O presidente Jair Bolsonaro, cada vez mais isolado,
em meio ao avanço do Covid-19, caminha aceleradamente para o impeachment. Seu
(des)governo pode estar perto de ser implodido, graças às revelações de aliados
que o ajudaram a fraudar as eleições e garantir a vitória. As acusações do
empresário e suplente de senador de Flávio Bolsonaro, Paulo Marinho, reportadas
na Folha de S. Paulo de hoje por Mônica Bergamo, são uma bomba com potencial
explosivo imenso.
É preciso apenas juntar algumas peças numa CPI para
que fique provado que houve uma interferência indevida no processo eleitoral de
2018. Ou seja, que as eleições foram fraudadas por agentes da PF que
simpatizavam com Bolsonaro.
Algumas questões podem ser elucidadas com relativa
facilidade num processo investigatório. Vamos a elas.
1) Paulo Marinho diz que o gabinete de Flávio
Bolsonaro foi avisado uma semana depois do primeiro turno por um agente da PF
do Rio de Janeiro que seria desencadeada a Operação Furna da Onça que atingiria
seu assessor Queiroz. Quem seria esse agente? Será tão difícil assim de
descobrir seu nome? Seguimos…
2) Flávio não teria atendido e nem falado com o
interlocutor que lhe procurava para antecipar algo grave. Mas mandou emissários
ao seu encontro. Segundo Paulo Marinho, o ex-coronel Miguel Braga, atual chefe
de gabinete do filho do presidente no Senado, e o advogado Victor Alves, que
também é assessor de Flávio Bolsonaro, foram ao encontro do interlocutor.
3) Paulo Marinho diz que Victor Alves lhe disse na
presença do Flávio Bolsonaro como se deu o evento com o agente da PF. Eles
teriam marcado um encontro com esse delegado na porta da Superintendência da
Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro. Além do coronel Braga e do
advogado Victor Alves, também estava presente Val Meliga, irmã de dois
milicianos que foram presos na Operação Quatro Elementos.
4) Na calçada em frente à superintendência, o
delegado teria falado que seria deflagrada a Operação Funda da Onça que iria
atingir a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e envolvia Flávio Bolsonaro
e seu assessor Queiroz e a sua filha Nathalia, que trabalhava no gabinete de
Jair Bolsonaro, que ainda era deputado federal em Brasília’.
5) Tudo isso teria acontecido uma semana depois do
primeiro turno. O misterioso agente da Polícia Federal teria afirmado aos
interlocutores de Flávio Bolsonaro que estavam trabalhando para impedir que a
operação acontecesse antes do segundo turno. E pelo jeito conseguiu.
6) Flávio Bolsonaro relatou a conversa de seus
interlocutores com o agente da PF e ambos demitiram, no dia 15 de outubro,
Queiroz e sua filha Natália dos seus gabinetes.
7) Mas quem seria o misterioso agente da PF? É
possível descobrir sua identidade? O deputado federal Paulo Pimenta arrisca um
nome: Alexandre Ramagem. Segundo Pimenta, “a operação Furna da Onça é uma
continuação da operação Cadeia Velha. A operação Cadeia Velha foi coordenada
pelo delegado da PF, Alexandre Ramagem Rodrigues”. Leia mais sobre o assunto
aqui.
8) Mas como é possível descobrir se de fato Ramagem
foi quem passou a informação privilegiada ao gabinete de Flávio Bolsonaro ou se
foi outro agente da PF. Simples. A sede da PF tem câmeras de vídeos por todos
os lados, filmando inclusive às calçadas que ficam à sua frente. Essas
gravações podem ser solicitadas pra checar se os personagens citados estiveram
lá e com quem se encontraram entre o primeiro e segundo turno.
9) Além das câmeras há outras formas para descobrir
quem foi o agente que procurou Flávio Bolsonaro naquele período e que levaram
ele e Jair Bolsonaro a demitirem Queiroz e sua filha Nathalia. Basta quebrar o
sigilo telefônico dos personagens citados e ver se há ligações ou mensagem de
algum agente da PF para eles neste período. Em especial de Alexandre Ramagem.
10) Bolsonaro queria por todos os motivos indicar
Alexandre Ramagem para ser o diretor geral da PF. Moro deixou o governo por
conta disso. Evidente que isso o torna o primeiro suspeito de ter vazado a
informação para Flávio Bolsonaro e também ter segurado a operação para que ela
não mudasse o rumo das eleições.
11) Uma CPI quebrando sigilos telefônicos, ouvindo
depoimentos, fazendo acareações e trazendo filmagens e, ainda mais, sendo
transmitida ao vivo pela TV e chegando às conclusões que parecem estar ficando
óbvias teria todos os ingredientes necessários de uma trama para botar um ponto
final na trajetória política da família.
12) Essa CPI tem todos os elementos para ser
constituída e precisa ser realizada o quanto antes e pode ser feita de maneira
digital. Através dela se pode chegar ao impeachment de Bolsonaro e à cassação
de Flávio Bolsonaro antes do que por outras vias. É um jogo de risco, porque
Bolsonaro ainda tem as Forças Armadas e razoável apoio popular. Mas isso pode
ir se movendo pelo caminho, ao demonstrar o quanto de sujeira há embaixo do
tapete da história da sua eleição e de sua vida política.
Com informações da Revista Fórum
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