Delação
do ex-vice da Caixa atinge em cheio presidente afastado da Câmara
POR FABIO FABRINI E FÁBIO
SERAPIÃO
O Estado de São Paulo
A delação ponto a ponto,
conforme relato de fonte com acesso às investigações ao Estado:
Como
Fábio Cleto conheceu Cunha e Funaro:
Fábio Cleto trabalhou no Itaú,
deixou o banco e montou seu próprio negócio, um fundo de investimentos.
Conheceu no mercado Lúcio Bolonha Funaro, que o convidou para ocupar uma sala
do escritório dele, em São Paulo. Ali montou uma “mesa de operações
financeiras”. Funaro o apresentou a Eduardo Cunha
Como
Fábio Cleto chegou à Vice-Presidência da Caixa:
Em 2011, Funaro, via Eduardo
Cunha, o indicou para o cargo na Caixa. Quem mandou o currículo do delator para
Eduardo Cunha foi Funaro. Dois dias depois da nomeação, Funaro o fez assinar
uma “carta de renúncia”. Assim, a qualquer momento, Cleto poderia ser destituído
do cargo, dependendo da vontade de Eduardo Cunha.
Como
as propinas eram definidas:
Toda terça-feira, às 7h30, Fábio
Cleto era recebido por Cunha em Brasília. Primeiro, esses encontros ocorriam em
um apartamento funcional do deputado; depois passaram a ocorrer na residência
da Presidência da Câmara. Nesses reuniões, Cleto levava a Cunha, a pedido do
deputado, as informações pormenorizadas com nomes de empresas que buscavam o
FI-FGTS para pedir parcerias e incentivos financeiros para tocar seus projetos
milionários. Segundo o delator, ao tomar conhecimento dos valores dos projetos,
Cunha dizia, conforme o relato de fonte com acesso às investigações: “Esse aqui
interessa, trabalhe para aprovar. “Quando não interessava, Cunha dizia: “Esse
não interessa, vamos melar isso. Se é bom pro PT, não interessa”. Cleto apontou
seu motorista, funcionário da Caixa, como testemunha das idas à residência de
Cunha.
Como
foram os pagamentos:
Fábio Cleto indicou 12 operações
milionárias com grupos empresariais que buscaram recursos do FI-FGTS. Ele
afirma que não recebeu propina diretamente das empresas. Essa tarefa cabia a
Cunha e Funaro, conforme relatou.
Cleto afirma que não pedia nada
para as empresas, não tinha contato com elas. Sua função, disse, era
eminentemente técnica, de um “profissional de mercado”. “Nunca pedi propina
para ninguém, era sempre Eduardo Cunha ou o Funaro. Sabia pelo Eduardo Cunha o
montante (da propina)”, afirmou, conforme fonte com acesso às investigações
Os
porcentuais
Segundo Cleto, Cunha dizia que
exigia 1% do valor de cada projeto: 80% desse montante ficava com Eduardo
Cunha. Cleto recebia quantias menores que eram depositadas em uma conta sua na
Suíça. Os depósitos eram realizados pela Carioca Engenharia. No acordo de
delação que fechou, o colaborador se comprometeu a pagar R$ 5 milhões a título
de multa.
Os
citados
Cleto não apontou nome de nenhum
outro político. Só falou de Eduardo Cunha. Afirmou que conheceu o ex-ministro
do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em uma “ocasião social”, mas n]ao
o envolveu em negócios ilícitos.
As
provas apresentadas
Fábio Cleto entregou seus votos
nas reuniões do FI/FGTS como prova. Os votos de Cleto foram requisitados pela
Procuradoria-Geral da República à Caixa, mas ele próprio se antecipou e
entregou a documentação aos investigadores. Depois que a Lava Jato analisou o
conteúdo dos votos, Cleto fez inúmeros depoimentos na PGR, todos filmados,
gravados e registrados formalmente. Cleto entregou, ainda, uma planilha de
“prestação de contas” produzida por Funaro.
Os
casos citados
1) Empresa Lanza Linhas Amarelas
do Metrô S/A. Captou R$ 386,7 milhões do FI-FGTS. A operação foi aprovada em
abril de 2012 com a concessionária Metrô/Rio, da Invepar, na qual a OAS tem
participação. Eduardo Cunha, segundo Cleto, pediu sua ajuda nessa operação.
“Sei que Eduardo Cunha tem um ótimo relacionamento com Léo Pinheiro”, disse
Cleto, segundo o relato de fonte com acesso às investigações. Nesse caso, Cunha
disse a Cleto que ficou com 0,30% do montante como propina. Cleto diz que
recebeu R$ 46,5 mil. O dinheiro foi depositado em sua conta no exterior pela
Carioca Engenharia.
2)
SANEATINS
Houve uma operação de
participação acionária do FI/FGTS, no valor de R$ 90,5 milhões, aprovada em
2011. A Saneatins é uma parceria do Governo de Tocantins com a Odebrecht
Ambiental. Cunha pediu “apoio” para Cleto votar pela aprovação do projeto.
Cleto atendeu. Cunha disse que ficou com 1% de propina, segundo o delator. Para
Cleto, foram pagos R$ 36 mil.
3)
OAS
Houve captação de R$ 250 milhões
para projetos como a concessão da Rodovia Raposo Tavares, da qual a OAS é
concessionária. Cleto avisou Cunha sobre o “desembolso” da operação. Cunha
disse, segundo o delator, que ficaria com 1% do valor. Cleto recebeu R$ 100
mil, sempre pagos no exterior.
4)
ELDORADO
Funaro fez uma “apresentação
pessoal”, de Cleto, ao controlador da Eldorado, Joesley Batista. “Conheci
Joesley num jantar na casa do Lúcio”, relatou, conforme c=fonte com acesso às
investigações.
O negócio com ao FI FGTS
envolveu captação de recursos feita pela ELDORADO. O valor era de R$ 1,8 bilhão
para obras de saneamento, logística e energia em fábrica no Mato Grosso. O
valor foi reduzido para R$ 840 milhões, depois subiu para R$ 940 milhões.
Cleto diz ter recebido R$ 940
mil. Cunha teria ficado com 1%, do montante, o que equivale a R$ 9,4 milhões,
mas o delator supõe que o deputado recebia porcentual superior. Cunha
“estipulava, anunciava” o valor que caberia a Cleto.
5)
BRADO LOGÍSTICA
A empresa, da América Latina
Logística (ALL), requereu participação acionária do FI/FGTS em um projeto
orçado em R$ 400 milhões, que foi aprovado no início de 2013. Segundo ele,
Eduardo Cunha lhe pediu que aprovasse o projeto.
Cleto diz ter sido informado de
que a propina para Cunha foi de 0,5% por cento sobre o montante da operação.
Cleto recebeu R$ 80 mil.
6)
BR VIAS
Também teria ocorrido negociação
ilícita para aporte do FI-FGTS na Via Rondon, da BR Vias.
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