Por Ricardo Kotscho
Abandonado pelos seus pares do DEM e do
que restou da oposição parlamentar no Congresso Nacional, o ainda senador
Demóstenes Torres (sem partido-GO) só encontra apoio em alguns setores da imprensa e agora joga todas as
suas fichas no Judiciário, pois sabe que não tem como escapar da cassação do
mandato. É tudo só uma questão de tempo.
Chega a ser comovente o empenho de
alguns jornalistas em variadas mídias para separar o Demóstenes AC (Antes de
Cachoeira), o implacável combatente contra a corrupção, do Demóstenes DC
(Depois de Cachoeira), como se isso fosse possível.
Não tem essa história de antes e depois:
Demóstenes e Cachoeira são umbilicalmente ligados faz muito tempo, atuavam
juntos em atividades clandestinas e um cumpria ordens do outro, segundo as
gravações feitas pela Polícia Federal.
Tratado agora como um traidor,
Demóstenes sempre foi um impostor, e só se deixou enganar por ele quem o
considerava um aliado útil contra o governo, independentemente dos seus
objetivos. Agora não adianta chorar.
Tanto que nem o senador nem o seu
advogado até hoje apareceram na imprensa para defender a sua inocência, mas
apenas para negar a validade das provas obtidas nas escutas telefônicas.
A atividade criminosa pela qual
Demóstenes está sendo denunciado é concomitante à sua ativade como parlamentar,
na qual se destacou como grande ator, de acordo com seu ex-parceiro Sergio
Guerra, presidente do PSDB, que gostava de vê-lo "de dedo em riste".
A tragédia greco-goiana das duas vidas
no mesmo personagem protagonizada pelo senador só se tornou pública porque ele
tinha certeza de que nunca o iriam pegar.
De um lado, confiou na alta tecnologia
do telefone Nextel à prova de grampos, que ganhou do bicheiro; de outro, tinha
certeza da impunidade, garantida por seus fortes laços de amizade na alta
cúpula do Judiciário e pela teia de apoios montada pelo seu cúplice na área
político-policial.
Pois agora é exatamente na Justiça que
Demóstenes emprega todos os seus esforços para evitar a cadeia. Ainda nesta
terça-feira, como informa a colega Marina Marquez, do R7, em Brasília, a defesa
do senador vai entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo a
anulação das provas apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
A defesa se resume nisso: ao incluir no
inquérito contra o senador as gravações entre Demóstenes ( o Doutor) e
Cachoeira (o Professor) obtidas durante a Operação Monte Carlo, a Polícia
Federal estaria "usurpando" as funções do STF, já que o orgão não
autorizou qualquer investigação contra o senador.
Também hoje, o Conselho de Ética do
Senado se reunirá para eleger seu novo presidente, primeiro passo para a
abertura de um processo contra Demóstenes.
O problema é que o STF negou aos
senadores cópia do inquérito da Polícia Federal, o que inviabiliza o processo
na Comissão de Ética e praticamente obriga o Senado a instalar uma CPI. Só
assim os parlamentares poderão ter acesso às provas.
Se tudo der certo, ainda assim levará
pelo menos uns três meses para que o processo de casssação de Demóstenes Torres
seja julgado no Senado _ o tempo com que ele conta para que todo mundo esqueça
o que aconteceu e o STF anule as provas.
"Se conseguirmos trancar as provas,
este inquérito estará morto", já comemorava previamente o advogado Almeida
Castro.
É bem possível, pelos antecedentes que
conhecemos, que o procurador Demóstenes livre-se das garras da Justiça. Mas nem
ele acredita numa absolvição política no Senado, onde virou um estorvo, um
morto vivo sem chances de ressuscitar.
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