Por Tereza Cruvinel
As últimas horas mostraram a extensão e
a força da doença que castiga o Brasil, o antipetismo que espalha ódio e
subtrai ao país qualquer possibilidade de pacificação política no médio
prazo. “Leva e não e traz nunca mais”,
disse possivelmente um operador de voo ao piloto que conduzia o
ex-presidente Lula no avião da Polícia
Federal para Curitiba.
Este áudio foi divulgado pelo portal R7,
mas o JB teve acesso a outro, em que uma voz masculina diz: “manda este lixo janela
abaixo aí”. A Força Aérea Brasileira,
responsável pela aeronave, confirmou a gravação divulgada pelo R7, mas não
informou se irá investigar e identificar os
responsáveis por impropriedades tão graves numa operação de alta
responsabilidade.
A doença do antipetismo manifestou-se de
forma exuberante ao longo das 46 horas que precederam a apresentação de Lula à
Polícia Federal, saindo a pé de um sindicato cercado por manifestantes que tentaram
impedir sua prisão, contrariando sua própria decisão. Fogos, distribuição de
bebida gratuita em cabaré de luxo e finalmente os rojões atirados contra o
avião no desembarque em Curitiba, por manifestantes que não foram incomodados,
enquanto os apoiadores de Lula eram atacados pelas PM.
O antipetismo não começou com o
mensalão, o petrolão ou o tríplex do Guarujá. Surgiu antes de tudo isso, no primeiro governo Lula, e brotou numa
classe média que se entende vítima, e não beneficiária, da redução da pobreza,
e que reagiu fortemente às medidas de inclusão, como o Bolsa-Família.
Voltando aos insultos que só podem ter
partido de pessoas envolvidas com a gestão do espaço aéreo, uma atividade de
segurança nacional, numa dos áudios vazados uma voz masculina, da cabine do
avião PR-AAC, reclama:
- Vamos tratar só do necessário. Vamos
respeitar o nosso trabalho aqui.
- Eu respeito mas manda este lixo janela
abaixo aí...- responde outra voz de homem.
Uma voz feminina entra na conversa e
diz:
- Pessoal, a frequência é gravada e pode
ser usada contra a gente. Então, mantenham a fraseologia padrão, por gentileza.
A gravação divulgada pelo portal R7
revela um segundo diálogo entre o piloto que conduziu o avião do aeroporto de
Congonhas ao de Curitiba na noite de sábado. Depois que o piloto repete os
dados sobre a aeronave e a rota de voo, uma voz masculina diz:
- Leva e não traz nunca mais.
Por meio de nota divulgada para o
R7, a FAB (Força Aérea Brasileira)
confirmou que a conversa ocorreu instantes antes da decolagem da aeronave,
assegurando que a frase não foi dita por
um controlador da torre. No entanto, a FAB não soube informar se foi dita por
um piloto ou tripulante.
"Podemos assegurar que a observação
ao final do áudio em questão não foi feita pelo controlador de tráfego aéreo.
Ressalva-se que a frequência utilizada para essas comunicações aeronáuticas é
aberta, por isso quem estiver conectado pode ouvir e falar. Porém, as regras de
tráfego aéreo orientam que os usuários se identifiquem, o que evidentemente não
ocorreu neste caso."
Querendo, entretanto, a FAB tem todos os
meios para identificá-los.
Ouça os áudios
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