Além
disso, os alunos vestiam roupa militar e camisetas onde se lia Trump e fizeram
ameaças: “As petistas safadas vão ter de tomar cuidado”; direção da instituição
vai abrir sindicância
Por Lucas Vasques
Revista Fórum
Estimulados pelo clima político atual e
pela vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições presidenciais, um grupo de
alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo (FEA-USP) ingressou nas dependências da instituição armado.
Estavam vestidos com roupa militar e camisetas em que se lia Trump,
fotografaram salas de aula, fizeram uma espécie de performance, anunciando a
chegada da “nova era” e fazendo ameaças: “As petistas safadas vão ter de tomar
cuidado”.
A foto dos alunos circulou entre grupos
de WhatsApp e pelas redes sociais e causou uma rápida reação tanto dos
estudantes como da direção. Ainda na noite desta segunda-feira (29), uma
reunião de alunos foi realizada para debater a questão.
“O caso é grave. A direção da faculdade
e o Centro Acadêmico Visconde de Cairu divulgaram notas de repúdio e a direção
se comprometeu a abrir sindicância para apurar os fatos. Além disso, vamos
realizar nos próximos dias uma plenária entre estudantes, professores e e
funcionários, com o objetivo de centralizar forças contra a violência. As
manifestações de ideias divergentes podem ocorrer, mas sempre preservando o
debate democrático, sem violência”, afirmou Rodrigo Toneto, estudante de
mestrado de Economia e integrante do DCE Livre da USP.
Nota
de repúdio do CAVC FEA-USP
A Gestão Delta do Centro Acadêmico
Visconde de Cairu vem por meio desta nota mostrar sua indignação perante as
demonstrações fascistas que têm ocorrido em nossa Universidade.
Na manhã desta segunda-feira (29), após
o resultado das eleições presidenciais, uma foto bastante preocupante circulou
pelos grupos de WhatsApp da comunidade FEAna. Na imagem, um conjunto de alunos
em sala de aula da faculdade segura armas e cartazes com os dizeres “está com
medo, petista safada?”; além disso, a imagem acompanha frases como “nova era” e
“B17”, comemorando a vitória do candidato Jair Bolsonaro. Apesar do cunho
eleitoral, não se trata de uma simples manifestação política: é um retrato
misógino e violento, de caráter fascista, que ameaça os direitos democráticos
da coletividade dos estudantes.
A foto faz parte de uma onda de
extremismo e práticas violentas por todo país. Só em nossa Universidade,
observamos também suásticas sendo pintadas na porta de residências estudantis e
apologia à violência dentro dos campi. Diante deste cenário, é preciso que nós
tenhamos posicionamento em nome da democracia e pela paz. Entendemos que a
Universidade deve permitir a livre expressão e a militância política de seus
associados, entretanto, posições contra os direitos humanos ou que propaguem o
medo e a violência não devem, de forma alguma, ser toleradas. Devemos nos
colocar por um país onde a manifestação política e o engajamento seja livre, e
não motivo de ameaça e medo. Por um país onde pobres, mulheres, LGBTs,
nordestinos, negros e negras e qualquer outra pessoa não se sintam ameaçadas
dentro de seu próprio ambiente de ensino por pensarem de forma contrária ao
governo. Devemos nos posicionar contra qualquer manifestação de cunho fascista
que ponha em risco as liberdades democráticas.
Demonstrações de ódio como a presente na
imagem são inadmissíveis em quaisquer contextos, principalmente dentro de uma
sala de aula universitária. Nesse sentido, repudiamos a prática e aqueles
responsáveis, e saudamos o posicionamento da instituição diante do ocorrido.
Esperamos que o caso seja encaminhado com a seriedade devida.
Não podemos ficar calados diante de uma
ameaça como esta.
Nós, estudantes, resistimos!
Nota
de repúdio da direção da FEA-USP
A direção da FEA vem a público para
repudiar as ações de incitação à violência que estão ocorrendo dentro do
ambiente da USP e, particularmente, da FEA.
A Universidade existe como um campo de
debate de inúmeros temas, inclusive o político, e a nossa tradição é pacífica.
E queremos que assim continue, para todos, num ambiente em que a pluralidade
seja uma prática real, politica, religiosa, de gênero ou outra perspectiva.
O período eleitoral foi tenso e as
expectativas oscilaram com muita radicalização. Uma vez terminado o processo
eleitoral, imagina-se que as acomodações ocorram e os ânimos sejam acalmados.
Afinal a vida segue.
Em algumas situações algo que pode ser
pensado como “brincadeira” pode ser o estopim para aumento da agressividade e
mesmo ameaças. Isso é inaceitável pois queremos um ambiente em que a comunidade
possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse
cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização.
Além de todos os esforços para manter
integridade e paz no ambiente da FEA, ações que intimidem, ofendam e causem
reações e danos serão rigorosamente coibidas e punidas.
Fábio Frezatti
Diretor da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da USP
Muito canalhas pegar um meme para fazer militância
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