da Folha de São
Paulo
Um hotel perto do
aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, foi o local do primeiro encontro em 2014
entre Marina Silva (Rede), então presidenciável pelo PSB, e Marcelo Odebrecht,
herdeiro e ex-presidente da empreiteira.
Quem relata o encontro
é Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira. O
depoimento integra a delação do executivo à Lava Jato, divulgado na
quarta-feira (12).
"A partir daí,
houve uma conversa de Marcelo com ela, onde foram colocados posicionamento e
valores -valores culturais, não monetários-, e estratégias", diz.
Alencar contou que,
após as conversas, a empreiteira acertou doação de R$ 1,25 milhão à campanha,
em recursos declarados à Justiça. "Não teve compromisso [com alguma
contrapartida]. Nem Marcelo, nem eu [falamos disso]. Foi muito mais uma
conversa de aproximação."
Ex-diretor de relações
institucionais da Odebrecht, Alexandrino era responsável por acertar doações a
políticos e a campanhas eleitorais.
Ele conta que, antes de
2010, a empresa "minimizava" os depósitos declarados para não chamar
a atenção para o nome do grupo. Mas também relatou que o fato de a empresa
passar a depositar às legendas em doações contabilizadas não acabou com a
existência do caixa dois.
Em 2014, o executivo
teve "atuação bem específica nas doações para as candidaturas da Presidência
da República das duas candidatas", Marina Silva e Dilma Rousseff (PT).
Marina não é investigada na Lava Jato. Dilma é alvo de inquérito em primeira
instância.
Alencar trabalhou no
repasse de R$ 7 milhões em doações legais à petista. Os investigadores questionaram
a "diferença expressiva" em relação ao montante destinado a Marina.
Segundo Alencar, o
"timing" explica a distância entre os valores, "pela história
que aconteceu".
"O candidato era o
[Eduardo] Campos, e teve esse fato [o acidente aéreo que o matou durante a
campanha]. Com Dilma, as conversas já vinham acontecendo. Tinha um
relacionamento, digamos, mais antigo."
Outro lado
Por meio de sua
assessoria de imprensa, Marina Silva diz que se sua campanha foi procurada pela
Odebrecht e que a candidata se reuniu com Marcelo Odebrecht e outros dirigentes
em uma sala no Hotel Pullman, em Guarulhos.
No encontro, falaram
das "principais propostas para o desenvolvimento sustentável do
país".
A ex-senadora diz que
não tratou de "nenhum assunto referente a financiamento de campanha".
E que o grupo doou R$ 598,5 mil à candidata, além de R$ 600 mil ao diretório do
PSB, não direcionados à campanha.
Leia,
abaixo, a íntegra da resposta da ex-senadora:
O
Comitê de Captação da candidatura presidencial de Marina Silva em 2014 foi
procurado pela empresa Odebrecht para conhecer as suas propostas, demanda
recorrente de vários setores da sociedade, como empresas, entidades de classe,
movimentos sociais, sindicatos e setores ligados à academia.
Houve
uma reunião com o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e outros
dirigentes, onde foram expostas as principais propostas para o desenvolvimento
sustentável do país. A reunião ocorreu no hotel Pullman Guarulhos, em sala ao
lado do saguão de entrada, em função da agenda de viagens de Marina Silva.
Nessa reunião, não se abordou nenhum assunto referente a financiamento de
campanha.
As
empresas do grupo Odebrecht realizaram depósitos de R$ 98.574,41 através da
empresa Odebrecht Ambiental (2 depósitos) e de R$ 500.000,00 através da empresa
Ecosteel Gestão de Águas Industriais para a campanha, conforme consta na
prestação de contas apresentadas ao TSE. Durante o período eleitoral, o PSB
recebeu doação da Construtora Norberto Odebrecht de R$ 600.000,00 ao Diretório
Nacional, que não foram direcionados para a campanha presidencial de Marina
Silva.
É
importante ressaltar que todos os depoimentos e demais documentos coletados
pela operação Lava-jato, como planilhas, mensagens de celular e troca de
e-mails estão em posse do Ministério Público Federal que considerou, no
cruzamento dessas informações, que não havia elementos que justificassem o
pedido de abertura de inquérito ou o encaminhamento às demais instâncias da
Justiça.
É
necessário reiterar o que Marina Silva expressou em Nota do dia 02 de março de
2017, quando esse assunto veio a público pela primeira vez, que ela confia no
trabalho da Justiça e defende a urgência para mudar o sistema político
corrompido e viciado que tem maculado a nossa democracia. Qualquer acusação de
doações irregulares em eleição, para campanha de quem quer que seja, deve ser
rigorosamente investigada para que não paire nenhuma dúvida ou suspeita.
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