Ministro da Casa Civil vai operar a
próstata
Carla Araújo, Naira Trindade e Vera
Rosa, de Brasília, e Fausto Macedo
O Estado de São Paulo
O ministro da Casa Civil Eliseu Padilha
(PMDB) pediu licença do governo para operar a próstata “possivelmente” neste
final de semana ou na segunda-feira de carnaval, em Porto Alegre (RS). Nesta
quinta-feira, 23, o ministro fez exames preparatórios para o procedimento.
A assessoria do ministro afirma que ele
está “licença médica informal” desde a última quarta-feira, quando avisou ao
presidente Michel Temer que aproveitaria o feriado do carnaval para cuidar de
sua saúde. No início da semana, Padilha foi internado no Hospital de Guarnição
do Exército, em Brasília, com um quadro de obstrução urinária, provocada por
uma hiperplasia prostática benigna. Na quarta, quando recebeu alta, o ministro
passou pelo Palácio do Planalto para a conversa com o presidente e o informou
da decisão, e seguiu para Porto Alegre.
A previsão, de acordo com sua
assessoria, é que o ministro retome os trabalhos no dia 6 de março. Na sua
ausência, o secretário-executivo da pasta, Daniel Sigelmann, está despachando.
‘Mula’. O nome do ministro licenciado
foi citado ontem pelo ex-assessor da Presidência José Yunes, que afirmou que
atuou como “mula involuntária” de Padilha ao receber um pacote no seu
escritório de advocacia, em São Paulo, das mãos do doleiro Lúcio Funaro.
A história apareceu na delação premiada
do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que disse ter mandado entregar
dinheiro em espécie no endereço de trabalho de Yunes, em 2014.
Amigo do presidente Michel Temer, o
advogado nega ter recebido dinheiro, mas admite que Padilha pediu, por
telefone, para ele receber um documento. “Pelo relacionamento político e
partidário que tenho com ele, Padilha pediu se eu poderia receber no escritório
um documento, um pacote, para que outra pessoa fosse pegar”, contou Yunes ao
Estado. “Quem levou o documento, que eu não conhecia, era o Lúcio Funaro. Por
isso eu brinquei que fui mula involuntária do Padilha.” Funaro foi preso em
julho de 2016 na Operação Lava Jato. Era operador do ex-presidente da Câmara e
deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Yunes esteve nesta quinta em Brasília e
conversou com Temer sobre o assunto, que tem potencial para se transformar numa
nova crise no governo.
Em dezembro, a Coluna do Estadão
informou que Funaro entregou a Yunes R$ 1 milhão, quantia proveniente da
Odebrecht, a mando de Padilha. Um dos auxiliares mais próximos de Temer, Yunes
deixou o governo após vir à tona a delação de Melo Filho. Em sua delação, o
ex-executivo da empreiteira disse que, numa reunião ocorrida em 2014, no
Palácio do Jaburu, Temer – então vice-presidente – teria pedido dinheiro a
Marcelo Odebrecht para o PMDB. Marcelo decidiu doar R$ 10 milhões e, deste
total, R$ 6 milhões teriam ido para campanha de Paulo Skaf ao governo de São
Paulo e R$ 4 milhões para Padilha distribuir. À época, ele era ministro da
Aviação Civil do governo da então presidente Dilma Rousseff.
Yunes disse que nunca viu Melo Filho e
também que não conhecia Funaro. “Ele chegou, se apresentou, nós conversamos um
pouco sobre política e depois ele foi embora. Mais tarde uma pessoa foi buscar
a encomenda nas mãos de minha secretária”, afirmou o advogado, amigo de Temer
há 40 anos. “Saí do governo para defender minha honra e não me prevalecer nem
do meu cargo nem da amizade com o presidente. Sou louco para ver essa delação
para provar a minha inocência.”
Questionado se não abriu o “pacote” que
Padilha mandou entregar em seu escritório, Yunes respondeu: “Não caberia a mim
violar um documento. Não era eu o destinatário do Padilha”. O advogado também
disse não se lembrar do tamanho da encomenda.
Procurado pelo Estado para comentar as
declarações de Yunes, Padilha não foi localizado.
O TRECHO DA DELAÇÃO DE CLAUDIO MELO SOBRE PADILHA:
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