Segundo informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a empreiteira doou em 2010 R$ 2,4 milhões para o Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República de Serra (R$ 3,6 milhões em valores corrigidos).
Dessa maneira, a campanha do tucano teria recebido, apenas do grupo baiano, R$ 25,4 milhões, sendo R$ 23 milhões "por fora".
BELA MEGALE
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
Executivos da Odebrecht
afirmaram aos investigadores da Operação Lava Jato que a campanha do hoje
ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), à Presidência da
República, em 2010, recebeu R$ 23 milhões da empreiteira via caixa dois.
Corrigido pela inflação do
período, o valor atualmente equivale a R$ 34,5 milhões.
A afirmação foi feita a
procuradores da força-tarefa da operação e da PGR (Procuradoria-Geral da
República) na semana passada por funcionários da empresa que tentam um acordo
de delação premiada, conforme antecipou a colunista Mônica Bergamo.
Durante a reunião, realizada na
sede da Polícia Federal em Curitiba, os executivos disseram que parte do
dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi paga por meio de depósitos
bancários realizados em contas no exterior.
As conversas fazem parte de
entrevistas em que os possíveis delatores da Lava Jato corroboram informações
apresentadas pelos advogados na negociação da delação premiada.
O acordo, entretanto, ainda não
foi assinado.
Para comprovar que houve o
pagamento por meio de caixa dois, a Odebrecht vai apresentar extratos bancários
de depósitos realizados fora do país que tinham como destinatária final a
campanha presidencial do então candidato.
Segundo informações do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral), a empreiteira doou em 2010 R$ 2,4 milhões para o
Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República de Serra (R$ 3,6
milhões em valores corrigidos).
Dessa maneira, a campanha do tucano
teria recebido, apenas do grupo baiano, R$ 25,4 milhões, sendo R$ 23 milhões
"por fora".
Segundo os depoimentos de
executivos da Odebrecht, a negociação para o repasse à campanha de Serra se deu
com a direção nacional do PSDB à época, que depois distribuiu parte do dinheiro
entre outras candidaturas.
DELAÇÃO
Os envolvidos nas negociações
consideram o tema um dos principais anexos que integram a pré-delação da
empresa. É primeira vez que o tucano aparece envolvido em esquemas de corrupção
por potenciais colaboradores da operação que investiga desvios na Petrobras.
Em conversas futuras com os
procuradores, os executivos também pretendem revelar que o ministro das
Relações Exteriores era tratado pelos apelidos de "Vizinho" e
"Careca" em documentos da empreiteira.
ACARAJÉ
O nome do tucano foi um dos que
apareceram na lista de políticos encontrada na casa do presidente da Odebrecht
Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, durante a 23ª fase da Lava
Jato, a Acarajé, em fevereiro.
A Folha também apurou que
funcionários da companhia relatarão que houve propina paga a intermediários de
Serra no período em que ele foi governador de São Paulo (de 2007 a 2010)
vinculados à construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas.
O trecho em questão teve
construção iniciada no primeiro ano da gestão do tucano e foi orçado em R$ 3,6
bilhões na época.
Na última quinta-feira (4), o
ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, falou pela primeira vez aos
procuradores que investigam o petrolão. Ele está preso há mais de um ano na
Lava Jato.
A reunião, realizada com nove
procuradores e cinco advogados na superintendência da Polícia Federal de
Curitiba, onde Marcelo está preso, começou por volta das 10h e terminou quase
sete horas depois.
Ao longo da conversa, o
executivo foi cobrado pelos investigadores a falar de maneira "explícita"
dos atos de corrupção, "sem rodeios".
O ex-presidente do grupo vinha
se preparando havia meses para esse dia, com reuniões semanais com advogados.
Na véspera da oitiva, ele recebeu as visitas da mulher, Isabela, e das três
filhas para lhe dar apoio.
'LIÇÃO DE CASA'
Além de Marcelo Odebrecht, cerca
de 30 executivos da empreiteira deram depoimentos em Curitiba.
As oitivas foram duras. Alguns
executivos chegaram a ser chamados de mentirosos pelos investigadores. Parte
foi ordenada a fazer a "lição de casa", trazendo mais informações
sobre casos que interessam aos procuradores.
OUTRO LADO
O ministro das relações
exteriores, José Serra (PSDB-SP), afirmou, por meio de nota enviada por sua
assessoria de imprensa, que a campanha dele durante a disputa a Presidência da
República em 2010 foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor.
O tucano disse também que as
finanças de sua disputa pelo Palácio do Planalto eram de responsabilidade do
partido, o PSDB.
Ainda em nota, José Serra
reiterou que ninguém foi autorizado a falar em seu nome.
"A minha campanha foi
conduzida na forma da lei e, no que diz respeito às finanças, era de
responsabilidade do partido", afirmou.
Segundo a prestação de contas da
campanha tucana no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o Comitê Financeiro
Nacional para Presidente da República, do PSDB, declarou ter recebido R$ 2,4
milhões da empreiteira na disputa de 2010.
Sobre o suposto pagamento de
propina a intermediários do tucano quando ele foi governador do Estado de São
Paulo, entre 2007 e 2010, e que teriam relação com a construção do trecho sul
do Rodoanel, o ministro disse que considera "absurda a acusação".
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