domingo, 27 de março de 2016

Sobre traição na política

O período é propício para falarmos de traição na política. Traidor não tem ideologia. Geralmente age para defender seus próprios interesses. No início, costuma ser bajulador para conseguir o que deseja. Faz de tudo para agradar quem está de plantão no poder. De direita ou de esquerda, o traidor/bajulador fará questão de incensar o mandatário plantonista. Governos terminam e iniciam, mas ele estará sempre numa boa. Assim tem sido o ex-senador José Sarney, durante sua longeva trajetória política, marcada por traições. Nunca esteve na oposição. No máximo, em cima do muro, quando teve interesses contrariados.

Sempre procurou salvar a própria pele e defender interesses de seu grupo. Foi assim com os militares. Chegou ao poder no Maranhão vencendo o vitorinismo, com o apoio dos militares. No poder, montou sua arma de guerra: um império de comunicação. Foi um dos fiéis escudeiros do regime ditatorial. Igualava-se aos generais. Quando o regime vivia seus estertores, pegou o barco da redemocratização e tornou-se candidato a vice-presidente para depois, com a morte de Tancredo Neves, assumir o comando do país. Mais tarde, para não se aposentar, virou senador pelo Amapá e continuou com influência nos governos seguintes. Sempre que tinha interesse contrariado, trabalhava sorrateiramente para desestabilizar governos.

A esperteza camaleônica de Sarney é sintetizada pelo jornalista Leandro Fontes, no artigo ‘Sarney, o homem incomum’: “José Sarney é uma vergonha para o Brasil desde sempre. Desde antes da Nova República, quando era um político subordinado à ditadura militar e um representante mais do que típico da elite brasileira eleita pelos generais para arruinar o projeto de nação – rico e popular – que se anunciava nos anos 1960. Conservador, patrimonialista e cheio dessa falsa erudição tão típica aos escritores de quinta, José Sarney foi o último pesadelo coletivo a nós impingido pela ditadura, a mesma que ele, Sarney, vergonhosamente abandonou e renegou quando dela não podia mais se locupletar. Talvez essa peculiaridade, a de adesista profissional, seja o que de mais temerário e repulsivo o senador José Sarney carregue na trouxa política que carrega Brasil afora, desde que um mau destino o colocou na Presidência da República, em março de 1985, após a morte de Tancredo Neves”.

Nos governo petistas – oito anos de Lula e quatro de Dilma – Sarney reinou, indicando aliados e amigos para ministérios e controlando todos os cargos federais no Maranhão e no Amapá. No período em que seu grupo ficou fora do poder no Maranhão, aproveitou sua força junto aos governos do PT para boicotar os gestores que não rezavam em sua cartilha. Usou esse poder para inviabilizar o governo Jackson até a consumação do golpe judicial que depôs o pedetista do Palácio dos Leões. Conseguiu, portanto, tudo o que quis ao longo dos últimos treze anos.

Talvez Dilma e Lula estejam arrependidos da aliança com o inconfiável Sarney e seu PMDB. Não foi por falta de aviso. O alerta foi feito pelo próprio jornalista Leandro Fontes, quando Lula disse que Sarney era um homem incomum: “No futuro, Lula não será julgado pela História somente por essa declaração infeliz e injusta, mas por ter se submetido tão confortavelmente às chantagens políticas de José Sarney, a ponto de achá-lo intocável e especial. Em nome da governabilidade, esse conceito em forma de gosma fisiológica e imoral da qual se alimenta a escória da política brasileira, Lula, como seus antecessores, achou a justificativa prática para se aliar a gente como os Sarney, os Magalhães e os Jucá. Pelo apoio de José Sarney, o presidente entregou à própria sorte as mais de seis milhões de almas do Maranhão, às quais, desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2003, só foi visitar esse ano (2009), quando das enchentes de outono, mesmo assim, depois que Jackson Lago foi apeado do poder”, escreveu o jornalista.

No time dos golpistas, Sarney, o ‘escritor’ do ‘listão da Odebrecht’, seguirá escrevendo sua saga de traições!

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