Lucas Azevedo
Colaboração para o UOL, em Porto
Alegre
Uma vereadora do interior do Rio Grande
do Sul declarou nesta segunda-feira (22) que, na política, nordestinos se unem
para roubar. Durante uma sessão da Câmara de Vereadores de Farroupilha (107 km
de Porto Alegre), na serra gaúcha, Eleonora Broilo (PMDB) afirmou: "Em
relação a nordestino saber fazer política, não sei se eu concordo muito. Eu
acho que os nordestinos sabem muito bem se unir, sim, para roubar".
Questionada posteriormente, a
parlamentar disse que foi mal interpretada. A fala foi feita ao microfone, presenciada
por vereadores, assessores, jornalistas e membros da comunidade, e gravada pela
própria Casa, como sempre ocorre.
Médica pediatra, Eleonora pediu a
palavra após o comentário de um colega, que, durante discussão sobre a crise
política brasileira, afirmou que os deputados federais gaúchos "mal e mal
falam entre si" para defender os interesses do Estado, ao contrário dos nordestinos,
"que se unem e levam todas as vantagens porque sabem
fazer política".
Foi depois dessa declaração que Eleonora
falou. "Eles [nordestinos] sabem se unir para ganhar propina. Eu acho que
eles sabem se unir para aumentar a corrupção. Isso eu acho que eles são donos.
Isso eu concordo, plenamente. Talvez até eles não saibam falar muito bem, mas
sabem roubar que é uma maravilha."
Quando avisada por outro vereador que
sua declaração poderia sofrer algum erro de interpretação, a parlamentar
admitiu uma falha: "Eu não tinha me dado conta. Na realidade, eu só quis
falar sobre o político nordestino. O povo nordestino é um povo que merece o
nosso respeito pelo sofrimento dele. Eles não têm culpa nenhuma do seu
político. Eu quis realmente falar sobre o político nordestino", ressaltou.
Conforme o presidente da Câmara
Municipal de Farroupilha, Fabiano André Piccoli (PT), sete dos parlamentares da
Casa solicitaram, nesta manhã, a abertura de uma Comissão de Ética no
Legislativo. Em Farroupilha, essa comissão não é permanente.
"Já dei entrada no requerimento.
Agora vou solicitar aos líderes que indiquem seus vereadores para a comissão.
Haverá um prazo de 90 dias para que o relatório [sobre a quebra ou não de
decoro de Eleonora] seja concluído e apreciado em plenário", explicou.
O presidente da Câmara informou ainda
que, caso seja aprovada alguma punição, ela deve variar de uma advertência, até
a suspensão e cassação do mandato. Contatada pela reportagem, a assessoria de
Eleonora afirmou que ela se pronunciaria apenas por meio de uma nota. No texto,
a vereadora se desculpa e diz que sua fala está sendo republicada de forma
"descontextualizada do que realmente era objeto de discussão pelo
Plenário".
"Manifestei-me, referindo-me
exclusivamente aos políticos nordestinos --e não ao povo nordestino--, ocasião
em que efetivamente fiz considerações desabonatórias ao seu modo --dos
políticos nordestinos, reitera-se - de fazer política", completa.
Mais adiante, Eleonora imputa à
"oposição" a "tentativa de distorcer" sua fala. "Sempre
me pautei pela retidão de caráter no exercício da minha profissão –sou Médica
Pediatra--, sem qualquer espécie de preconceito, ingressando na esfera política
a fim de garantir um mínimo de representação feminina na Câmara de Vereadores
de Farroupilha."
Por fim, ela ameaça: "Informo que
eventualmente medidas judiciais serão tomadas em face daqueles que,
deliberadamente e de modo vil, tentam impingir-me uma conduta desabonatória,
descontextualizando a minha fala, modo a fazer parecer que eu estava me
referindo genericamente ao povo nordestino quando, ao fim e ao cabo, o que
estava fazendo era defendendo-o."
Assista ao vídeo da sessão com a fala da vereadora
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