Adir
Assad, acusado de lavar dinheiro de empreiteiras, negocia delação com
força-tarefa em Curitiba; ele promete revelar esquema em obras de estatal
paulista
Fabio Serapião, Beatriz Bulla, de
Brasília, e Fausto Macedo
O Estado de São Paulo
O operador financeiro Adir Assad propôs
um acordo de delação premiada à Lava Jato no qual afirma ter repassado cerca de
R$ 100 milhões para Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Desenvolvimento
Rodoviário S/A (Dersa), entre 2007 e 2010, na gestão José Serra (PSDB) no
governo de São Paulo. Preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde
agosto do ano passado, Assad é apontado como o maior emissor de notas frias
para lavagem de dinheiro de empreiteiras suspeitas de envolvimento no escândalo
de corrupção na Petrobrás.
Na tratativa com a força-tarefa na
capital paranaense, Assad admitiu ter usado suas empresas de fachada para lavar
recursos de empreiteiras em obras viárias na capital e região metropolitana de
São Paulo, entre elas a Nova Marginal Tietê, o Rodoanel e o Complexo
Jacu-Pêssego.
Assad disse também como funcionava o
esquema de fornecimento de dinheiro em espécie para o caixa 2 de construtoras.
Segundo ele, nos contratos com Dersa, as empreiteiras subcontratavam suas
empresas, o valor das notas frias era transformado em dinheiro e as companhias
indicavam os beneficiários dos recursos. Entre 2007 e 2012, o “noteiro”
movimentou cerca de R$ 1,3 bilhão em contratos fictícios assinados com grandes
construtoras.
Ele prometeu revelar detalhes de um
esquema na estatal paulista do qual Souza fazia parte, como, por exemplo, as
características de um suposto imóvel onde o dinheiro em espécie era armazenado.
O Estado apurou que Assad chegou a afirmar ter conhecimento de que políticos
foram contemplados com os repasses oriundos de empreiteiras. Ele, porém, não
deverá citar nomes de autoridades em seu acordo porque disse não ter provas
para corroborar sua versão, pois apenas lavava o dinheiro e entregava os
montantes aos operadores indicados.
Ainda sobre Souza, Assad disse que o
conheceu há mais de 15 anos, quando os dois eram triatletas. Afirmou que o
ex-diretor da Dersa centralizava todos os repasses das empreiteiras
responsáveis por obras na estatal do governo de São Paulo. Segundo Assad, Souza
o apresentou a representantes das maiores construtoras do País.
O Estado apurou que Assad também propôs
aos procuradores mapear o funcionamento do sistema financeiro paralelo das
construtoras responsável por abastecer as contas de suas empresas. Outro tema
abordado pelo operador foi sobre como firmas sem prestar serviços e sem ter
funcionários conseguiram movimentar uma quantia bilionária nos bancos
brasileiros.
Sigilo
Os indícios da relação das empresas de
Assad com obras em São Paulo já apareciam nas quebras de sigilo promovidas pela
Lava Jato. Os documentos sobre essas contas mostram um pagamento de R$ 37
milhões do Consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta Engenharia e vencedor da
licitação de um dos lotes da Nova Marginal, para uma de suas empresas.
Das empresas que executaram lotes no
Rodoanel, o Consórcio Rodoanel Sul 5 Engenharia, formado por OAS, Carioca
Engenharia e Mendes Júnior, depositou R$ 4,6 milhões na conta da Legend
Engenheiros, de Assad. O SVM, do qual a Andrade Gutierrez faz parte, pagou R$
7,4 milhões para a Legend, entre 2009 e 2010. O consórcio atuou no Complexo
Jacu-Pêssego.
Em quase três anos de Operação Lava
Jato, os investigadores esmiuçaram as transações financeiras entre empresas de
fachada de Assad, como a Legend, Rock Star Marketing, Power to Ten e SM
Terraplenagem, e as maiores construtoras do País. A força-tarefa descobriu que
as notas fiscais de prestação de serviços de terraplenagem e aluguel de
máquinas serviram para produzir dinheiro em espécie que, supostamente, deveria
ser distribuído para agentes públicos e políticos. As empresas subcontratadas,
no entanto, não possuíam nem máquinas nem funcionários para operá-las.
Assad teve prisão preventiva decretada
quatro vezes desde 2015. Chegou a ser solto duas vezes, mas foi novamente
levado à prisão por ordem do juiz Sérgio Moro. Ele foi condenado na Lava Jato a
9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Delações premiadas, como a de executivos
e ex-executivos da Odebrecht, e a negociação do empresário Fernando Cavendish,
da Delta, citam o nome do operador. A tentativa de acordo é vista como a chance
de Assad obter algum benefício no cumprimento da pena. Como a força-tarefa já
detém uma série de informações sobre suas operações, Assad está atrás na
corrida das negociações e enfrenta a resistência do Ministério Público Federal.
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