A
empresa chegou a financiar campanhas de candidatos rivais e a distribuir
pagamentos em cidades com menos de 20 mil habitantes na tentativa de fechar
acordos para a Odebrecht Ambiental.
A
Odebrecht chegou a financiar campanhas de candidatos rivais
da Revista Época
A Odebrecht pagou pelo
menos R$ 24,5 milhões por meio de propina e caixa dois para políticos de 12
estados do país com o propósito de conseguir contratos na área de saneamento
básico. A empresa chegou a financiar campanhas de candidatos rivais e a
distribuir pagamentos em cidades com menos de 20 mil habitantes na tentativa de
fechar acordos para a Odebrecht Ambiental. A empresa foi vendida para um grupo
canadense no fim do ano passado.
Só no Pará, a empresa
doou R$ 1,5 milhão em 2014 ao ministro Helder Barbalho (PMDB-PA), então
candidato ao governo, o senador Paulo Rocha (PT-PA) e o ex-prefeito de Marabá,
João Salame (PROS-PA).
Os repasses
“funcionariam como contrapartida a interesses do grupo Odebrecht no estado,
notadamente na área de saneamento básico, espaço em que almejava atuar como
concessionária”, segundo despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Edson Fachin que autorizou abertura de investigação.
Barbalho nega que tenha
cometido irregularidades.
Ainda de acordo com os
delatores, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) recebeu R$ 800 mil em 2014, na
sua campanha ao governo da Paraíba, “com a expectativa de receber futura
contrapartida e de realizar obra de saneamento naquele estado”. Em vídeo
postado nas redes sociais, o tucano alegou que só recebeu doações legais da
Braskem, braço petroquímico da Odebrecht.
Outro senador acusado
de receber R$ 800 mil via caixa dois é o ex-presidente Fernando Collor de Mello
(PTN-AL). Segundo dois delatores, quando concorreu ao governo de Alagoas, em
2010, Collor solicitou vantanges indevidas após ouvir de executivos da
Odebrecht Ambiental que a companhia tinha interesse em fazer parcerias
público-privadas na área de água e esgoto. Collor nega as acusações.
No Tocantins, onde a
Odebrecht Ambiental é responsável pelo saneamento em 49 cidades, o presidente
da concessionária, Mário Amaro, delatou ter feito doações não-contabilizadas a
nove políticos do estado em 2012 e 2014. O ex-presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é acusado de ter intermediado pagamentos em
nome do interessa da companhia ao governador Marcelo Miranda (PMDB-TO) e do
deputado estadual Junior Coimbra (PMDB-TO).
Os pedidos de
inquéritos de Tocantins não revelam valores distribuídos aos políticos dos
estados. Cunha também é citado nos pedidos de inquérito como responsável, junto
a outras autoridades locais, por “garantir o interesse do Grupo Odebrecht em
contratos do setor de saneamento de municípios do Rio de Janeiro”.
Em São Carlos, no
interior de São Paulo, a empresa doou, em 2012, R$ 150 mil para Paulo Roberto
Altomani (PSDB) e R$ 350 mil para Oswaldo Baptista Duarte Filho (PT), pois
ambos os candidatos à prefeitura ofereceram “como contrapartida ao pagamento a
privatização dos serviços de água e esgoto do município”. O candidato tucano
foi eleito, mas a Odebrecht Ambiental não foi contratada.
A empresa adotou o
mesmo expediente em Mauá, na Grande São Paulo, onde já é responsável pelo
serviço de água e esgoto. Em 2012, a Odebrecht gastou R$ 1 milhão com Donisete
Braga (PT) e Vanessa Damo (PMDB), que disputaram o segundo turno. Até a pequena
Santa Gertrudes, que tem 27 mil habitantes entrou no esquema de distribuição de
dinheiro não contabilizado da empresa, que repassou R$ 120 mil a Valtimir
Ribeirão e R$ 10 mil a Gino da Farmácia.
Os delatores também
relataram pagamentos em troca de vantagens na área de saneamento em Bahia,
Goiás, Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
Em nota divulgada na
terça-feira, a Odebrecht informou que “após a colaboração dos executivos e
ex-executivos”, a empresa “reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas e
assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e
também com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.
A empresa diz estar
fazendo sua parte ao adotar “um novo modelo de governança” e implantar “normas
rígidas de combate à corrupção, com vigilância permanente para que todas as
suas ações, principalmente na relação com agentes públicos, ocorram sempre
dentro da ética, da integridade e da transparência”.
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