Rádio Voz do Maranhão

sábado, 21 de janeiro de 2017

O PT e seu subsolo: uma opinião sobre o apoio de petistas a golpistas na Câmara e no Senado


*Jorge Branco

Em seu Romance "Memórias do Subsolo" Fiódor Dostoiévski fala de um homem atormentado por sua consciência, corrompido por si mesmo. O personagem se vê tão fechado em si mesmo que mal consegue se encontrar.

Pois esta é a sensação que tenho ao analisar a decisão do Diretório Nacional do PT, no dia de ontem, o qual autorizou suas bancadas parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado Federal a constituir acordos e apoios à candidaturas golpistas, como a as que se apresentam como favoritas nestas escolhas interpares.

O PT, ontem, tal como o personagem de Dostoiévskié, é incapaz de sair do subsolo onde se enclausurou. Mergulhou tão profundo no modelo da democracia liberal brasileira que não consegue mais distinguir-se dela. Confunde o jogo parlamentar com a luta democrática, encarcerou a segunda na primeira. Reduziu o conceito substantivo de democracia ao modelo realmente existente de democracia no Brasil. Considera que ficar fora das 'mesas" do Congresso é excluir-se da política.

O PT abdicou de dirigir-se à sociedade, campo real da luta política, para buscar a sobrevivência. Grave equívoco, a sobrevivência do PT como partido de esquerda e antiliberal só será possível se reconstituir-se do ponto de vista programático e simbólico. Contrário a isto, o símbolo que emerge desta decisão é o de partido subalterno à ordem neoliberal, expressão de quem não que sair do escuro de subsolo.

O PT, ao contrário, deve dirigir-se aos setores que resistem às reformas ultraliberais e ao golpe e dizer que há alternativa política para a resistência. Precisa demostrar que é um pólo alternativo ao neoliberalismo. Neste momento extraordinário da luta política, onde ela se radicalizou ao ponto de um golpe que derrubou uma presidenta eleita, o PT precisa dizer que defende a democracia e não colabora com a estabilização do golpe.

As bancadas do PT devem construir anticandidaturas de resistência no Congresso e falar para a sociedade: "neste país, há um partido que luta pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores".

Nenhum apoio à golpistas.


*Jorge Branco é membro do Diretório Nacional do PT.

Um comentário:

  1. De há muito o PT abdicou da tarefa de construir uma democfracia de verdade no nosso país. Tornou-se um partido da ordem, na melhor das hipóteses, nas paçlavras de Florestan Fernandes. Confunde - não inocentemente - a escolha de representantes com a própria democracia. Aceitou de vez o que se chama de governo dos políticos. Quer participar, enfim, do jogo parlamentar sem sequer contestar suas regras. Aceitou o mandatário como mandante e quer tornar-se um deles. De há muito deixou de representar a esperança daqueles que almejam uma democracia de verdade. Perdeu o bonde da hisória. Lastimável.

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