Acusado em delação de receber propina,
Elsinho Mouco, marqueteiro de Temer, diz ter sido pago por empresário para
‘derrubar’ a petista
Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
Acusado por Joesley Batista em sua
delação premiada de ter recebido R$ 3 milhões em propina da JBS na campanha de
2010 e outros R$ 300 mil em espécie em 2016 a pedido do presidente Michel
Temer, o publicitário Elsinho Mouco disse ao Estado que o empresário o
contratou com dois objetivos: eleger o irmão José Batista Júnior em Goiás e
“derrubar” a presidente Dilma Rousseff na esteira do movimento pelo
impeachment.
Numa das conversas entre eles, em maio
de 2016, no auge do movimento “Fora, Dilma”, Joesley se ofereceu para pagar por
um serviço de monitoramento de redes sociais que nortearia a estratégia do PMDB
de blindagem a Temer. Na ocasião, foi incisivo: “Vamos derrubar essa mulher”.
Marqueteiro oficial de Temer desde 2002,
quando o peemedebista foi eleito deputado federal, Elsinho é ainda hoje o
principal conselheiro de comunicação do presidente e um dos redatores de seus
discursos.
Foi ele, por exemplo, que escreveu o
pronunciamento no qual Temer finalizou dizendo com o dedo em resiste “Não
renunciarei”. Contratado pelo PMDB, Elsinho também foi um dos criadores do
programa Ponte para o Futuro e autor de ideias como slogan “Bora, Temer” para
substituir o “Fora, Temer” no pós-impeachment de Dilma.
Sua narrativa de defesa, que ainda será
apresentada, começa em 2009, ano em que foi chamado para coordenar o projeto
político do irmão mais velho da família Batista, e termina em janeiro de 2017
em um encontro regado a “Whisky 18 anos” e “camarões gigantes” na residência de
Joesley, no bairro Jardim Europa, na capital paulistana.
Indicado por um amigo em comum, Elsinho
desembarcou em Goiânia em 2009 com a missão de colocar “Junior Friboi” na
acirrada disputa pelo governo goiano no ano seguinte. O marqueteiro conta que
gravou vídeos, fez logotipo, encomendou pesquisas e fez tudo mais que o script
de uma campanha competitiva e com recursos ilimitados exige.
Total de gastos ficou em R$ 3 milhões.
Mas quando a disputa estava para começar para valer, Joesley “deu de presente”
ao irmão a consultoria de outro marqueteiro renomado e Elsinho foi dispensado.
Junior Friboi acabou, entretanto, desistindo de entrar na política, pelo menos
naquele momento.
Player
Era uma quarta-feira no começo de maio
do ano passado, quando Elsinho recebeu um convite de Joesley para uma visita.
“Ele era um player, o maior produtor de proteína animal do mundo. Era objeto de
desejo de todo mundo. Cheguei com duas horas de antecedência para não correr o
risco de ficar parado no trânsito”, contou o marqueteiro.
Seu objetivo era conquistar a conta
publicitária de pelo menos uma das inúmeras empresas do grupo, mas a conversa
enveredou por outro caminho. “Para minha surpresa, ele chamou Dilma de ingrata,
grossa e incompetente. E disse: ‘Temos que tirá-la’”, lembrou.
A surpresa se deve pelo fato da JBS
sempre ter mantido boas relações com os governos do PT. Apesar do crescimento
do movimento pelo impeachment entre empresários, os Batistas nunca criticaram
Dilma publicamente.
Protagonismo
Entre goles de whisky e mordidas de
camarão no espeto, Joesley teria dito que gostaria de ajudar de alguma forma o
movimento das ruas. “Em 2016, empresários, sindicatos patronais, movimentos
sociais (MBL, Vem Pra Rua, Endireita Brasil, etc), muita gente queria o
impeachment da Dilma. Uns contrataram carro de som, outros contrataram
bandanas, pagaram por bandeiras, assessoria de imprensa. Teve gente que comprou
camisa da seleção brasileira e foi pra rua. O Joesley estava nessa lista. Ele
se ofereceu para custear o monitoramento digital nesta fase”, contou o
marqueteiro.
O empresário perguntou então quanto
custaria o serviço, que a princípio seria pago pelo PMDB nacional. “R$ 300
mil”, respondeu Elsinho de pronto. “Eu pago isso. Vamos derrubar essa mulher”,
teria dito Joesley. Segundo o marqueteiro, o dono da JBS chamou então um
mordomo e deu a ordem: “Pega lá R$ 300 mil e entrega para o Elsinho”. O
dinheiro teria sido colocado em uma pasta e deixado no carro do publicitário.
Quanto questionou a melhor forma de emitir nota, o empresário teria
desconversado. Disse que não queria deixar digitais no impeachment e o assunto
ficou para depois.
Segundo Elsinho, uma das “maiores
empresas” de assessoria de imprensa foi contratada para o serviço. “Paguei
quase R$ 200 mil para eles, R$ 60 mil de imposto e R$ 40 mil e pouco de lucro
para mim”, disse. O resultado serviu para monitorar movimentos pró-impeachment,
o PMDB e a Fundação Ulysses Guimarães.
A nota teria sido feita então à revelia
do Joesley. Cinco meses depois da conversa, os dois voltaram a se encontrar.
Elsinho achou que finalmente “seria testado” como publicitário de umas das
empresas do grupo. Mas, de novo, a conversa iria por outro caminho. “Ele disse
que tinha um problema, que estava sem entrada no governo desde a queda de Geddel
Vieira Lima e pediu marcar uma conversa. Ele queria um cúmplice”.
Procurada pela reportagem, a assessoria
da JBS disse que “os atos cometidos pelos executivos foram informados à PGR e
estão documentados nos autos da delação homologada pelo STF. A Companhia
prossegue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira."/
COLABOROU VALMAR HUPSEL FILHO
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