O procurador-geral da República aponta
que a gravação é “harmônica e consentânea” com o relato dos delatores do grupo
J&F
Beatriz Bulla, de Brasília
O Estado de São paulo
O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal a continuidade do inquérito que
investiga o presidente Michel Temer e não se opôs à realização de uma perícia
no áudio em que o peemedebista conversa com o delator Joesley Batista, do Grupo
J&F.
No início da tarde deste sábado, 20, o
presidente anunciou em pronunciamento que iria pedir ao Tribunal a suspensão do
inquérito em que ele é investigado até a análise do material. De acordo com
Temer, a gravação foi “manipulada e adulterada”. O advogado de Temer, o
criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, argumenta em manifestação
protocolada no Supremo nesta tarde que há indício de suposta edição na gravação
feita por Joesley.
Janot aponta que a gravação é “harmônica
e consentânea” com o relato dos delatores do grupo J&F. “Não obstante,
embora certo de que o áudio não contém qualquer mácula que comprometa a
essência do diálogo, o procurador-geral da República não se opõe à perícia no
áudio que contém conversa entre Michel Temer e Joesley Batista no dia 7 de
março de 2017, no Palácio do Jaburu”, escreveu Janot. Ele destaca na
manifestação ao STF que a perícia deve ser realizada sem suspensão do inquérito,
que serve, segundo Janot, “justamente para a apuração dos fatos e para a
produção de evidências, dentre elas perícias técnicas”.
As manifestações da PGR e da defesa de
Temer serão analisados pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no
STF. O ministro pode decidir monocraticamente ou levar o caso para que o
plenário todo, composto pelos 11 ministros da Corte, discuta a situação.
A conversa entre Joesley e Temer ocorreu
no início de março, no Palácio do Jaburu. No encontro, o empresário narra ao
presidente da República medidas que têm adotado para contornar as investigações
que recaem sobre ele e a JBS, entre elas o pagamento de uma mesada a um
procurador da República para obter informações privilegiadas.
Joesley também pergunta ao presidente
quem é o interlocutor do peemedebista e recebe de Temer a indicação do nome do
deputado Rodrigo Rocha Loures. Em conversas com Loures, também gravadas,
Joesley negocia o pagamento de propina e realiza a entrega de R$ 500 mil em
dinheiro – o que foi flagrado em gravação feita numa ação controlada pelos
investigadores.
O presidente também ouve de Joesley
sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMBD) e o operador Lúcio Funaro, ambos
presos na Lava Jato. Após Temer dizer que o deputado cassado tenta fustigá-lo,
Joesley diz que está em bom relacionamento com Cunha. O presidente responde:
“Tem que manter isso, viu?”, ao que Joesley diz “Todo mês”.
Em delação premiada, o empresário relata
ter indicado a Temer que faria pagamento a Cunha. O presidente nega ter sido
esse o conteúdo da conversa.
Em nota, a J&F afirmou que “não há
chance alguma” de ter havido edição da gravação e que “Joesley Batista entregou
para a Procuradoria Geral da República a íntegra da gravação e todos os demais
documentos que comprovam a veracidade de todo o material delatado”.
A PGR realizou uma análise prévia do
áudio, que verificou que o arquivo apresenta “sequência lógica”.
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