José
de Carvalho Filho afirma ao TSE que ministro da Casa Civil indicou locais,
incluindo escritório de José Yunes, para pagamento de R$ 4 milhões ao PMDB
Rafael Moraes Moura, Beatriz Bulla,
Breno Pires e Fábio Serapião
O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Em depoimento prestado ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho
Filho disse que o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB),
lhe passou todos os endereços para o pagamento de R$ 4 milhões destinados ao
PMDB durante a campanha eleitoral de 2014.
Um dos locais indicados por Padilha foi
o escritório de José Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer (PMDB),
informou Carvalho Filho ao ministro Herman Benjamin. Benjamin é o relator no
TSE da ação que apura se a chapa de Dilma Rousseff (PT) e Temer cometeu abuso
de poder politico e econômico para se reeleger.
Esse pagamento teria sido realizado no
dia 4 de setembro de 2014. “Todos os endereços, esses e os outros que eu não me
lembro me foram dados pelo Eliseu Padilha”, disse Carvalho Filho. Segundo o
ex-executivo da Odebrecht, a distribuição dos recursos foi determinada pelo
executivo Marcelo Odebrecht.
“Procurei depois o Eliseu Padilha, no
escritório dele, comentei o fato, ele já sabia, evidente, e solicitei dele os
endereços que eles poderiam receber e quem fez essa operação foi Operações
Estruturadas. A sistemática era: eu chegava expor até ele e ele me fornecia o
endereço, eu transmitia ao sistema de Operações Estruturadas a sra. Maria Lúcia
(ex-secretária da Odebrecht), que uns dias depois, me entregava uma senha. Eu
pessoalmente entregava essa senha, entreguei essa senha ao Sr. Eliseu Padilha”,
afirmou José de Carvalho Filho.
“E a partir dali, eu não tinha como e
nem sabia como as coisas eram operacionalizadas. Então, esclarecendo que tive
com ele (Padilha) quatro ou cinco vezes para pegar esse endereço e voltei
novamente para pegar essas senhas”, completou o ex-executivo da Odebrecht. De
acordo com Carvalho Filho, os valores seriam repassados ao PMDB via Eliseu
Padilha.
Discussão
Carvalho Filho também afirmou ter
recebido na época uma “ligação extemporânea” do então deputado federal Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), comentando que não havia recebido R$ 500 mil.
“Tivemos uma discussão acalorada ao
telefone. Achei estranho e comuniquei ao Cláudio (Cláudio Melo, ex-diretor de
Relações Institucionais da Odebrecht): 'Cláudio, o fato foi esse e vamos
esclarecer junto ao Eliseu'. Logo depois fomos ao Eliseu e esclarecemos. Ele
achou muito estranho este fato e disse: ‘Olha, se o endereço que eu dei e se
fosse realmente entregue, o Sr. Yunes é uma pessoa de mais ou menos setenta
anos, é de minha confiança, dificilmente não teria registrado isso”. Isso
causou um constrangimento a mim. (…) O mal-estar permaneceu e a empresa tomou,
deliberou fazer outro pagamento de 500 (quinhentos) mil reais no valor, aquele
que deu origem ao processo em discussão", afirmou o ex-executivo.
Carvalho Filho disse não ter controle da
planilha de distribuição de recursos. “A minha ação é entregar, tomar o
endereço do Sr. Padilha e entregar à sra. Lúcia e a Sra. Lúcia me dava uma
senha que eu repassava”, explicou.
O ex-executivo da Odebrecht também não
soube dizer que outros parlamentares do PMDB foram beneficiados com parte dos
R$ 4 milhões.
Sobre o lobista Lúcio Funaro, apontado
por investigadores da Operação Lava Jato como operador de Eduardo Cunha,
Carvalho Filho respondeu: "Nunca vi o Lúcio Funaro, nunca estive com o
Lúcio Funaro e não sei quem é o Lúcio Funaro".
Defesa. A reportagem tentou entrar em
contato com a assessoria de Padilha na noite de quinta-feira, 23, mas não havia
obtido retorno até a publicação deste texto.
No dia 13 deste mês, quando parte do
conteúdo do depoimento de Carvalho Filho já havia sido noticiado pela imprensa,
Padilha afirmou que as delações premiadas envolvendo o seu nome não são motivo
para saída do governo. "Em time que está ganhando não se mexe",
afirmou o chefe da Casa Civil. "Só citação de delator não é motivo para
nada", afirmou.
Depoimentos. No dia 14 deste mês, o
ministro Herman Benjamin negou pedido apresentado pela defesa de Dilma Rousseff
para que Padilha e Yunes prestassem depoimentos na Justiça Eleitoral.
"Não houve referência, no conjunto
probatório até aqui produzido, de fatos concernentes à atuação de Eliseu
Padilha ou José Yunes que tenham correlação direta com o objeto desta causa,
isto é, o financiamento da chapa Dilma-Temer em 2014", escreveu Benjamin
em sua decisão.
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