A indicada para a Secretaria de
Políticas para as mulheres, Fátima Pelaes, com Michel Temer
LEANDRO COLON
FOLHA DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
Prestes a assumir a Secretaria de
Políticas para as Mulheres, a ex-deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) é apontada em
investigação do Ministério Público Federal como integrante de uma
"articulação criminosa" para desviar R$ 4 milhões de suas emendas
parlamentares.
Um relatório da Procuradoria-Geral da
República dá mais detalhes da suspeita de envolvimento dela no esquema
desmantelado pela Operação Voucher, em 2011.
Na época, o nome de Pelaes foi citado no
escândalo ligado a uma ONG fantasma que havia celebrado convênio com o
Ministério do Turismo dois anos antes.
Sua nomeação para a Secretaria das
Mulheres, vinculada ao Ministério da Justiça, está prevista para ocorrer nos
próximos dias, mas ela já participou de reuniões no governo de Michel Temer.
O inquérito aberto em 2013 pelo STF
(Supremo Tribunal Federal) foi devolvido à Justiça Federal do Amapá no ano
passado depois que Pelaes deixou de ser deputada. As investigações estão em
andamento. Os sigilos fiscal, bancário e telefônico de Pelaes foram quebrados.
Nos autos está o pedido de abertura de
investigação feito em 30 de novembro de 2012 pelo então procurador-geral da
República, Roberto Gurgel. "Toda essa articulação criminosa contou com a
participação da deputada federal Fátima Pelaes, que constantemente se reunia
com servidores do Ministério do Turismo para agilizar a liberação das verbas do
convênio", diz o documento.
Segundo a investigação, Pelaes indicou
uma ONG fantasma chamada Ibrasi para receber R$ 4 milhões de suas emendas para
promover o turismo no Amapá. Na época, quatro depoimentos a apontaram como
beneficiária de parte do dinheiro.
Segundo a PGR, "é razoável supor
que o objeto inicial da celebração do convênio era o desvio e a apropriação dos
R$ 4 milhões". "A parlamentar [Pelaes] teria ainda escolhido as
pessoas que ministrariam os cursos oferecidos no âmbito do convênio, que
aparentemente sequer foram realizados", diz a Procuradoria.
"Tais pessoas teriam sido
selecionadas para que, caso fosse apurada a não realização dos cursos, pudessem
falsamente testemunhar afirmando terem efetivamente trabalhado", ressalta.
Questionada pela Folha, Pelaes
respondeu, por meio da assessoria: "Eu confio no trabalho da polícia e da
Justiça e estou tranquila de que tudo será esclarecido".
A Operação Voucher expediu 38 mandados
de prisão em agosto de 2011 e o caso de Pelaes foi remetido ao STF por causa do
foro privilegiado.
A investigação partiu de uma auditoria
do TCU (Tribunal de Contas da União) apontando que a ONG não tinha condições
mínimas de executar o contrato. Listas de prestadores de serviço, por exemplo,
foram "forjadas mediante a participação de empresas fantasmas".
Ações penais tramitam desde 2011 na
Justiça Federal no Amapá contra pessoas vinculadas à ONG e ao Ministério do
Turismo na época da celebração do convênio.
O inquérito sobre Fátima Pelaes poderá
se transformar em denúncia à Justiça ou ser arquivado.
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