Investigações do MP apontam que a ex-governadora recebeu em sua conta de campanha R$ 1,9 milhão depositados pelas empresas logo após receberem pagamentos “superfaturados” pelas obras dos hospitais no programa Saúde É Vida.
Roseana Sarney e Ricardo Murad : Ela se despede, e o cunhado continua
no banco dos réus no caso da Máfia da Saúde
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A decisão do juiz auxiliar Clésio Coelho Cunha de
absolver sumariamente a ex-governadora Roseana Sarney no caso da 'Máfia da
Saúde' é, no mínimo, nebulosa. O que pode provocar uma ação no Conselho Nacional de Justiça.
Seja pela celeridade de um juiz substituto, que também respondia pela
1ª Vara da Fazenda Pública e pelas 2ª e 3ª Varas Cíveis de São Luís – tudo no
mesmo período que proferiu decisão que livrou Roseana do banco dos réus – como
também pelas estranhas decisões do desembargador Antônio Guerreiro Júnior,
durante a sua interinidade na Corregedoria Geral de Justiça em substituição a
corregedora-geral, a desembargadora Anildes Cruz.
A trama começou quando o juiz titular da 7ª Vara Criminal, Fernando
Luiz Mendes Cruz, acatou a denúncia do Ministério Público contra Roseana
Sarney, seu cunhado, o ex-secretário de Saúde, Ricardo Murad, e mais quinze
pessoas, acusadas de desviar recursos para a construção de 74 hospitais em todo
o estado; e resolveu tirar férias enquanto cumpria-se a diligência da citação
por carta precatória da única ré que ainda não tinha sido convertida em ré, por
morar em São Paulo.
Segundo o MP, empresas ganharam sem licitação contratos superfaturados
na Secretaria de Estado da Saúde; e parte considerável desse superfaturamento
foi utilizada para financiar campanha à reeleição da ex-governadora.
Mas, as férias regulares do juiz titular, que esperava analisar todo o
processo quando retornasse ao trabalho, foi o suficiente para que um outro juiz
fosse designado pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, em sequência de atos
suspeitos, para absolver sumariamente Roseana Sarney da acusação.
A 7ª Vara Criminal não possui um juiz substituto automático, de modo
que cabe a Corregedoria Geral de Justiça designar o magistrado para responder
pela Vara, durante as férias do titular.
Estranhas
coincidências
É aí que as coincidências fazem a porca torcer o rabo. Antes do início
das férias do juiz Fernando Cruz, na ausência da corregedora-geral de Justiça,
o desembargador Guerreiro Júnior, que a substituía, baixou no dia 23 de
fevereiro de 2017 um ato cancelando as férias do juiz auxiliar Clésio Coelho
Cunha, que coincidiria com as do titular da 7ª Vara.
No dia seguinte, 24 de fevereiro, e apenas três horas depois que o ato
foi efetivamente assinado (8h22), Guerreiro Júnior designou (11h19) o juiz
Clésio Cunha para responder pela 7ª Vara, com início dia 02 de março de 2017.
Daí em diante foram necessários apenas doze dias corridos, ou sete dias
úteis, para que Clésio Cunha proferisse decisão (13/03/2017) livrando a
ex-governadora da ação penal!
E isso porque somente o processo principal já possui mais de seis mil
folhas, sem contar as dezenas de volumes em apenso!
Leitura
dinâmica
Em apenas doze dias, Clésio Cunha leu todas as páginas dos autos,
analisou todas as doze defesas apresentadas, observou as disposições legais e
redigiu a decisão que pôs fim ao incômodo para Roseana Sarney em responder na
Justiça a acusação de financiar a sua campanha eleitoral com recursos desviados
da saúde pública do Maranhão!
Operadores do Direito ouvidos pelo blog estranharam que um juiz com a
experiência de Clésio Cunha, tenha denominado a sua decisão confirmando a
denúncia contra os outros envolvidos e marcando audiências, de “sentença”,
enquanto seria uma decisão interlocutória, pois não extinguiu o processo.
O mais grave ainda, observaram, é que a decisão não analisou as defesas
apresentadas por onde dos dezessete réus, limitando-se apenas a defesa da
ex-governadora.
Consideraram ainda pior o fato de que alguns réus deixaram de
apresentar suas defesas, apesar de terem sido citados. O juiz Clésio Cunha,
além de decretar à revelia, deixou de encaminhar o processo para a Defensoria
Pública, pois ninguém pode ser processado sem a legítima defesa, como determina
o Código Penal.
A 'Máfia da Saúde', como ficou conhecida a organização que atuava,
segundo o Ministério Público, para desviar recursos da Saúde durante o Governo
Roseana Sarney, responde a vários inquéritos, denúncias e ações de improbidade,
nas justiças Federal e Estadual.
Até o momento, a ex-governadora só havia sido incluída nessa ação,
exatamente porque há nela indícios suficientes de seu benefício direto com os
atos de corrupção.
Investigações do MP apontam que ela recebeu em sua conta de campanha R$
1,9 milhão depositados pelas empresas logo após receberem pagamentos
“superfaturados” pelas obras dos hospitais no programa Saúde É Vida.
Mas Roseana segue no banco dos réus da ação penal que apura o escândalo
da Máfia da Sefaz, onde, inclusive, está com todo o seu patrimônio bloqueado
por decisão da Justiça.
Um dia a casa – com todos os
seus cômodos – cai!
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