Tantos episódios do tipo motivaram
a criação de serviços para mapear a intolerância no país. Também há páginas que
se dedicam a compartilhar relatos das vítimas
Desde o final da noite do último domingo
(7), quando ficou definida a realização do segundo turno na eleição para
presidente, os casos de violência por discordâncias políticas cresceram de
forma assustadora no Brasil.
Relatos de agressões físicas e verbais
se tornaram frequentes. No Recife, o último episódio a vir à tona foi o ataque
sofrido por uma servidora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), que teve o pulso
quebrado após uma discussão política em um bar e precisou passar três dias
internada. A agressão aconteceu no domingo passado.
Tantos casos do tipo motivaram a criação
de serviços para mapear a violência eleitoral no país. A Agência Pública
realizou um levantamento das agressões ocorridas até a última quarta-feira (10)
e constatou que ocorreram pelo menos 70 ataques nos últimos 10 dias. Segundo o
estudo, foram 50 agressões cometidas por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL),
seis ataques contra os eleitores do candidato e 15 casos de natureza
indefinida.
Também há páginas que se dedicam a
compartilhar relatos das vítimas. É o caso dos sites Mapa da Violência e
Vítimas da Intolerância. Os endereços reúnem histórias e falas reais de quem
sofreu com a violência política no Brasil. “Estava com um amigo em um estabelecimento
quando passaram três jovens e gritaram que Bolsonaro iria mandar matar os
viados (sic)”, conta em uma das páginas um jovem bissexual que preferiu não se
identificar.
“Publiquei no meu mural do Facebook que
quem planta ódio, recebe ódio. Pessoas que me conhecem há 25 anos, homens,
empresários, partiram com muitas agressões num bombardeio de grosserias e
ameaças. Outro ex-amigo disse: ‘sua vagabunda comunista. Você também merece ser
estuprada’. Foram horas de terror. Não durmo mais direito desde esse dia”,
narra uma mulher de Alagoas.
O jornalista Haroldo Ceravolo criou um
mapa no Google com casos de violência registrados desde o dia 1 de outubro.
Segundo ele, a ideia surgiu após ler e ouvir relatos de pessoas que estavam
sendo ameaçadas por seus posicionamentos políticos. “No dia da votação os casos
estouraram e comecei a ver que estava compartilhando no Facebook várias
histórias preocupantes. Comecei a compilar as informações e o número de
episódios foi muito maior do que eu esperava”, afirma.
O trabalho cresceu de tal forma que ele
já começou a contar com a ajuda de colaboradores. Ele também diz se espantar
com os relatos. “Há um discurso da polarização, que eu discordo, mas os casos
são muito mais radicais do que eu esperava. Em muitas histórias as partes não
chegam nem a discutir. Temo muito pelo que vai acontecer, eu nunca vi isso,
porque normalmente os dias de eleição sempre foram menos violentos do que dias
correntes. Em 2014, mesmo nos piores momentos de tensão não tivemos episódios
de violência como estes”, se preocupa.
Haroldo acredita que os candidatos devem
trabalhar para arrefecer os ânimos no país. “As pessoas devem sim pensar no que
vai acontecer com elas nos dias de amanhã, mas acho que a principal obrigação é
dos políticos. Um candidato não pode chegar e dizer que não tem como se
responsabilizar pelos casos. É praticamente dar carta branca para atos desse
tipo”, declara. Quem quiser denunciar algum episódio basta preencher o
formulário online.
O
que os candidatos dizem
Tanto Jair Bolsonaro quanto Fernando
Haddad se manifestaram nas redes sociais sobre a onda de agressões. Bolsonaro
disse não querer votos de quem pratica violência. “Dispensamos voto e qualquer
aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A
este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as
autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que
tentam nos prejudicar”, disse no seu Twitter.
Fernando Haddad também lamentou os
episódios no seu Twitter. “Essa escalada de violência tem que ter fim. Estamos
recebendo denúncia de atos violentos em todo o país. Hoje uma jovem de 19 anos
foi praticamente sequestrada por três apoiadores do Bolsonaro e teve uma
suástica entalhada no seu corpo com um canivete. Isso precisa parar”, pediu.
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