Médica
Ticyana Azambuja, que está na linha de frente do combate ao coronavírus, foi
espancada até desmaiar após quebrar o retrovisor do carro de um policial que
participava de festa do coronavírus
Por Plinio
Teodoro
Revista Fórum
A médica Ticyana Azambuja publicou em sua página no
Facebook na madrugada desta segunda-feira (1º) um terrível relato de
espancamento que sofreu após tentar colocar pôr fim em uma “festa” do
coronavírus próximo ao local onde mora, no Grajaú, na zona norte do Rio de
Janeiro.
Segundo a médica, as festas em uma casa na rua onde
mora, que fica ao lado de um batalhão do corpo de Bombeiros, são frequentes e
duram até 3 dias seguidos. Apesar das reclamações dos vizinhos, a polícia nunca
havia estado no local.
Ela, que trabalha na linha de frente no combate ao
coronavírus, disse que no sábado (30), quanto teria plantão noturno, foi até a
casa e “num ato de exaustão e desespero, quebrei o retrovisor e trinquei o
pára-brisas de um dos carros parados irregularmente na calçada, de um dos
frequentadores da festa” – “Coisa que qualquer seguro de carro cobre”,
ressaltou.
A partir de então, a médica relata uma sequência de
agressões recebidas de pelo menos cinco homens.
“Cinco marmanjos (me lembro de uns 5) saíram, e
obviamente, bêbados e drogados, típicos “cidadãos de bem”, não estavam para
conversa. Apavorada, vi o potencial da besteira que fiz e saí correndo. Me
agarraram em frente ao Hospital Italiano. Me enforcaram até desmaiar. Me
jogaram no chão e me chutaram. Quando retornei à consciência, gritava por
Socorro! Isso aconteceu no dia 30 de Maio por volta de 17h, em plena luz do
dia”, relatou.
Ticyana ainda relata que foi levada até o Corpo de
Bombeiros, onde implorou por ajuda. “Eles riram de mim e disseram que meu lugar
era apanhando no chão. Eles são amigos do dono da casa”, relatou.
Segundo ela, quando a polícia chegou, descobriu que
o dono do carro, que vale mais de R$ 100 mil, também era policial.
“A patrulha da polícia chegou. Logo vieram mais
duas. Descobri que o dono do carro (um mini cooper de mais de 100 mil reais)
também era policial. Ele me pediu 6.800 reais para que tudo ficasse por aquilo
mesmo. Durante semanas, pedimos para que a polícia viesse resolver a situação
daquela casa. Bastou quebrar o vidro do carro de um policial para que 3
viaturas aparecessem”, afirma.
A médica publicou fotos que mostram ferimentos nas
mãos, no joelho e escoriações por todo o corpo.
“Pensei muito se deveria contar o que aconteceu,
estou com muito medo de represália. Os fortões venceram mais uma vez, mas ainda
não conseguiram calar minha Voz. Enquanto ainda não vivemos num
estado-policial, vou continuar falando. Preciso continuar denunciando as
injustiças. E deixo no fim desse relato-desabafo: se algo acontecer comigo, que
todos saibam quem fez! Que não continue impune. Pisotearam minha garganta, mas
não calaram minha voz!”
Leia o relato da agressão na íntegra
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