Alvo
de inquérito por relação com ex-ministro, AP Energy recebeu valores da mesma
companhia que fez repasses a ex-presidente de estatal.
FABIO SERAPIÃO / BRASÍLIA
O ESTADO DE
S.PAULO
Duas empresas apontadas como de fachada
pelas investigações da Lava Jato ligam o ministro de Minas e Energia nos
governos Lula e Dilma, Edison Lobão (PMDB), ao ex-presidente da Eletronuclear
Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso novamente nesta quarta-feira, 7, no Rio
pela Polícia Federal, durante a Operação Pripyat.
A AP Energy, citada na delação premiada
do ex-diretor da Camargo Corrêa Luiz Carlos Martins como responsável por
repassar propina a Lobão, aparece na quebra de sigilo da Link Projetos e
Participações que, segundo o Ministério Público Federal, foi utilizada para
repassar vantagens indevidas ao ex-presidente da Eletronuclear. A delação do
ex-executivo da Camargo embasa um inquérito contra o ex-ministro aberto pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
No pedido que originou a primeira prisão
de Othon, em julho de 2015, o MPF afirmou que existiam “evidências de que a
Link Projetos e Participações foi efetivamente utilizada pela Engevix
Engenharia apenas para repassar vantagens indevidas ao investigado, não tendo
prestado quaisquer serviços”.
Na quebra de sigilo da Link, o MPF
detalha 88 transações financeiras com a AP Energy entre 2010 e 2014. No total,
as movimentações bancárias somam R$ 2,1 milhões.
Para os investigadores, tanto a Link
como a AP Energy existem apenas no papel e eram utilizadas para escoar propina.
A primeira tem como sócio o empresário Victor Sérgio Colavitti. Após a 16.ª
fase da Lava Jato, em que a empresa foi alvo, Colavitti assinou um acordo de
delação premiada e assumiu ter firmado contratos fictícios com a Engevix com o
objetivo de mascarar os repasses para a Aratec Consultoria, em nome da filha e
do genro de Othon.
Ele declarou ter pago R$ 765 mil para a
Aratec no mesmo período em que foram identificadas as movimentações
relacionadas à AP Energy.
A empresa de Colavitti integra um núcleo
formado por ao menos outras três companhias suspeitas de firmar contratos
fictícios com empreiteiras. A finalidade destes contratos, segundo afirmam os
procuradores, seria “esquentar” a propina endereçada a agentes públicos.
Ex-ministro
Além da delação sobre a propina
destinada à Lobão via AP Energy, outros depoimentos reunidos pela Lava Jato
apontam para atuação do ex-ministro em desvios em obras do setor elétrico.
Entre eles está a delação de Flávio Barra, ex-executivo da Andrade Gutierrez,
que relatou pedido do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, “em nome de Lobão”,
para que empresários doassem ao PMDB. O pedido, disse o delator, ocorreu
durante reunião de empreiteiros sobre as obras de Angra 3.
Defesas
O advogado de Colavitti não respondeu ao
contatos da reportagem. O advogado de Edison Lobão, Antônio Carlos de Almeida
Castro, o Kakay, disse que as delações citadas são genéricas e desprovidas de
sentido. Sobre a AP Energy, o advogado informou que Lobão “sequer conhece a
empresa”. O Estado não encontrou os sócios da AP Energy nos telefones em nome
da empresa.
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