VALDO
CRUZ, GUSTAVO URIBE, DANIEL CARVALHO E DÉBORA ÁLVARES
FOLHA
DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
Em meio às críticas de integrantes da
força-tarefa da Operação Lava Jato, o presidente da República, Michel Temer,
fez acordo com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de fazerem um pronunciamento conjunto neste
domingo (27) contra a proposta de anistia do crime de caixa dois.
A ideia foi do próprio presidente, que
enfrenta a pior crise de seu governo e tenta emplacar uma pauta positiva para
tentar reverter o cenário.
Ele se reuniu neste sábado (26) com Maia
no Palácio do Jaburu e acertou o formato do discurso, planejado desde
sexta-feira (25), quando Geddel Vieira Lima pediu demissão da Secretaria de
Governo após denúncia de que teria atuado na esfera governamental para garantir
interesses pessoais em Salvador, sua base eleitoral.
Segundo a Folha apurou, a ideia é que os
presidentes do Legislativo não coloquem a proposta para votação. Temer também
deve reforçar a informação que já havia mandado divulgar por meio aliados na
noite de sexta-feira —a de que se a anistia for aprovada pelos parlamentares
será vetada por ele.
Nos últimos dias, Rodrigo Maia comandou
uma série de reuniões com líderes de praticamente todos os partidos para tratar
do assunto. Eles tentariam aprovar a anistia apresentando uma emenda em
plenário. Já havia articulação, inclusive, para que o texto fosse levado
imediatamente ao Senado, onde seria votado sem demora.
Deputados e senadores correram contra o
tempo para que as alterações na lei fossem aprovadas antes que a delação
premiada de executivos da Odebrecht fizesse as primeiras vítimas no Congresso.
O vazamento do plano dos parlamentares,
no entanto, tumultuou a sessão da Câmara na quinta-feira passada (24) e a
votação teve que ser adiada para esta terça-feira (29).
A informação de que a entrevista é para
anunciar que a anistia não será mais votada irritou líderes da base aliada.
Eles temem que o anúncio legitime a tese de que eram os governistas os fiadores
da proposta, já que alguns poucos partidos da oposição –Rede e PSOL– se manifestavam
contra.
Neste sábado (26), Renan antecipou-se ao
presidente da República e afirmou em nota que "o Senado não vai votar
qualquer projeto que envolva eventuais anistias de campanhas eleitorais",
uma vez que já tem uma pauta definida até o fim do ano.
Também no texto, o peemedebista fala em
poupar "o senhor presidente da República de veto ou sanção sobre matérias
dessa natureza".
Apesar de agora se dizer contrário à
proposta, na quinta, enquanto a Câmara tentava votá-la, Renan afirmou que não
havia como anistiar o caixa dois, uma vez que a ação não está tipificada como
crime.
"Estamos tratando das dez medidas
de combate à corrupção. Dentro delas, a possibilidade de não se criminalizar o
caixa dois no passado. Isso não significa anistia, porque não se pode anistiar
um crime que não está tipificado, previsto."
Esse é o mesmo argumento utilizado por
aqueles que defendem anistiar o caixa dois. Destacam, primeiro, que não se pode
punir um crime que não existe. Depois, que não é possível uma penalidade por
algo do passado.
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