Em
discurso durante ato pela Educação no Palácio do Planalto, a presidente Dilma
Rousseff chamou o vice-presidente Michel Temer de um dos chefes do golpe,
acompanhado, sem citar o nome, do presidente da Câmara, Eduardo Cunha;
"Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão,
não tão invisível assim, que conduz, com desvio de poder e abusos
inimagináveis, o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a
farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse. Cai a máscara dos
conspiradores", disse.

Do Brasil 247
Em um discurso que certamente
ficará para a história, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (12), no Palácio do Planalto, que o Brasil "não será o País do ódio" e
acusou o movimento golpista de ter "chefe e vice-chefe assumidos",
referindo-se indiretamente ao vice-presidente da República, Michel Temer, e ao
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Não sei direito qual é o
chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz,
com desvio de poder e abusos inimagináveis, o processo de impeachment. O outro
esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse.
Cai a máscara dos conspiradores", disse Dilma. Segundo ela, os dois
"agem em conjunto e de forma premeditada" pela "maior fraude
política e jurídica de nossa história".
Ela falou especificamente sobre
o áudio de Temer em que o vice ensaia um discurso de posse em caso de
impeachment e destacou que "vivemos tempos estranhos e preocupantes,
tempos de golpe, de farsa e de traição". "Como acreditar num pacto de
salvação ou de união nacional, sem sequer uma gota de legitimidade de quem
propõe? Com fraudes, ninguém concilia nem constrói unidade", questionou,
sobre as promessas feitas pelo vice na gravação.
A presidente afirmou que
"utilizaram a farsa do vazamento" para espalhar o discurso e
"constituir a ordem da conspiração". "Agora conspiram
abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidenta legitimamente
eleita. Ao longo da semana, acusaram-me de usar expedientes escusos para
recompor a base do meu governo. Me julgando pelo seu espelho, pois são eles que
usam tais métodos. Caluniam enquanto leiloam oposições no gabinete do golpe, no
governo dos sem voto", discursou.
"Ontem ficou claro que
existem, sim, dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada.
Como muitos brasileiros, tomei conhecimento e confesso que fiquei chocada com a
desfaçatez da farsa do vazamento que foi deliberado, premeditado, vazando para
eles mesmos, estranho vazamento. Vazando para eles mesmos, tentaram disfarçar o
que era um anúncio de posse antecipada, subestimando a inteligência dos
brasileiros e das brasileiras. Até nisso são golpistas, sem respeito pela
democracia. Porque eu estou no pleno exercício de minha função de presidenta da
República", prosseguiu a presidente.
Ela também fez provocações à
imprensa, que divulgou o áudio: "Vamos raciocinar, vejam só. Antes sequer
da votação do inconsistente pedido de impeachment, foi distribuído um vazamento
em que um dos chefes da conspiração assume como chefe da presidência da
República. A pergunta que caberia a qualquer órgão de imprensa imparcial: 'De
que base legal tirou a legitimidade e da legalidade de seu gesto?' Por que essa
pergunta não é feita?", questionou Dilma Rousseff.
O áudio, diz ela, "revela
traição a mim e explicita que esse chefe conspirador também não tem
compromissos com o povo". "Diz que é capaz de anunciar que está
pensando em manter as conquistas sociais dos últimos anos. Pensando. Como se
conquistas pessoais se pensa se se vai ou não manter. E avisa que será obrigado
a impor sacrifícios à população. Pergunto eu: com que legitimidade fará isso? É
uma atitude de arrogância e de desprezo pelo povo, do qual certamente tentará
retirar direitos. Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a
traição em curso, não há mais", declarou.
Os golpistas, segundo Dilma,
"pretendem rasgar os votos desses 54 milhões de eleitores [que votaram
nela], mas não apenas deles, também daqueles que não votaram em mim. Porque
todos que participaram do processo eleitoral respeitaram a democracia
representativa, por isso saíram de suas casas e foram votar por duas vezes, no
primeiro e no segundo turno. O impeachment sem crime de responsabilidade, sem
provas, cometido contra uma presidenta legitimamente eleita, abrirá caminho
para governos sem voto serem formados à revelia da manifestação do
eleitor".
"Sem crime, será um golpe
de Estado. No exato e lamentável sentido da expressão: Golpe de Estado",
disse ainda a presidente, que terminou seu discurso com um alerta:
"Estejamos atentos e vigilantes nos próximos dias, os golpistas tentarão
de tudo, tentarão nos tirar das ruas. É possível novos vazamentos, novas
acusações sem provas, que serão amplificadas por manchetes escandalosas, novas
calúnias e ataques desesperados. Fiquem atentos, mantenham-se unidos, não
aceitem provocações, nós não somos do ódio, nós somos da paz."
Leia, abaixo, a íntegra do
discurso:
Vivemos momentos decisivos para
a democracia brasileira. Os próximos dias vão mostrar, com clareza, quem honra
e respeita a democracia conquistada com grandes lutas, e quem não se importa em
destruir o regime democrático por meio da ilegítima destituição de uma
presidenta eleita com 54 milhões de votos pelo povo brasileiro.
Por isso, muito me alegra estar
hoje com vocês para, juntos, tomarmos posição clara em defesa da democracia, da
legalidade e do Estado Democrático de Direito.
Estamos aqui para denunciar um golpe. Estamos
juntos, aqui, para barrar, com nossa posição enérgica, uma tentativa de golpe
contra a República, contra a democracia e contra o voto popular.
Uma tentativa de golpe contra as
universidades públicas, contra a educação pública gratuita.
Vou repetir o que disse aqui
mesmo, em momentos anteriores: o golpe não é contra mim, embora tentem
construí-lo por meio do impeachment.
O golpe é contra o projeto de
Brasil que represento.
É contra tudo aquilo que, nos
últimos 13 anos, temos feito com apoio do povo e com o trabalho incansável dos
movimentos sociais e de brasileiras e brasileiros como vocês.
O golpe é contra as conquistas
da população e contra o protagonismo assumido pelo povo brasileiro nestes 13
anos. Protagonismo exercido no acesso à renda e a empregos, na inclusão social
e na redução das desigualdades e, sem dúvida, na democratização do acesso à
educação.
Vocês sabem, por viverem isto em
seu cotidiano, que a educação é transformadora. Educação para todos – mulheres
e homens, negros e brancos, pobres e ricos, cidadãos de todas as regiões.
Educação que é parte intrínseca da construção de uma nação democrática.
O efetivo direito à educação
transforma as pessoas, reorganiza a sociedade, muda o País. Para alguns, isto é
ameaçador. Para nós, é a necessária semente de um Brasil de oportunidades para
todos.
Por isso, nos últimos 13 anos,
demos prioridade aos investimentos em educação. Lembro alguns resultados dessa
escolha, até porque nunca os vemos na imprensa.
Criamos 18 universidades e 173
campus universitários. Implantamos 422 novas escolas técnicas federais.
Contratamos 49 mil professores,
por concurso, para fazer frente à expansão e interiorização dessa rede federal.
Quatro milhões de jovens
entraram nas universidades privadas graças ao ProUni e ao FIES. Com o Pronatec,
9 milhões e 500 mil jovens e trabalhadores fizeram cursos de formação
profissional – e serão mais 2 milhões este ano.
Aprovamos o FUNDEB e o Plano
Nacional de Educação. Apoiamos Estados e municípios na expansão da rede de creches
e pré-escolas, na garantia de transporte escolar e na implantação do ensino em
tempo integral.
Estes são alguns exemplos de
nossos investimentos em educação, que cito para mostrar que estamos dando
consistência ao conceito de Pátria Educadora.
Pátria Educadora é educação para
todos. É acesso democrático à educação. Não só nas capitais, não só nos estados
mais ricos, não só para os que têm mais renda.
Pátria Educadora é dar à
universidade e à escola brasileira a cara e as cores do nosso povo. Pela primeira
vez em nossa história, jovens pobres estão entrando nas universidades públicas
e nas particulares, e estão ganhando bolsas no exterior – e é bom que se diga
que estão aproveitando bem este direito. As crianças e os jovens de famílias
beneficiárias do Bolsa Família estão estudando mais e com desempenho escolar
cada vez melhor.
Hoje, 35% daqueles que concluem
os cursos universitários são os primeiros em suas famílias a chegar a um curso
superior e se formar.
Repito: para nós, educação é uma
maneira de transformar vidas, promover igualdade de oportunidades, aumentar
salários e renda e ampliar a competitividade da economia. Fizemos muito, e
também no caso da educação vale nosso lema: é só um começo. Há ainda muito a
fazer, e a continuação desse projeto depende do respeito à soberania do povo e
à democracia.
Minhas amigas e meus amigos,
Vivemos tempos estranhos e
preocupantes. Tempos de golpe, de farsa e de traição.
Ontem, utilizaram a farsa do vazamento para
difundir a ordem unida da conspiração.
Agora, conspiram abertamente, à
luz do dia, para desestabilizar uma presidenta legitimamente eleita. Acusam-me
de usar expedientes escusos para recompor a base de apoio do governo, me
julgando pelo seu espelho, pois são eles que usam tais métodos. Caluniam
enquanto leiloam posições no gabinete do golpe,
no governo dos sem voto.
Ontem, ficou claro que existem,
sim, dois chefes do golpe, que agem em conjunto e de forma premeditada.
Como muitos brasileiros, tomei conhecimento –
e confesso que fiquei chocada – com a desfaçatez da farsa do vazamento, que
foi deliberado, premeditado. Vazando
para eles mesmos, tentaram disfarçar o que era um anúncio de posse
antecipada, subestimando a inteligência
dos brasileiros.
Até nisso são golpistas, sem
ética e sem respeito pela democracia porque estou no pleno exercício de minha
função de Presidenta da República.
Vejam só, antes sequer da
votação do inconsistente pedido de impeachment, foi distribuído um
pronunciamento em que um dos chefes da conspiração assume a condição de
Presidente da República. De que base legal retirou a legitimidade e a
legalidade de seu gesto? Na verdade, explicitou, com esta atitude, o desapreço
que tem pelo Estado Democrático de Direito e por nossa Constituição. Atropelou
os ritos em curso no Congresso Nacional, em clara demonstração de desrespeito
pelo Legislativo.
O gesto que revela a traição a
mim e à democracia ainda explicita que esse chefe conspirador também não têm compromissos com o povo.
É capaz de anunciar que está
pensando em manter as conquistas sociais dos últimos anos. Pensando! E avisa
que será obrigado a impor sacrifícios à população.
Pergunto eu com que
legitimidade?
É uma atitude de arrogância e
desprezo pelo povo – do qual certamente tentará retirar direitos que, sem o
golpe, seriam inalienáveis.
Se ainda havia alguma dúvida
sobre a traição em curso, não há mais. Se havia alguma dúvida sobre a minha
denúncia de que há um golpe de estado em andamento, não pode haver mais.
Os golpistas têm chefe e vice chefe assumidos. Um é a mão,
não tão invisível assim, que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis
o processo de impeachment. O outro, esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento
de um pretenso discurso de posse.
Cai a máscara dos conspiradores.
O Brasil e a democracia não merecem
tamanha farsa.
O fato é que os golpistas que se
arrogam a condição de chefe e vice chefe do gabinete do golpe estão tentando montar uma fraude para
interromper, no Congresso, o mandato que me foi conferido pelos brasileiros.
Na verdade, trata-se da maior
fraude jurídica e política de nossa história. Sem ela, o impeachment sequer
seria votado.
O relatório da Comissão do
Impeachment é o instrumento dessa fraude. O relatório é tão frágil, tão sem
fundamento, que chega a confessar que não há indícios ou provas suficientes das
irregularidades que tentam me atribuir.
Pretendem derrubar, sem provas e
sem justificativa jurídica, uma Presidenta eleita por mais de 54 milhões de eleitores.
Pretendem rasgar os votos de
milhões de eleitores, não apenas dos que votaram em mim, mas de todos os que,
ao participar da eleição, respeitaram a democracia representativa.
O impeachment sem crime de
responsabilidade e sem provas, cometido contra uma presidenta legítimamente
eleita na jovem democracia brasileira, abrirá caminho para governos sem voto,
formados à revelia da manifestação do eleitor.
O impeachment sem crime será um
golpe de estado no exato e lamentável sentido da expressão.
A quem interessa usurpar do povo
brasileiro o sagrado direito de escolher quem o governa?
Como acreditar num pacto de
salvação ou de unidade nacional, sem
sequer uma gota de legitimidade democratica?
Como acreditar que haverá sustentação para tal
aventura?
Com farsas, fraudes e sem
legitimidade ninguém pacifica, ninguém concilia, ninguém constrói unidade para
superação de crises. Só as agrava e aprofunda.
Amigas e amigos,
Agradeço muito a solidariedade
de vocês. Agradeço ainda mais o apoio à democracia e à legalidade. Peço que
vocês, que todos nós e o povo brasileiro estejamos atentos e vigilantes nos
próximos dias.
Os golpistas tentarão de tudo.
Tentarão nos intimidar. Tentarão nos tirar das ruas. Usarão todos os artifícios
possíveis.
Novos vazamentos ilegais e facciosos
podem acontecer. Novas acusações sem provas serão feitas e amplificadas por
manchetes escandalosas. Sofrerei novas calúnias e novos ataques desesperados.
Fiquem atentos. Mantenham-se
unidos. Não aceitem provocações. Não se deixem enganar por manobras mentirosas
de última hora. Atuem com calma e em paz.
A verdade haverá de prevalecer.
O impeachment não vai passar. O golpe será derrotado.
Em defesa da democracia, milhões
de brasileiras e brasileiros estão se mobilizando por todo o País, movidos por
uma multiplicidade extraordinária de sons e lideranças.
Como cantou Beth Carvalho, no
ato dos artistas, no RJ, afirmando que “#não vai ter golpe de novo#
“Sem dividir o coração, vamos
honrar nossa raiz
Democracia é o que a gente
sempre quis”
Muito obrigado pela presença de
todos.
Viva a democracia.
Viva o Brasil que faz da
educação o caminho para a igualdade entre os cidadãos.
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