quinta-feira, 10 de maio de 2012

A trajetória de Neiva Moreira

Ficha de Neiva Moreira na Academia Maranhense de Letras
 José Guimarães Neiva Moreira nasceu em Nova Iorque (cidade maranhense posteriormente realocada, por haver seu primitivo local desaparecido sob a Barragem de Boa Esperança), a 10 de outubro de 1917. Órfão de pai aos seis anos, quando a família já se mudara para Barão de Grajaú, defronte da bem mais desenvolvida cidade piauiense de Floriano, Neiva Moreira fez o primário naquela cidade maranhense, e iniciou o curso ginasial em Floriano, continuando-o no Liceu Piauiense, de Teresina, e no Liceu Maranhense, de São Luís.

Enquanto residiu em Barão de Grajaú, ajudou na subsistência familiar, vendendo bolos, remando canoas no rio Parnaíba e como cobrador da Associação dos Empregados do Comércio de Floriano, cidade em que, precocemente despertado por uma das maiores vocações de sua vida, que é a imprensa – a outra é a política –, participou da redação do jornal estudantil A Luz.

Em 1932 mudou-se, com a mãe e os irmãos, para Flores (atual Timon), cidade maranhense fronteira à capital mafrense. Em Teresina, ao mesmo tempo em que estudava, fundou e dirigiu, com Carlos Castelo Branco, o jornal A Mocidade, de efêmera duração.

Transferindo-se para São Luís, foi aqui acolhido por Nascimento Moraes, que lhe propiciou moradia e lhe deu apoio no jornal Pacotilha. No início de 1942 Neiva Moreira viajou para o Rio de Janeiro, decidido a atuar na grande imprensa nacional, o que de fato conseguiu. Após trabalhar, como repórter free lance, no Diário de Notícias, ingressou nos Diários Associados, onde pertenceu aos quadros do Diário da Noite, d’O Jornal e da revista O Cruzeiro, então o mais prestigioso semanário nacional, e ali fez brilhante carreira de repórter político, destacado para diversas missões no Brasil e no exterior. Ainda no Rio de Janeiro colaborou em A Vanguarda, O Semanário, e fundou O Panfleto.

Em abril de 1950 voltou a São Luís para fundar e dirigir o Jornal do Povo, do qual se tornou proprietário em outubro de 1952. Esse jornal, silenciado em abril de 1964, tornou-se, desde a fundação, o maior porta-voz das oposições maranhenses, assim como conferiu a seu dirigente e principal redator a posição de mais importante líder político de São Luís. Nesse mesmo ano de 1950, eleito deputado estadual, com votação consagradora, notadamente do eleitorado da capital, iniciou uma carreira que lhe conferiu, a contar de 1954, três mandatos consecutivos de deputado federal. Por sua atuação em diversas comissões, na liderança da Minoria, na Frente Parlamentar Nacionalista e na Mesa da Câmara, Neiva Moreira projetou-se como um dos mais combativos e admirados parlamentares brasileiros. E, dotado de grande capacidade administrativa, desempenhou papel funda mental na transferência da Câmara dos Deputados para Brasília.

Cassado e preso em 1964, foi inesperadamente posto em liberdade, por decisão de um chefe militar. Mas, sabedor de que logo voltaria à prisão, asilou-se na Embaixada da Bolívia, de onde, protegido por salvo-conduto diplomático, viajou para La Paz, iniciando um exílio de 15 anos, que o levou a residir no Uruguai, na Argentina, no Peru e no México. Em todos esses países, que ia deixando compelido pelo autoritarismo das ditaduras militares triunfantes, teve destacada participação na imprensa. Esteve, em missões jornalísticas, na Europa, na África e no Oriente Médio, oportunidades em que conheceu e entrevistou numerosos líderes políticos, e em que assistiu às festas de independência de Moçambique e de Angola.


Na Argentina (setembro de 1974), fez circular o primeiro número da revista Terceiro Mundo, reintitulada Cuadernos del Tercer Mundo a partir do Nº 10 (publicado em julho de 1977, no México), e que até hoje mantém em circulação, com o título em português, sendo o mais antigo periódico brasileiro consagrado à causa dos povos pobres e excluídos.

Com o advento da anistia, retornou ao Brasil, fazendo seu reencontro com a pátria pelo Maranhão. De volta à política, filiou-se ao PDT - Partido Democrático Trabalhista, de cuja organização nacional e regional (no Maranhão) participou ativamente.

A despeito das maiores possibilidades que lhe oferecia o Rio de Janeiro, quis reingressar na política por seu Estado natal, apresentando-se candidato a um eleitorado que em grande parte o havia esquecido. Não foi eleito deputado federal em 1982, nem senador em 1986. Determinado, candidatou-se a deputado federal em 1990, conquistando uma suplência que lhe permitiu voltar à Câmara Federal, por algum tempo, sendo ali saudado efusivamente como um grande parlamentar. Novamente candidato em 1990, obteve a primeira suplência da coligação PDT-PT e assumiu, como titular, o mandato de deputado federal em fevereiro de 1997. Em reconhecimento à sua destacada atuação parlamentar, Neiva Moreira foi eleito deputado federal em outubro de 1998, com votação muito expressiva.

Apesar de grande parcela de sua produção intelectual escrita achar-se, ainda hoje, nos numerosos jornais e revistas em que escreveu, Neiva Moreira publicou, entre outros, estes livros: Fronteiras do mundo livre. Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1949; O Exército e a crise brasileira. Montevidéu: 1968; Modelo peruano. Buenos Aires: La Linea, 1973 (este livro foi reeditado em diversos países, inclusive no Brasil – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975); Brasília, hora zero. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 1988 (depoimento sobre a transferência da Capital Federal para Brasília, trabalho em que o autor exerceu decisivo papel).

Sobre as atividades político-intelectuais de Neiva Moreira, os também acadêmicos Clovis Sena e José Louzeiro publicaram, respectivamente, os livros Neiva Moreira, testemunha de libertação (depoimento). Brasília: Movimento Brasileiro pela Anistia, 1979; e O pilão da madrugada (depoimento). Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 1989 (2. ed., São Luís: SECMA, 2007).

Por iniciativa do jornalista e acadêmico Benedito Buzar, 100 artigos de Neiva Moreira, dentre os milhares que ele publicou no Jornal do Povo, de 1950 a 1964, foram reunidos no livro Neiva Moreira: o jornalista do povo. São Luís: Lithograf, 1997.

Fonte: Academia Maranhense de Letras

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