Ações judiciais exigem que
repórteres do jornal Gazeta do Povo, o mais antigo do Paraná, tenham que passam
praticamente toda a semana viajando para comparecer a audiências

POR MATEUS COUTINHO
O Estado de São Paulo
O número de ações movidas por
juízes e promotores contra três repórteres e outros dois profissionais do
jornal Gazeta do Povo, do Paraná, chegou a 45. As ações tiveram início após a
publicação de reportagem sobre os vencimentos dos magistrados e representantes
do Ministério Público neste ano.
Os processos começaram a ser
ajuizados em abril, em várias cidades paranaenses. O fato tem alterado a rotina
dos profissionais do jornal, de 97 anos de existência. As audiências marcadas
para ontem no interior do Estado foram remarcadas. Hoje, o grupo viaja para
União da Vitória, cidade localizada a três horas de Curitiba, para participar
de uma das audiências.
Eles se deslocam e retornam no
mesmo dia. Amanhã, seguem para Medianeira, a 600 quilômetros da capital
paranaense, para depor em audiência marcada para quinta-feira.
A reportagem publicada em
fevereiro mostrava que, somadas as gratificações, o rendimento médio dos juízes
e promotores superava o teto constitucional do funcionalismo público, de mais
de R$ 30 mil.
“Essas ações adicionais,
infelizmente, só mostram que tem mais alguns juízes que não conseguem entender
que a função que eles exercem é pública, e que a remuneração deles faz parte de
um debate público necessário”, disse o diretor de redação da Gazeta do Povo,
Leonardo Mendes Júnior.
“Esperamos que esse aumento de
ações ajude na compreensão total da ministra Rosa Weber do que está acontecendo
aqui no Estado e de que esse é um caso para o Supremo Tribunal Federal”,
afirmou o diretor de redação, lembrando que o jornal aguarda decisão da
ministra sobre um recurso movido há duas semanas para que as ações sejam
encaminhadas à Corte.
As ações judiciais foram alvo de
notas de repúdio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji),
da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI) e da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), cujos dirigentes
denunciaram a situação de “assédio judicial”, na sexta-feira passada no 29.º
Congresso Mundial dos Jornalistas, em Angers, na França.
Ao todo, os processos contra os
repórteres (Francisco Botelho Marés de Souza, Rogério Galindo e Euclides
Garcia), um analista de sistemas (Evandro Balmant) e um infografista (Guilherme
Storck) cobram indenização de R$ 1,3 milhão do jornal.
Áudio do presidente da
Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Francisco Mendes Júnior,
reforçou a suspeita de uma ação coordenada dos magistrados. “Já estamos
providenciando um modelo de ação individual feito a muitas mãos por vários
colegas e com viabilidade de êxito para que cada um possa ingressar com essa
ação individual caso considere conveniente”, diz ele no WhatsApp.
O Estado procurou ontem a
Associação dos Magistrados do Paraná, mas nenhum representante foi localizado
para comentar o caso.
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