. É um salve-se quem puder. Nessa
coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo.
[…]
Sarney - Eu soube que o Lula
disse, outro dia, ele tem chorado muito. […] Ele está com os olhos inchados.
[…]
Sarney - Nesse caso, ao que eu
sei, o único em que ela está envolvida diretamente é que ela falou com o
pessoal da Odebrecht para dar para campanha do… E responsabilizar aquele
[inaudível]
Machado - Isso é muito estranho
[problemas de governo]. Presidente, você pegar um marqueteiro, dos três do
Brasil. […] Deixa aquele ministério da Justiça que é banana, só diz besteira.
Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer
assim ‘A presidente é bunda mole’. Não tem um fato positivo.
[…]
Sarney - E o Renan cometeu uma
ingenuidade. No dia que ele chegou, quem deu isso pela primeira vez foi a Délis
Ortiz. Eu cheguei lá era umas 4 horas, era um sábado, ele disse ‘já entreguei
todos os documentos para a Delis Ortiz, provando que eu… que foi dinheiro meu’.
Eu disse: ‘Renan, para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer um
negócio desse. O que isso vai te trazer de dor de cabeça’. Não
deu outra.
Machado - Renan erra muito no
varejo. Ele é bom. […] Presidente, não pode ser assim, varejista desse jeito.
[…]
Sarney - Tudo isso é o governo,
meu Deus. Esse negócio da Petrobras só os empresários que vão pagar, os
políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?
Machado - Acabou o Lula,
presidente.
Sarney - O Lula acabou, o Lula
coitado deve estar numa depressão.
Machado - Não houve nenhuma
solidariedade da parte dela.
Sarney - Nenhuma, nenhuma. E
com esse Moro perseguindo por besteira.
Machado - Tomou conta do
Brasil. O Supremo fez a pedido dele.
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