Médico do IML de Cachoeira do Sul relatou à polícia que artista teve
morte por causas naturais. Corpo do cantor será transportado para Sobral, no
Ceará, na madrugada de segunda-feira (1).
Por G1RS e RBS TV
Análise preliminar indica que Belchior morreu em razão do rompimento da
artéria aorta, disse neste domingo (30) a delegada Raquel Schneider. Raquel
falou com o médico do IML da cidade de Cachoeira do Sul, responsável pela
necropsia em Belchior.
O cantor e compositor cearense tinha 70 anos e morava em Santa Cruz do
Sul, no Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, distante cerca de 120 km de Porto
Alegre. Ele vivia com a esposa, Edna.
"Esse deve ser o resultado que vai vir no laudo depois. Claro que
também serão feitos mais alguns exames, mas em princípio foi isso",
afirmou a delegada.
Mais cedo, Angela Margareth, ex-mulher do músico, havia dito que a causa
da morte foi um infarto. A delegada disse que o médico não levantou essa
possibilidade durante a conversa.
O corpo do cantor deve deixar o IML de Cachoeira do Sul, onde foi feita a
necropsia, no início da noite deste domingo (30). Segundo Raquel, será levado
ao município de Venâncio Aires para ser embalsamado.
Mais tarde, deverá seguir para Porto Alegre e, no início da madrugada de
segunda-feira (1), transportado para a cidade de Sobral, no Ceará, onde
ocorrerá o sepultamento.
Ainda durante a tarde deste domingo (30), a polícia de Santa Cruz do Sul
já acreditava que a morte tivesse causas naturais. "Não havia sinais de
violência, nada indicou qualquer outra coisa. Segundo a esposa, Edna, ele não
usava medicação, não apresentava problemas de saúde. Eles disseram que sequer
tinham remédios em casa", havia comentado a delegada ao G1.
Registro do carro da funerária na residência de Belchior |
De acordo com amigos, o artista vivia há quatro anos no município
localizado na região do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Há um ano e
meio ele morava na casa onde morreu, com a esposa. A residência foi cedida a
ele por um amigo.
O Governo do Estado do Ceará confirmou a morte e decretou luto oficial de
três dias. "Recebi com profundo pesar a notícia da morte do cantor e
compositor cearense Belchior", diz em nota o governador Camilo Santana.
"O povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que
fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil" (veja
íntegra da nota abaixo).
O traslado do corpo será feito pelo Governo do Ceará, que aguarda
liberação das autoridades gaúchas. A assessoria do governo disse também que o
chefe da Casa Militar do Ceará, coronel da Polícia Militar Túlio Studart,
entrou em contato com o chefe da Casa Militar do RS, e que eles aguardam o
resultado do laudo oficial.
Veja a íntegra da nota
oficial do Governo do Ceará:
"O Governo do Ceará lamenta profundamente o falecimento do cantor e
compositor cearense, Belchior, aos 70 anos, na noite deste sábado, 29, na
cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. E informa que está prestando todo o
apoio à família, inclusive providenciando o traslado do corpo para Sobral, sua
cidade natal. O governador Camilo Santana está decretando luto oficial de três
dias. Belchior é dono de uma trajetória artística da mais absoluta importância
para a cultura do Estado. Sua carreira o levou ao patamar de um dos maiores
ícones da Música Popular Brasileira, promovendo o nome do Ceará em todo o
Brasil e no mundo".
Nascido em 26 de outubro de 1946, Belchior foi um dos ícones mais
enigmáticos da música popular no Brasil, com mais de 40 anos de carreira.
Teve o primeiro sucesso nos anos 70 ao lado do também cearense Fagner,
com a faixa "Mucuripe". Com o disco "Alucinação" (1976),
lançou clássicos como as faixas "Apenas um rapaz latino-americano",
"Velha roupa colorida" e "Como nossos pais", essa última
que se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina.
Paradeiro
Segundo o colunista do G1 Mauro Ferreira, o cantor não tinha paradeiro
certo desde 2008. Em 2007, a família reclamou do sumiço do artista, que
abandonou a carreira; e nem mesmo seu produtor musical conseguia contato. A
partir daí, foram surgindo boatos a respeito do paradeiro do cantor.
Segundo reportagem do Fantástico, Belchior abandonou ao menos dois
carros, sem explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São
Paulo, acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro
veículo, uma Mercedes Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também
em São Paulo, onde ele morava antes de ir para o Uruguai.
Belchior chegou a ser procurado pela polícia em 2012 devido a uma dívida,
à época, de US$ 15 mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis
meses de diárias. No fim daquele ano, em meio à polêmica, foi visto em Porto
Alegre, mas não quis gravar entrevista.
Trajetória
Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou
no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe
cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou
Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar medicina, mas abandonou o
curso em 1971 para se dedicar à música.
Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste.
Depois do sucesso de "Mucuripe", mudou-se para São Paulo, onde
compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições
em programas de televisão. Em 1974, lançou seu primeiro disco, "A palo
seco", cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao
longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles
Roberto Carlos ("Mucuripe") e Erasmo Carlos ("Paralelas"),
Engenheiros do Hawaii ("Alucinação"), Wanderléa
("Paralelas") e Jair Rodrigues ("Galos, noites e
quintais"). Elis Regina foi uma de suas maiores intérpretes: além de
"Como nossos pais", gravou "Mucuripe", "Apenas um
rapaz latino-americano" e "Velha roupa colorida".
Em 1982, o cantor lançou "Paraíso", que tem participações dos
àquela época ainda jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge
Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso
Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos
lançados.
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