POR FERNANDO BRITO
Ontem, antes da revelação pela manchete
de O Globo, de que a renúncia de Eduardo Cunha era o resultado de um acordo com
Michel Temer, tinha começado a escrever um post dizendo que nada que viesse dos
dois merecia credibilidade.
São, afinal, dois personagens que
escalaram a política pelo caminho da sombra e, a esta altura, não podem mais
fazer nada à luz do dia.
No essencial, são semelhantes e, em
muito, siameses.
A ascensão de Cunha, do anonimato à
liderança do PMDB e, daí, à presidência da Câmara, deu-se sob as bênçãos de
Temer, presidente do PMDB.
A ascensão de Temer, em compensação, foi
patrocinada e operada por Eduardo Cunha, aboletado sobre o poleiro sujo do
comando da Casa.
Embora, hoje, as curvas dos dois sigam
tendências inversas, não desapareceram os liames que os unem.
Cunha, o “foguete” de 2015 – enquanto
Temer era o “vice decorativo”, sua autodefinição – está em inevitável queda.
Temer, o novo velho da política brasileira,
prepara-se para subir ao pódio presidencial sem ter disputado a prova.
Mas segue o dilema.
Cunha quer que Temer faça por ele; Temer
assusta-se com o que Cunha pode fazer com ele.
Engana-se quem acreditar que Temer
precisa de Cunha para definir quem presidirá a Câmara, disputa na qual a
influência de Cunha tornou-se, na prática, minúscula.
Cunha é o rei morto, Temer, o rei posto.
O que há é um claro – embora jamais
verbalizado em público – é um jogo de chantagens e dissimulações, um verdadeiro
xadrez, como tem sido a feliz expressão do Luís Nassif.
O tabuleiro sobre a mesa é nada, os
pisões, chutes e pontapés abaixo dela são quase tudo.
E o jogo jogado é o da traição. Neste,
Temer é um craque e Cunha, mais cedo ou mais tarde, o desafiante.
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