Conforme
investigadores, o equipamento utilizado para as gravações não era profissional
e a qualidade do áudio captado é ruim
Por Andreza Matais
O Estado de São Paulo
A Polícia Federal analisa as gravações
apresentadas pelo ex-ministro Marcelo Calero como prova de que foi pressionado
por integrantes do governo Temer a tomar uma decisão que favorecia interesses
pessoais do agora ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Calero informou à PF que gravou o
presidente Michel Temer, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel,
além de outros servidores do Planalto. Ele entregou para a PF esses áudios que
comprovariam suas acusações. Em depoimento à Polícia Federal, Calero afirmou
ter recebido pressão de Temer e seus subordinados para que a decisão final
sobre liberar ou não a construção de um prédio residencial em Salvador fosse da
AGU e não do Iphan, órgão subordinado a pasta da Cultura, que já havia se
posicionado contra. Geddel comprou um apartamento na planta nesse
empreendimento.
Conforme investigadores, o equipamento
utilizado para as gravações não era profissional e a qualidade do áudio captado
é ruim. Por essa razão, as gravações estão sendo submetidas a tratamento
técnico. Segundo relatos, em algumas conversas o áudio está muito ruim, o que
dificulta ouvir os registros das gravações. Em outras, por outro lado, está
muto bom.
Dessa forma, ainda não é possível dizer
quais trechos do diálogo com o presidente Temer relatados por Calero no
depoimento foram captados pela gravação.
A Polícia Federal só irá encaminhar os
áudios para a Procuradoria-geral da República após verificar se o conteúdo confere
com as informações prestadas ou sugerem outras irregularidades envolvendo
pessoas com foro. Para isso, é preciso concluir o trabalho de análise do
material entregue por Calero.
A PF não pode investigar políticos com
prerrogativa de foro sem autorização do STF. Por isso, nessa etapa de análise a
perícia não deve entrar no mérito sobre se as vozes que aparecem nas gravações
são de Temer, Geddel e Padilha, como atesta
Calero.
O ex-ministro da Cultura falou à PF no
sábado, 19 de novembro. Um delegado que atua em Brasília foi ao Rio de Janeiro
para tomar o depoimento.
Ele disse que recebeu três telefonemas
do então colega Geddel para tratar da liberação da obra de um prédio em
Salvador, além de dois encontros. Com o ministro Padilha foram dois telefonemas
e uma reunião.
Com o presidente Temer ele narrou três
conversas. Duas delas no mesmo dia 17 de novembro, no Palácio do Planalto.
Calero já havia se reunido com o presidente e retornou no final da tarde.
‘Especulação’. O ministro da Justiça,
Alexandre de Moraes, disse que o episódio terá que ser analisado. “O processo
está sob sigilo. Os boatos sobre se há ou não gravações serão apurados para
verificar em que condições foram feitas (as gravações), se é que foram feitas”,
afirmou Moraes em evento do PSDB, em Brasília.
Mais tarde, em São Paulo, o ministro
voltou ao tema. “O próprio ministro Calero emitiu nota (mais informações nesta
página) e não deixou claro se houve gravações. O primeiro ponto é: houve ou
não? Houve de quem e o que fala? Antes disso é uma especulação muito grande”,
afirmou. / COLABOROU MARCO CARVALHO
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