Diálogo gravado no dia 11 de
março mostra ex-presidente da Transpetro e presidente do Congresso avaliando a
situação do senador tucano, alvo de dois pedidos de inquéritos da
Procuradoria-Geral da República
Por Redação
O Estado de São Paulo
O presidente nacional do PSDB,
senador Aécio Neves, aparece mais uma vez nos bombásticos diálogos do
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com caciques do PMDB. Em uma das
conversas com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) sobre os avanços
da Operação Lava Jato, no dia 11 de março, o parlamentar tucano é citado como
sendo “o cara mais vulnerável do mundo”.
“Machado – E o PSDB pensava que
não (seria atingido pela operação), mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o
cara mais vulnerável do mundo.
Renan – É…”
O tucano também apareceu na
conversa de Machado com Romero Jucá (PMDB) divulgada na segunda-feira, 23, e
que acabou derrubando o senador do Ministério do Planejamento com apenas 12
dias do governo interino de Michel Temer (PMDB). Na ocasião, Jucá também afirmou
ao ex-presidente da Transpetro que “caiu a ficha” de líderes do PSDB. “Todo
mundo na bandeja para ser comido”, disse o senador.
Aécio é alvo de dois pedidos de
inquérito no Supremo Tribunal Federal após ser citado pelo ex-senador Delcídio
Amaral em sua delação premiada. Em um dos inquéritos, o procurador-geral da
República pede para investigar o parlamentar pelas suspeitas de que ele recebia
propina em contratos de uma diretoria da estatal Furnas indicada por ele.
Em outra frente, Janot quer
investigar as suspeitas de que o tucano teria atuado para maquiar as contas do
Banco Rural que envolveriam nomes do PSDB no esquema de corrupção operados por
Marcos Valério em Minas Gerais durante a CPI dos Correios, em 2005, presidida
na época por Delcídio Amaral. Os dois pedidos de inquérito estão sob relatoria
do ministro Gilmar Mendes.
O presidente do PSDB aparece no
diálogo, como sendo “o primeiro a ser comido”. “O Aécio não tem condição, a
gente sabia disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do
Aécio? Eu, que participei da campanha do PSDB…”, falou Machado. “A gente viveu
tudo”, se limitou a dizer Jucá.
No diálogo revelado nesta
quinta-feira, 26, pela repórter Camila Bonfim, da TV Globo, Sérgio Machado
também cita vários outros políticos e critica nomes do DEM, como o deputado
líder do partido na Câmara, Pauderney Avelino (AM) e o agora ministro da
Educação do governo Temer, deputado Mendonça Filho (PE), chamados de corruptos
na conversa.
“Machado – O Aécio é
vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo. Há muito tempo! Como é que você tem cara de
pau Renan, aquele cara Pauderney (Avelino, líder do DEM na Câmara) que agora
virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
Renan – Pauderney Avelino,
Mendoncinha (Mendonça Filho)…
Machado – Mendoncinha (Mendonça
Filho), todo mundo pô? Que merda é essa querer ser agora dono da verdade? O Zé
(Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer
maluquice.
Renan – O Zé nós combinamos de
botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo encontro que a
gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho.”
Além das conversas com Renan e
Jucá, Machado também gravou seus diálogos com o ex-presidente José Sarney
(PMDB). Machado foi filiado ao PSDB por dez anos, período em que chegou a se
eleger senador e virar líder da sigla no Senado. Posteriormente se filiou ao
PMDB e, há pelo menos 20 anos, mantém proximidade com a cúpula do partido que
chegou à Presidência da República após o afastamento temporário de Dilma
Rousseff com a abertura do processo de impeachment no Senado.
COM A PALAVRA, AS DEFESAS:
Veja o que disseram os políticos
citados nos diálogos à imprensa:
A defesa de Sérgio Machado
afirmou que os autos são sigilosos e que, por isso, não pode se manifestar.
O líder do DEM na Câmara,
deputado Pauderney Avelino, disse que nunca conversou com Sérgio Machado e que
nunca indicou qualquer diretor para a Petrobrás ou qualquer estatal. Ele disse
também que não tem envolvimento com a Operação Lava Jato ou qualquer outra
operação. Para ele, o caso foi uma citação lamentável, de uma pessoa
desesperada.
O ministro da Educação, Mendonça
Filho, disse que as gravações comprovam que ele não está incluído nas
irregularidades investigadas e que sua atuação como líder oposicionista ao
governo do PT incomodou. Mendonça Filho disse também que seu papel nunca foi de
dono da verdade, mas de fiscalizar as irregularidades do governo.
O senador Fernando Bezerra, que
é investigado na Lava Jato, disse que não vai comentar uma eventual conversa de
terceiros cujo conteúdo desconhece. Já o senador José Agripino disse que nunca
teve nenhuma conversa com Renan, nem com Sérgio Machado, em que o assunto Lava
Jato fosse sequer mencionado.
A Odebrecht e o jornalista
Ricardo Noblat não vão se manifestar. O ministro Teori Zavascki também não vai
comentar o conteúdo dos aúdios.
O PSDB disse que não existe nas
gravações qualquer acusação ao partido ou ao senador Aécio Neves. O partido
disse que vai acionar Sérgio Machado na justiça pelas menções que considera
irresponsáveis feitas ao partido e a seus líderes.
O PMDB disse que sempre
arrecadou recursos seguindo os parâmetros legais em vigência no país e que
doações de empresas eram permitidas e perfeitamente de acordo com as normas da
justiça eleitoral nas eleições citadas. Segundo o partido, em todos esses anos,
após fiscalização e análise acurada do Tribunal Superior Eleitoral, todas as
contas do PMDB foram aprovadas, não sendo encontrado nenhum indício de
irregularidade.
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