Em depoimento
ao TSE, empreiteiro delator relatou encontros com presidente nacional do PSDB
na campanha de 2014 e que só se recorda de doações oficiais para tucano
Ricardo Galhardo, enviado especial a Curitiba,
Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo
O Estado de São Paulo
Em seu depoimento de quatro horas ao Tribunal Superior Eleitoral nesta
quarta-feira, 1, o delator e ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht
relatou que o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, teria lhe
pedido R$ 15 milhões no final do primeiro turno da campanha eleitoral de 2014.
O delator depôs na Ação de Investigação Judicial Eleitoral aberta a pedido do
PSDB contra a chapa Dilma/Temer. Ele disse que, inicialmente, negou o pedido do
tucano afirmando que o valor era muito alto, mas que o senador teria sugerido como
‘alternativa’ que os pagamentos fossem feitos aos seus aliados políticos.
Após ser preso na Lava Jato, contudo, Odebrecht disse ter sido
informado que o aporte financeiro acabou não se concretizando. Ainda assim,
segundo ele, teria ficado definido no encontro com Aécio que o repasse seria
discutido entre Sérgio Neves, que era superintendente da empresa em Minas, e o
empresário Oswaldo Borges da Costa, apontado como tesoureiro informal do
tucano.
Em seu relato, Odebrecht disse que só se recorda de doações oficiais
para o tucano.
O valor coincide com a planilha e a troca de mensagens de Odebrecht
apreendidos pela Lava Jato e que mostram o repasse de R$ 15 milhões do
departamento de propina da empreiteira ao apelido ‘mineirinho‘ que, segundo o delator
Claudio Melo Filho, era uma referência a Aécio.
Odebrecht respondeu sobre o tucano quando questionado pela defesa da
presidente cassada – de acordo com os advogados, questionar doações para o PSDB
fazia parte da estratégia de Dilma. À Justiça Eleitoral, a campanha do senador
mineiro registra doações que somam R$ 3,9 milhões da Construtora Odebrecht e R$
3,9 milhões da Braskem, petroquímica do grupo empresarial. Ao todo, o PSDB
recebeu R$ 15 milhões da Odebrecht em doações eleitorais em 2014.
O delator, contudo, não aprofundou mais sobre o assunto, pois o juiz
auxiliar que estava conduzindo a audiência pediu a Marcelo que se limitasse ao
objeto da Ação Judicial Eleitoral – repasses para a chapa Dilma-Temer, que
venceu as eleições de 2014.
Além destes R$ 15 milhões, o empreiteiro contou que se encontrou várias
vezes com o tucano, e que Aécio sempre pediu dinheiro para campanhas. Em
relação aos repasses para a campanha tucana em 2014, o delator disse que se
lembrava mais especificamente de três ocasiões – uma doação para o PSDB na
época da pré-campanha, uma de cerca de R$ 5 milhões durante a campanha, e o
pedido no final do primeiro turno de R$ 15 milhões.
Na versão do empreiteiro, o contato da Odebrecht com Aécio para tratar
da campanha era mais difuso do que com Dilma e feito com a base das empresas do
grupo em Minas, Estado do senador.
‘Mineirinho’
No pedido de busca e apreensão da Polícia Federal na 26.ª fase da
operação, a Xepa, “Mineirinho” é apontado como destinatário de R$ 15 milhões
entre 7 de outubro e 23 de dezembro de 2014. As supostas entregas foram
registradas nas planilhas da secretária Maria Lúcia Tavares, do Setor de
Operações Estruturadas – conhecido como o “departamento de propina” da
Odebrecht.
A quantia foi solicitada em 30 de setembro de 2014, na véspera do
primeiro turno, por Sérgio Neves, a Maria Lúcia, que fez delação e admitiu
operar a “contabilidade paralela” da empresa a mando de seus superiores. O
pedido foi intermediado por Fernando Migliaccio, ex-executivo da empreiteira
que fazia o contato com Maria Lúcia e que foi preso na Suíça.
COM A
PALAVRA, A ASSESSORIA DO PSDB:
“A assessoria do PSDB informa que as doações feitas pela Odebrecht à
campanha eleitoral encontram-se declaradas à Justiça Eleitoral. Sobre o
conteúdo do depoimento do empresário Marcelo Odebrecht ontem ao TSE, assessoria
esclarece que em nenhum momento Marcelo Odebrecht disse ter feito qualquer
contribuição de caixa dois à campanha eleitoral do partido em 2014, o que
ficará demonstrado após o fim do sigilo imposto às declarações.
Oswaldo Borges nunca foi tesoureiro informal de nenhuma campanha do
PSDB, tendo atuado sempre de forma oficial.
R$ 15 milhões foi o valor doado oficialmente pelo grupo Odebrecht à
campanha do PSDB de 2014.
O PSDB desconhece a planilha em questão, mas chama atenção para a
última coluna da mesma onde fica demonstrado que, ao contrário do afirmado na
matéria, quaisquer que fossem os pagamentos eventualmente ali planejados não
foram realizados pois ficaram pendentes.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário