Políticos
do PMDB acertavam versões contra a Lava Jato, diz Janot.
Os
investigadores argumentam ter optado pelo pedido de prisão devido à avaliação
de que apenas o afastamento de Renan e Jucá do Senado não surtiria efeito para
impedir prejuízo às apurações da Lava Jato.
MÁRCIO FALCÃO
AGUIRRE TALENTO
DE BRASÍLIA
O pedido de prisão de
integrantes da cúpula do PMDB feito pela Procuradoria-Geral da República aponta
que eles combinavam versões de defesa e estratégias para evitar serem
alcançados com o avanço das apurações da Operação Lava Jato.
Segundo a Folha apurou, a ideia
seria costurar as defesas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e do senador Romero Jucá (PMDB-RR),
alvos dos pedidos de prisão, e impedir que o ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado colaborasse com as apurações.
Há ainda indícios de que seriam
produzidos documentos para tentar maquiar os desvios na gestão de Machado. De
acordo com o ex-presidente da Transpetro, Renan, Sarney e Jucá teriam recebido
R$ 70 milhões da subsidiária da Petrobras. O objetivo seria, se não impedir,
dificultar a ação de órgãos de controle.
A base dos pedidos de prisão são
as gravações dos peemedebistas feitas por Machado, repassadas à Procuradoria e
que começaram ser reveladas pela Folha. Também foram entregues documentos que
comprovariam movimentações financeiras. Nem todos os áudios em poder da PGR
foram divulgados.
Os investigadores argumentam ter
optado pelo pedido de prisão devido à avaliação de que apenas o afastamento de
Renan e Jucá do Senado não surtiria efeito para impedir prejuízo às apurações
da Lava Jato.
Em relação a Renan, o pedido de
afastamento da presidência do Senado foi uma alternativa colocada por Janot ao
STF (Supremo Tribunal Federal), caso a prisão não seja acolhida pela corte.
Os procuradores também
argumentam que os diálogos captados demonstram interesse do trio em mudar a
decisão do Supremo que prevê a prisão de condenados a partir da segunda
instância.
Em algumas conversas gravadas,
os envolvidos criticam ministros do tribunal por seus votos no julgamento.
Em seus depoimentos de
colaboração com a Procuradoria, Machado e seus três filhos relataram suposto
esquema de desvio de recursos e pagamento de propina da Transpetro. Eles
entregaram documentos sobre as operações, feitas via um fundo no exterior, e
uma lista com o detalhamento das empresas envolvidas com contratos fraudulentos
na subsidiária.
Os contratos de prestação de
serviços da Transpetro, de acordo com o relato de Machado, rendiam propina de
3%. Nos estaleiros, a propina ficava entre 1% e 1,5%.
Os valores seriam acertados
diretamente por Machado com os empreiteiros. Os peemedebistas receberiam os
recursos em dinheiro vivo ou por meio de doações legais de fornecedoras da
Transpetro.
Renan e Jucá já são investigados
na Lava Jato. O presidente do Senado é alvo de nove inquéritos e Jucá de dois.
A delação de Machado também cita
senadores e deputados de outros partidos que teriam recebido recursos de
fornecedoras da Transpetro. Um deles é o da deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ). A informação foi antecipada pelo "Globo" e confirmada
pela Folha.
A deputada teria pedido ajuda a
Machado para sua campanha. A reportagem não conseguiu contato com ela na noite
desta quarta (8).
OUTRO LADO
Os políticos que foram alvo do
pedido de prisão negam irregularidades e que tenham recebido propina.
Sobre a combinação de versões de
defesa e estratégias, como aponta a Procuradoria-Geral da República, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informou que a "a chance
de ter acontecido isso é zero". Renan tem afirmado que não praticou nenhum
ato que pudesse ser interpretado como tentativa de obstrução à Justiça.
O advogado Antônio Carlos de
Almeida Castro, o Kakay, que defende o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o
ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), afirmou que a versão da PGR é
"fantasiosa".
Segundo Kakay, Sarney não era
investigado na Lava Jato e não tinha preocupação com o assunto.
Sobre Jucá, o advogado afirmou
que nas conversas ele só discutia mudanças na lei, uma função parlamentar.
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