Avaliação no governo é de que ministros
de Temer, já investigados na Lava Jato, entrem na mira da PGR
Carla Araújo, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Com a prisão do ex-ministro
da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, nesta segunda-feira, 3, chamado de
“mensageiro” pelo empresário Joesley Batista, da JBS, o Palácio do Planalto
agora se preocupa com possíveis investidas do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, sobre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco
(Secretaria-Geral). Investigados na Operação Lava Jato, eles são os auxiliares
mais próximos do presidente Michel Temer.
A Procuradoria-Geral da República (PGR)
pode agora tentar acelerar as apurações contra os dois peemedebistas, na
avaliação de assessores do Planalto. Com isso, a prisão de Geddel na Operação
Cui Bono?, um amigo pessoal de Temer há mais de 30 anos, reacendeu a
preocupação com a crise política, uma vez que a semana havia começado em um
clima mais “tranquilo”, nas palavras de um aliado.
Com as decisões do Supremo Tribunal Federal
(STF), na sexta-feira passada, de devolver as funções parlamentares de Aécio
Neves (PSDB-MG) ao Senado e soltar o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR), o Planalto avaliava que poderia se concentrar nas articulações com a
base para ter voto suficiente na Câmara para barrar a denúncia por corrupção
passiva apresentada por Janot contra Temer. São necessários 342 votos para dar
prosseguimento da acusação.
Agora o governo quer evitar que o caso
Geddel contamine as negociações na Câmara. Embora aliados tentem minimizar o
impacto da prisão, sob a alegação de que não tem relação com o caso JBS, foi
com base nos depoimentos de Joesley e também do operador Lúcio Funaro que a
prisão preventiva foi decretada. Em entrevista a Época, o empresário afirmou
que Geddel era o “mensageiro” de Temer para tratar de interesses do Grupo
J&F e o responsável por averiguar se Funaro e o deputado cassado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), ambos presos na Lava Jato, não fariam delação.
Oficialmente, o governo não comentou a
prisão de Geddel e lembrou de sua saída em novembro passado, quando foi acusado
pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero de pressioná-lo a produzir um
parecer técnico para viabilizar um empreendimento imobiliário em Salvador em
área tombada.
Interlocutores do Planalto, no entanto,
já diziam que a prisão do ex-ministro seria um baque para o presidente. Logo
depois de tomar conhecimento da prisão de Geddel, auxiliares de Temer não
conseguiam disfarçar o desânimo com mais uma notícia negativa para o governo.
Normalidade. Antes da prisão de Geddel
em Salvador, Temer anunciara que vai à reunião do G-20, em Hamburgo (Alemanha),
na sexta-feira, para mostrar que o “País não pode parar” – o evento é
considerado fundamental pelo governo na agenda da retomada da confiança.
Já no Congresso, o líder do governo,
André Moura (PSC-SE), disse que o caso Geddel não terá influência na análise da
denúncia. “Espero que não tenha nenhum impacto porque o motivo que gerou a
prisão não tem nenhum tipo de conexão com a denúncia. Nossos parlamentares têm
transmitido a certeza da rejeição da denúncia”, afirmou. Ele, porém, admite que
é preciso trabalhar para que a prisão não contamine o ambiente na Câmara.
Já o líder do governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), evitou comentar o caso. “Acho que a prisão deve ser o último
recurso, mas não conheço o processo, então prefiro não comentar”, disse o
senador.
COLABORARAM DAIENE CARDOSO, THIAGO FARIA e JULIA LINDNER
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