Depoimentos dizem que Marcos Pereira, titular da Indústria, negociou
repasse do caixa 2 da empreiteira em troca de apoio do partido à reeleição da
chapa Dilma-Temer
David Friedlander e Andreza Matais ,
O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços,
Marcos Pereira, negociou um repasse de R$ 7 milhões do caixa 2 da Odebrecht
para o PRB na campanha de 2014, segundo depoimento que integra a delação da
empreiteira na Lava Jato. Os recursos, entregues em dinheiro vivo, compraram
apoio do partido então presidido por Pereira à campanha de reeleição de Dilma
Rousseff, que tinha Michel Temer como vice.
O dinheiro dado ao PRB fazia parte de um pacote maior, que envolvia
também o apoio de PROS, PCdoB, PP e PDT à chapa governista. Ao todo, a
Odebrecht colocou cerca de R$ 30 milhões na operação, como o Estado revelou em
dezembro. O acordo é descrito, com diferentes pedaços da história, nas delações
de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e dono da empreiteira, e dos executivos
Alexandrino Alencar e Fernando Cunha.
Sexto ministro de Temer citado na Lava Jato, na época Pereira tratou
pessoalmente do assunto com Alexandrino, um dos 77 executivos da Odebrecht que
fizeram acordo de delação já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De
acordo com as delações, Pereira esteve mais de uma vez na sede da Odebrecht em
São Paulo para combinar como e a quem o dinheiro, entregue em parcelas, deveria
ser repassado.
O ministro rebate as afirmações dos delatores. “Eu desconheço essa
operação. Comigo não foi tratado nada disso”, disse. “Delação não é prova.”
Presidente licenciado do PRB, Marcos Pereira é homem forte no partido
fundado por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus após o escândalo
do mensalão. Ao Estado, ele contou que ajudava a arrecadar recursos para
campanhas do seu partido, que tem 23 deputados, um senador e comanda a
prefeitura do Rio, com Marcelo Crivella. A pasta da Indústria, embora tenha
perdido poderes com Temer, continua sendo uma das mais relevantes do governo.
TV
O apoio do PRB e dos outros quatro partidos garantiu à chapa
Dilma-Temer 2 minutos e 39 segundos a mais na propaganda eleitoral de televisão
– totalizando mais de 11 minutos, ante apenas 6 minutos de Aécio Neves, o
candidato do PSDB. O PRB recebeu R$ 7 milhões em troca de 20 segundos por dia
de campanha.
Segundo os relatos dos executivos da Odebrecht, a empreiteira agiu a pedido
de Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma e hoje prefeito de
Araraquara (SP), realizado num encontro com Marcelo e Alexandrino em São Paulo.
Feito o acerto, de acordo com os depoimentos, Alexandrino ficou
encarregado de fazer com que PCdoB, PROS e PRB recebessem R$ 7 milhões cada um
do departamento de propinas da Odebrecht. Fernando Cunha mandou R$ 4 milhões
para o PDT. O Estado não conseguiu confirmar como foi a negociação com o PP.
Edinho Silva nega o acerto com a Odebrecht. “Não participei de
tratativas com os partidos na época das composições. Eu ainda não era
coordenador financeiro”, afirmou. Procurada, a Odebrecht informou que não iria
se manifestar.
Os relatos de que houve compra de apoio partidário para a campanha
Dilma-Temer poderão ser analisados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no
processo que investiga abuso de poder político e econômico na campanha. O
Estado apurou que o relator, ministro Herman Benjamin, decide nesta semana se
vai requisitar os depoimentos, que estão na Procuradoria-Geral da República.
Outras
Citações
Eliseu
Padilha (PMDB) - Casa Civil
Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, apontou Padilha como
preposto de Michel Temer e do PMDB para receber valores, via caixa 2. Padilha
negou ter arrecadado para o partido. Temer repudiou as declarações.
Moreira
Franco (PMDB) - Secretaria-Geral da Presidência
Melo Filho citou tratativas com o ministro na área de aeroportos. Outro
ex-executivo da Odebrecht, Paulo Cesena, também citou Moreira. O ministro disse
que, como titular da Aviação Civil, sempre atuou “de acordo com as leis”.
José Serra
(PSDB) - Relações Exteriores
Pedro Novis e Carlos Armando Paschoal, executivos da Odebrecht,
relataram repasse de R$ 23 milhões, via caixa 2, à campanha presidencial de
Serra em 2010. O chanceler negou irregularidades.
Gilberto
Kassab (PSD) - Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
Paulo Cesena, da Odebrecht, mencionou doações de R$ 14 milhões para o
ministro, em 2013 e 2014. Kassab afirmou que as doações recebidas foram legais.
Bruno Araújo
(PSDB) - Cidades
Cláudio Melo Filho disse que mantinha “boa relação profissional e
pessoal” com o então deputado, com quem tratou de temas como “política na
Bahia” e “renovação dos contratos de energia no Nordeste”. Araújo disse que valores
recebidos da empreiteira foram declarados à Justiça.
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