Rádio Voz do Maranhão

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Um tiro no coração de Eduardo Cunha

Delação do ex-vice da Caixa atinge em cheio presidente afastado da Câmara
POR FABIO FABRINI E FÁBIO SERAPIÃO
O Estado de São Paulo

A delação ponto a ponto, conforme relato de fonte com acesso às investigações ao Estado:

Como Fábio Cleto conheceu Cunha e Funaro:

Fábio Cleto trabalhou no Itaú, deixou o banco e montou seu próprio negócio, um fundo de investimentos. Conheceu no mercado Lúcio Bolonha Funaro, que o convidou para ocupar uma sala do escritório dele, em São Paulo. Ali montou uma “mesa de operações financeiras”. Funaro o apresentou a Eduardo Cunha

Como Fábio Cleto chegou à Vice-Presidência da Caixa:

Em 2011, Funaro, via Eduardo Cunha, o indicou para o cargo na Caixa. Quem mandou o currículo do delator para Eduardo Cunha foi Funaro. Dois dias depois da nomeação, Funaro o fez assinar uma “carta de renúncia”. Assim, a qualquer momento, Cleto poderia ser destituído do cargo, dependendo da vontade de Eduardo Cunha.

Como as propinas eram definidas:

Toda terça-feira, às 7h30, Fábio Cleto era recebido por Cunha em Brasília. Primeiro, esses encontros ocorriam em um apartamento funcional do deputado; depois passaram a ocorrer na residência da Presidência da Câmara. Nesses reuniões, Cleto levava a Cunha, a pedido do deputado, as informações pormenorizadas com nomes de empresas que buscavam o FI-FGTS para pedir parcerias e incentivos financeiros para tocar seus projetos milionários. Segundo o delator, ao tomar conhecimento dos valores dos projetos, Cunha dizia, conforme o relato de fonte com acesso às investigações: “Esse aqui interessa, trabalhe para aprovar. “Quando não interessava, Cunha dizia: “Esse não interessa, vamos melar isso. Se é bom pro PT, não interessa”. Cleto apontou seu motorista, funcionário da Caixa, como testemunha das idas à residência de Cunha.

Como foram os pagamentos:

Fábio Cleto indicou 12 operações milionárias com grupos empresariais que buscaram recursos do FI-FGTS. Ele afirma que não recebeu propina diretamente das empresas. Essa tarefa cabia a Cunha e Funaro, conforme relatou.

Cleto afirma que não pedia nada para as empresas, não tinha contato com elas. Sua função, disse, era eminentemente técnica, de um “profissional de mercado”. “Nunca pedi propina para ninguém, era sempre Eduardo Cunha ou o Funaro. Sabia pelo Eduardo Cunha o montante (da propina)”, afirmou, conforme fonte com acesso às investigações

Os porcentuais

Segundo Cleto, Cunha dizia que exigia 1% do valor de cada projeto: 80% desse montante ficava com Eduardo Cunha. Cleto recebia quantias menores que eram depositadas em uma conta sua na Suíça. Os depósitos eram realizados pela Carioca Engenharia. No acordo de delação que fechou, o colaborador se comprometeu a pagar R$ 5 milhões a título de multa.

Os citados

Cleto não apontou nome de nenhum outro político. Só falou de Eduardo Cunha. Afirmou que conheceu o ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em uma “ocasião social”, mas n]ao o envolveu em negócios ilícitos.

As provas apresentadas

Fábio Cleto entregou seus votos nas reuniões do FI/FGTS como prova. Os votos de Cleto foram requisitados pela Procuradoria-Geral da República à Caixa, mas ele próprio se antecipou e entregou a documentação aos investigadores. Depois que a Lava Jato analisou o conteúdo dos votos, Cleto fez inúmeros depoimentos na PGR, todos filmados, gravados e registrados formalmente. Cleto entregou, ainda, uma planilha de “prestação de contas” produzida por Funaro.

Os casos citados

1) Empresa Lanza Linhas Amarelas do Metrô S/A. Captou R$ 386,7 milhões do FI-FGTS. A operação foi aprovada em abril de 2012 com a concessionária Metrô/Rio, da Invepar, na qual a OAS tem participação. Eduardo Cunha, segundo Cleto, pediu sua ajuda nessa operação. “Sei que Eduardo Cunha tem um ótimo relacionamento com Léo Pinheiro”, disse Cleto, segundo o relato de fonte com acesso às investigações. Nesse caso, Cunha disse a Cleto que ficou com 0,30% do montante como propina. Cleto diz que recebeu R$ 46,5 mil. O dinheiro foi depositado em sua conta no exterior pela Carioca Engenharia.

2) SANEATINS

Houve uma operação de participação acionária do FI/FGTS, no valor de R$ 90,5 milhões, aprovada em 2011. A Saneatins é uma parceria do Governo de Tocantins com a Odebrecht Ambiental. Cunha pediu “apoio” para Cleto votar pela aprovação do projeto. Cleto atendeu. Cunha disse que ficou com 1% de propina, segundo o delator. Para Cleto, foram pagos R$ 36 mil.

3) OAS

Houve captação de R$ 250 milhões para projetos como a concessão da Rodovia Raposo Tavares, da qual a OAS é concessionária. Cleto avisou Cunha sobre o “desembolso” da operação. Cunha disse, segundo o delator, que ficaria com 1% do valor. Cleto recebeu R$ 100 mil, sempre pagos no exterior.

4) ELDORADO

Funaro fez uma “apresentação pessoal”, de Cleto, ao controlador da Eldorado, Joesley Batista. “Conheci Joesley num jantar na casa do Lúcio”, relatou, conforme c=fonte com acesso às investigações.

O negócio com ao FI FGTS envolveu captação de recursos feita pela ELDORADO. O valor era de R$ 1,8 bilhão para obras de saneamento, logística e energia em fábrica no Mato Grosso. O valor foi reduzido para R$ 840 milhões, depois subiu para R$ 940 milhões.

Cleto diz ter recebido R$ 940 mil. Cunha teria ficado com 1%, do montante, o que equivale a R$ 9,4 milhões, mas o delator supõe que o deputado recebia porcentual superior. Cunha “estipulava, anunciava” o valor que caberia a Cleto.

5) BRADO LOGÍSTICA

A empresa, da América Latina Logística (ALL), requereu participação acionária do FI/FGTS em um projeto orçado em R$ 400 milhões, que foi aprovado no início de 2013. Segundo ele, Eduardo Cunha lhe pediu que aprovasse o projeto.
Cleto diz ter sido informado de que a propina para Cunha foi de 0,5% por cento sobre o montante da operação. Cleto recebeu R$ 80 mil.

6) BR VIAS


Também teria ocorrido negociação ilícita para aporte do FI-FGTS na Via Rondon, da BR Vias.

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