Empreiteiro afirma em acareação com
ex-diretor que recebeu solicitação do então vice-presidente por telefone;
presidente da Fiesp nega irregularidades
Ricardo Galhardo
O Estado de S.Paulo
Marcelo Odebrecht, ex-presidente e
herdeiro do grupo, disse em acareação com o ex-diretor da empreiteira Cláudio
Melo Filho que recebeu do então vice-presidente Michel Temer um pedido de
“apoio” para a campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo de São Paulo em 2014.
Segundo relato do empreiteiro, ao qual o
Estado teve acesso, o pedido aconteceu antes do jantar no Palácio do Jaburu –
no fim de maio de 2014 –, no qual o ex-presidente da Odebrecht disse ter
acertado com o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o repasse de R$ 10
milhões a campanhas de candidatos do PMDB nas eleições daquele ano.
A conversa com Temer, segundo Marcelo
Odebrecht, foi “totalmente institucional”. O conteúdo da acareação faz parte do
processo que vai julgar o pedido de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel
Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em alegações finais o PSDB, autor
da ação, pede que Temer seja excluído do processo.
Conforme o relato de Marcelo Odebrecht,
Skaf – com quem ele diz ter relações de amizade – o procurou para pedir R$ 6
milhões na campanha de 2014. O empreiteiro considerou o valor alto e disse ao
então candidato e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp) que ele deveria convencer Temer a destinar para sua campanha parte dos
R$ 10 milhões que seriam repassados pela empreiteira para candidatos do grupo
do então vice.
Ele reproduziu conversa com Skaf:
“Paulo, você é um candidato que é apoiado por Michel. Eu estou sabendo que o
Michel fez um pedido para apoiar candidatos e que montava 10 milhões”.
Na sequência, segundo disse Marcelo
Odebrecht, Skaf lhe passou o telefone celular e no outro lado da linha estava
Michel Temer. “Marcelo, a importância de apoiar, a importância de apoiar o
Paulo”, teria dito Temer, de acordo com o relato do empreiteiro, que disse ter
concordado: “Sim, presidente”.
Segundo Marcelo Odebrecht, a destinação
de R$ 6 milhões para a campanha de Skaf só foi decidida dias depois, no jantar
no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
Versões
O relator do processo, ministro
Herman Benjamin, solicitou a acareação, realizada no dia 10, com o objetivo de
esclarecer divergências entre as versões de Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo
Filho – que foi diretor de Relações Institucionais da empreiteira.
Marcelo Odebrecht disse que em momento
algum discutiu valores com Temer. Segundo ele, o então vice-presidente saiu do
jantar antes que os detalhes sobre os repasses fossem discutidos. A tarefa
teria ficado a cargo de Padilha. Já Melo Filho afirmou que Temer participou,
sim, da discussão sobre valores. Ambos mantiveram suas versões.
Tanto Marcelo Odebrecht quanto o
ex-diretor fizeram delações na Lava Jato. Eles não podem contar à Justiça
Eleitoral versões diferentes das que apresentaram nas colaborações.
Durante a acareação, o relator Herman
Benjamin tentou manter o foco nas contas da campanha da chapa Dilma-Temer.
Empreiteiro e ex-diretor disseram não ter ouvido nada sobre a possibilidade de
parte dos R$ 10 milhões ter sido usada na disputa presidencial.
A campanha de Skaf em 2014 não declarou
doações da Odebrecht. Questionados na acareação, Marcelo Odebrecht e Melo Filho
disseram que não falaram em repasses por meio de caixa 2 com representantes do
PMDB.
Procurado, o Palácio do Planalto
informou que não iria comentar o teor da acareação.
Skaf, por meio de sua assessoria, disse
que todas as doações recebidas por sua campanha estão registradas na Justiça
Eleitoral e a prestação de contas foi aprovada “sem reparo”. “Skaf nunca pediu
nem autorizou ninguém a pedir contribuição de campanha que não as regularmente
declaradas”, diz a nota.
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