Soldado paraquedista foi submetido a um
violento trote e precisou ter um dos testículos extraído
RIO — O promotor Jorge Augusto Lima
Melgaço, do Ministério Público Militar do Rio, pediu nesta quinta-feira a
prisão preventiva de oito cabos da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista,
identificados como os responsáveis pelo espancamento de um soldado da unidade.
A vítima sofreu ferimentos graves e teve um dos testículos extraídos. O pedido
do MP foi feito ao Superior Tribunal Militar (STM), em Brasília, uma vez que o
juízo de primeira instância, no Rio, indeferiu o mesmo pedido.
— Estou recorrendo ao STM, pedindo que
todos fiquem presos durante o processo. No meu entender, os acusados soltos
podem interferir de alguma forma no processo, até com a coação da vítima e de
testemunhas. Além da gravidade do caso, o soldado teve sequelas permanentes —
disse Melgaço.
Pena
pode chegar a oito anos
Os agressores já foram denunciados à
Justiça Militar em 14 de março e, em seguida, foi aberto um processo na 3ª
Auditoria da 1ª Circunscrição. A primeira audiência do caso está marcada para o
dia 10 de maio. Todos respondem por lesão corporal qualificada. Caso
condenados, os militares poderão receber penas que variam de dois e oito anos
de prisão.
O soldado contou que foi violentamente
agredido em maio de 2016, durante um trote aplicado por um grupo de 18
militares de patente superior. Uma espécie de batismo sádico, em que o calouro
é submetido a intenso espancamento com os pés e mãos amarrados. No caso do
soldado, sem nenhuma chance de defesa. O espancamento dentro da unidade militar
foi revelado pela coluna de Ancelmo Gois.
Segundo o soldado, durante cerca de dois
minutos, ele levou chutes e foi espancado, com uso de paus, pedaços de fios e
de plásticos. No fim, um dos agressores ainda gritou: “Soltem o cachorro.
Soltem o cachorro”. Nesse momento, um cabo, conhecido no batalhão pelo apelido
de “Cachorro Louco”, partiu em direção à vítima, simulando ser um cão e
mordendo violentamente suas nádegas, arrancando pedaços. Em casa, o soltado
percebeu um sangramento no pênis, que mais tarde levou à extração de um dos
testículos por médicos do Hospital Central do Exército (HCE), onde foi
atendido.
— Fiquei muito machucado. Tive que
extrair um testículo, e os médicos disseram que o segundo está comprometido e
também poderá ser extraído. Não vou mais conseguir saltar ou pular de
paraquedas — afirmou o militar, pedindo para não ser identificado.
O advogado da vítima, Marcelo Figueira,
afirmou que foi tortura.
— O que aconteceu não foi um caso de
agressão ou maus-tratos. Foi tortura. Ele foi espancado sem chance de reação —
afirmou, acrescentando que pede à Justiça Federal reparação pelos danos físicos
e psicológicos impostos à vítima.
Por nota, o Exército afirmou que o caso
foi apurado em um Inquérito Policial Militar (IPM nº 04/2016) instaurado pelo
comandante da 27ª Brigada de Infantaria Paraquedista e que gerou o indiciamento
de oito cabos envolvidos. “Todos os militares indiciados no referido IPM foram
licenciados em 28 de fevereiro de 2017”, diz a nota.
O Comando Militar do Leste (CML)
ressaltou ainda que o Exército “não compactua com qualquer tipo de
irregularidade, repudiando veementemente atitudes relacionadas a maus-tratos,
que contrastam com a imagem de uma instituição conhecida e respeitada pela
seriedade e transparência no trato de assuntos ligados à atividade militar”.
Segundo o CML, “o envolvimento de militares do Exército em delitos de
maus-tratos ocorre de forma pontual e isolada. Sempre que há denúncias, a
instituição investiga e encaminha à Justiça Militar, a quem cabe julgar e
aplicar penas”.
de O Globo
de O Globo
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