Queiroz Galvão é suspeita
de pagamento sistemático de propina, segundo força-tarefa da Lava Jato
Ricardo Brandt, Fábio Serapião,
Fausto Macedo,
Julia Affonso, Mateus Coutinho
e Constança Rezende/RIO
A Polícia Federal deflagrou
nesta terça-feira, 2, a Operação Resta Um, etapa 33 da Lava Jato. Cerca de 150
policiais cumprem 32 mandados. O alvo é a construtora Queiroz Galvão, suspeita
de ter pago R$ 10 milhões ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, que morreu em
2014. Os executivos ligados à construtora Ildefonso Colares e Othon Zanoide
foram presos.
O engenheiro Ildefonso Colares
Filho chegou na sede da Polícia Federal do Rio, na zona portuária, por volta
das 10h30.
São 23 mandados de busca e
apreensão, 2 de prisão preventiva, 1 de prisão temporária e 5 de condução
coercitiva em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás,
Pernambuco e Minas Gerais.
Os executivos da Queiroz Galvão
são investigados, segundo a PF, ‘pela prática sistemática de pagamentos
indevidos a diretores e funcionários da Petrobrás’.
Na 33.ª fase da Operação da Lava
Jato, são cumpridos pela Polícia Federal mandados com a finalidade de obter
provas adicionais de crimes de organização criminosa, cartel, fraudes licitatórias,
corrupção e lavagem de dinheiro, relacionados a contratos firmados pela
empreiteira Queiroz Galvão com a Petrobrás. Os alvos são dirigentes e
funcionários da Queiroz Galvão e do consórcio Quip S/A, do qual a empreiteira
mencionada era acionista líder.
As investigações indicam que a
Queiroz Galvão formou, com outras empresas, um cartel de empreiteiras que
participou ativamente de ajustes para fraudar licitações da Petrobras. Esse
cartel maximizou os lucros das empresas privadas e gerou prejuízos bilionários
para a estatal. Além dos ajustes e fraude a licitações, as evidências colhidas
nas investigações revelam que houve corrupção, com o pagamento de propina a
funcionários da Petrobras.
Segundo a Lava Jato, executivos
da Queiroz Galvão pagaram valores indevidos em favor de altos funcionários das
diretorias de Serviços e de Abastecimento. Em sua parte já rastreada e
comprovada, as propinas se aproximam da cifra de R$ 10 milhões. Esses crimes
estão comprovados por farta prova documental que corroborou o depoimento de,
pelo menos, cinco colaboradores, sendo três deles dirigentes de empreiteiras.
Para além disso, a investigação
também objetiva se aprofundar sobre os fortes indícios existentes de que
milhões de dólares em propinas foram transferidos em operações feitas por meio
de contas secretas no exterior. As evidências apontam que os pagamentos foram
feitos tanto pela Queiroz Galvão quanto pelo consórcio Quip. A hipótese tem por
base depoimentos de colaboradores e comprovantes de repasses milionários feitos
pelo trust Quadris, vinculado ao Quip, para diversas contas, favorecendo
funcionários da Petrobras.
Por fim, as medidas deflagradas
buscam colher provas adicionais do delito de obstrução à investigação de
organização criminosa pela então realizada Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Petrobras, em 2009. Há indícios, que incluem a palavra de
colaboradores e um vídeo, de que 10 milhões de reais em propina foram pagos
pela Queiroz Galvão com o objetivo de evitar que as apurações da CPI tivessem
sucesso em descobrir os crimes que já haviam sido praticados até então.
A procuradora da República
Jerusa Viecili destacou a importância para a investigação dos acordos de
colaboração e de leniência firmados pelo Ministério Público, “pois iluminam o
caminho a percorrer para a obtenção de provas, quando não são acompanhados já
pela apresentação de evidências consistentes dos crimes praticados”. Afirmou
ainda que chama a atenção “a ousadia da empresa investigada, traduzida pela
atuação profissional e sofisticada no pagamento de propinas em contratos
públicos durante longo período de tempo, mediante a utilização de expedientes
complexos de lavagem de dinheiro, inclusive no exterior”.
O Grupo Queiroz Galvão foi
identificado, durante a Lava Jato, como o terceiro com maior volume de
contratos celebrados com a Petrobras, alcançando um total superior a R$ 20
bilhões. O histórico de envolvimento do grupo com grandes esquemas de corrupção
não é inédito, já figurado nas operações Monte Carlo, Castelo de Areia e
Navalha, e tendo sido as duas últimas anuladas nos tribunais superiores.
Segundo o procurador Diogo Castor, a banalização das anulações de provas
representa um alento para os criminosos que já tiveram participação em esquemas
criminosos provados. “Infelizmente se essas operações tivessem um mínimo de
efetividade, talvez a Lava Jato nem precisasse existir” assinalou.
Já o coordenador da força-tarefa
Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, ressaltou a gravidade da obstrução dos
trabalhos de apuração de 2009, porque “a investigação da CPI era como um
guardião da Petrobras. As evidências indicam que o ladrão roubou a casa e, em
seguida, matou o vigia”. Sublinhou, ainda, na mesma linha de Castor que “a
corrupção que colhemos é fruto da impunidade dos crimes passados. Esses crimes
investigados hoje são filhos de um sistema de justiça criminal disfuncional, o
qual falhou em punir casos pretéritos em que as mesmas empresas da Lava Jato
eram investigadas” Para o procurador, “sairemos da Lava Jato sem aprender a
lição se não aprovarmos reformas nesse sistema, como as 10 medidas contra a
corrupção”.
“Precisamos disso para que os
crimes sejam alcançados pela ação da Justiça como regra, e não como exceção”,
completou o procurador.
GOIÁS
• 02 mandados de busca em
Goiânia
• 02 mandados de condução
coercitiva em Goiânia
MINAS GERAIS
• 02 mandados de busca em Belo
Horizonte
• 01 mandado de busca em Santa
Rosa da Serra
• 02 mandados de condução
coercitiva em Belo Horizonte
PERNAMBUCO
• 01 mandado de busca em Recife
• 01 mandado de condução coercitiva
em Recife
RIO
GRANDE DO SUL
• 02 mandados de busca em Rio
Grande
SÃO
PAULO
• 02 mandados de busca em São
Paulo
• 01 mandado de busca em Barueri
RIO
DE JANEIRO
• 11 mandados de busca no Rio de
Janeiro
• 01 mandado de busca em Angra
dos Reis
• 02 mandados de prisão
preventiva no Rio de Janeiro
• 01 mandado de prisão
temporária no Rio de Janeiro
• 01 mandado de condução
coercitiva no Rio de Janeiro
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