Sobre a volta de Roseana na disputa ao governo, Flávio Dino diz que isso mostra muito um saudosismo do uso da máquina administrativa. "Estão com síndrome de abstinência de recursos públicos, de luxos. O grupo empresarial deles depende de recursos públicos, que é um sistema de comunicação [Mirante] cujo maior anunciante era o próprio governo do Estado. Ela pagava ela mesma"
Folha – “Comunista graças a Deus”,
Flávio Dino (PC do B) começou a governar o Maranhão com a imagem de um só
santo, são Francisco de Assis, em seu gabinete. Três anos depois, tentará a
reeleição com dez santos na bancada.
De frente para sua mesa, a mesma que foi
de Roseana Sarney (MDB), sua adversária política, Dino pregou uma tela da
Muralha da China (“uma lição de paciência”), ornando com bustos do comunista
Mao Tsé-Tung e o socialista Salvador Allende.
A vista da sacada do Palácio dos Leões,
para onde Dino escapa quando precisa espairecer, não o deixa esquecer o desafio
que é governar o Estado mais pobre do país, segundo o IBGE. Seu horizonte é uma
favela erguida sobre palafitas ao lado do metro quadrado mais caro de São Luís,
no forte da ponta de São Francisco.
Folha
– Maranhão hoje é compatível com o tempo que vive?
Flávio Dino – Eu brinco que esse negócio
do Juscelino, de 50 anos em 5, era fácil. Aqui são quatro séculos em quatro
anos. As pessoas terem escola de tijolo, não de palha ou barro, é uma agenda do
século 18. As pessoas terem acesso a carteira de identidade é século 19. Ao
mesmo tempo, temos uma agenda do século 20 e 21, escola em tempo integral,
programa para mandar nossos estudantes para estudar no exterior. Não tivemos
greve, pela política respeitosa com os servidores. Aqui a gente não debate o
Estado mínimo.
Por
quê?
Aqui o povo quer serviço público. Se não
for o Estado, não é ninguém.
Como
as candidaturas que propõem um enxugamento do Estado vão se sair?
No Nordeste, muito mal. Porque é quase
que uma incompatibilidade ontológica, de essência. A reforma da Previdência vai
virar um peso nas costas de quem a defender. Claro [que sou contra], e a
trabalhista é pior ainda. Esse neoliberalismo vulgar que às vezes um Amoedo
(Novo) da vida professa não tem aderência à realidade brasileira.
Há
exasperação com a revelação de que o tamanho do Estado possibilitou corrupção.
Mas isso é puramente ideológico. É
verdade que havia infelizmente corrupção na Petrobras, por exemplo, mas quem
estava ao lado? Grandes corporações privadas. Então, se fosse extinguir o
Estado porque é corrupto, ia extinguir o mercado junto.
A
Lava Jato criou distorções?
A Lava Jato criou uma narrativa em que
os empresários, que eram o chapeuzinho vermelho, bonzinhos, foram extorquidos
pelo lobo mau, que era o Estado. Pelo amor de Deus! Todo mundo sabia o que
estava fazendo.
A Lava Jato acertou mais que errou, mas
errou nesse ponto fundamental, por incompreensão ou conivência. Não critico
tanto as decisões.
A
de Sérgio Moro contra o Lula o senhor critica.
É um escândalo, uma monstruosidade
jurídica. O leitor pode dizer: é porque ele apoia o Lula. Primeiro, o Lula
nunca me apoiou aqui.
Vai apoiar em 2018?
Eu espero. Sou cristão, acredito em
coisas boas. Como você vai dizer que ele é dono de um apartamento que
comprovadamente está no patrimônio de um banco? Aí sim a instrumentalização da
Lava Jato atende a certos interesses que hoje não estão claros.
Seu
irmão Nicolao Dino é próximo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Como vê a
atuação do grupo?
Janot errou. Podia ter evitado o caos
político e jurídico em que o Brasil se meteu e ele aderiu. Por quê? Não sei
dizer.
O
presidente Temer não indicou seu irmão, mas Raquel Dodge para suceder Janot.
Tenho a impressão de que Raquel não vai
na direção de ser arquivadora-geral. A indicação de Fernando Segovia na Polícia
Federal, apoiado por Sarney, vinculado politicamente a uma certa posição [é
mais problemática]. É difícil qualquer pessoa dizer que vai parar a Lava Jato.
Ainda
tem vida longa?
Tem, porque tem os filhinhos dela,
netinhos. A família é grande. Vai continuar até que a política se rearrume. Ela
virou o principal polo de poder do país, porque não tem outro. Depois das
eleições, a força da Lava Jato tende a diminuir, porque é uma anomalia ter um
conjunto de profissionais não eleitos com esse poder de ditar o ritmo do país.
O
que mostra a volta de Roseana na disputa ao governo?
Mostra muito um saudosismo do uso da
máquina administrativa. Estão com síndrome de abstinência de recursos públicos,
de luxos. O grupo empresarial deles depende de recursos públicos, que é um
sistema de comunicação [Mirante] cujo maior anunciante era o próprio governo do
Estado. Ela pagava ela mesma.
O
senhor anuncia na Mirante?
Sim, mas bem menos [de 54% da verba
publicitária em 2012, caiu para 19% em 2017].
O
senhor quer o apoio do Lula no Maranhão, mas seu partido tem outra candidatura.
Há a compreensão de que, no Maranhão,
pelo sarneysismo, precisamos fazer uma aliança ampla. Palanque aberto. Ainda
tem o Ciro Gomes, o PDT é um aliado nosso.
Quem
é o melhor?
Os três têm suas virtudes. Não posso
dizer em quem eu vou votar porque dá ciúme.
Não
vai votar no seu partido?
Se Manuela estiver na urna, voto nela,
claro.
Lula
irá até o fim?
Lula deve manter a candidatura até o
limite. A candidatura dele é fundamental, imprescindível. Só há eleições livres
com ele sendo candidato, não há razão para não ser, a não ser um processo de
lawfair, de perseguição judicial. Pergunte a um cidadão médio: o que você acha
de Sarney ou Collor soltos e Lula preso? Isso pode tisnar, criar uma nódoa na
eleição, é muito grave. Metade da população tem intenção de votar nele.
Metade?
Claro. Se for candidato, ganha. Se a
elite brasileira tivesse um pouquinho de espírito nacional, e menos espírito de
Miami, concordaria que Lula é importante para o Brasil. [Tirá-lo] abre espaço
para uma aventura que seria Bolsonaro presidente, um suicídio nacional e
coletivo. (Thais Bilenky, enviada especial a São Luís -MA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário