Pedro Corrêa, ex-deputado do PP,
condenado no Mensalão e no escândalo de propinas na Petrobrás, relata 'disputa
por propinas' e 'compra de mais de cinquenta parlamentares' para aprovação de
emenda

POR MATEUS COUTINHO,
JULIA AFFONSO,
RICARDO BRANDT
E FAUSTO MACEDO
O Estado de São Paulo

Corrêa, que admitiu ter se
envolvido em crimes desde seu primeiro mandato parlamentar, em 1978 pelo
extinto Arena, afirmou aos investigadores que o episódio envolvendo o governo
FHC “foi um dos momentos mais espúrios” que ele presenciou em todos os anos de
deputado federal.
Segundo o delator, houve uma
disputa de propinas. Segundo Pedro Corrêa, estavam em lados opostos o governo
Fernando Henrique e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que na época havia
acabado de deixar a Prefeitura de São Paulo com alta aprovação e sua
candidatura à Presidência da República era cogitada.
A
ÍNTEGRA DO DEPOIMENTO QUE CITA A COMPRA DE VOTOS:
O delator da Lava Jato relatou
que por parte do governo federal a iniciativa da reeleição foi liderada pelo
então ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998) e pelo então
presidente da Câmara Luis Eduardo Magalhães (também morto em 1998 e na época do
PFL) com o apoio do deputado Pauderney Avelino – atualmente líder do DEM na
Câmara – , dos então governadores Amazonino Mendes (PFL-AM) e Olair Cameli
(PFL-AC) ‘entre outras lideranças governistas’ . De acordo com Pedro Corrêa,
essas lideranças ‘compraram os votos para a reeleição de mais de 50 deputados’.
O delator, contudo, estava do
outro lado da ‘disputa’. “Além dos fatos já narrados, o colaborador também
participou deste episódio, mas de forma contrária, tentando alijar com propinas
deputados em desfavor da emenda constitucional com recursos do então
ex-prefeito da cidade de São Paulo e hoje deputado federal, Paulo Maluf
(PP-SP)”, afirmou Pedro Corrêa aos investigadores.
Segundo o ex-deputado, naquela
época Maluf – atualmente alvo de dois mandados de prisão internacional por
supostamente ter lavado dinheiro no exterior desviado da Prefeitura de São
Paulo – havia terminado seu mandato na capital paulista com 90% de aprovação e
cogitava disputar a Presidência. “Maluf sabia que seu maior concorrente seria o
presidente à época, FHC, isso se o governo conseguisse passar a emenda da
reeleição”.
Para tanto, relata Corrêa, Maluf
o convocou e os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho “para se
contrapor ao governo e também cooptar, com propina, parlamentares que
estivessem se vendendo ao governo FHC”.
Maluf acabou sendo derrotado e o
governo conseguiu, em uma votação esmagadora, aprovar a emenda que garantiu a
Fernando Henrique – também com alta aprovação popular na época – mais quatro
anos de mandato. Em 28 de janeiro daquele ano a emenda constitucional da
reeleição foi aprovada no plenário da Câmara em primeiro turno por 336 votos a
favor, 17 contra e seis abstenções.
Na ocasião, a compra de votos
foi denunciada em reportagem do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, que
revelou gravações de conversas parlamentares dizendo terem recebido R$ 200 mil
para aprovar a medida. Um deles, Ronivon Santiago, admitiu ter recebido a
quantia. Oito dias depois, os dois deputados flagrados nas gravações
renunciaram ao mandato e o caso foi arquivado pela Procuradoria-Geral da
República.
COM
A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO:
Procurado pela reportagem,
Fernando Henrique Cardoso disse que Pedro Corrêa apenas repetiu o que foi
veiculado pela imprensa na época e que já tratou do assunto em sua biografia
lançada recentemente sobre o período em que ocupou a Presidência da República,
chamada “Diários da Presidência”. No livro, ele relata que o episódio foi uma
“questão do Congresso”.
Em um dos diários da Presidência
ele chega a relatar que foi informado por Luis Eduardo Magalhães que Maluf
teria oferecido R$ 1 milhão ao deputado Fernando Brandt (PFL-MG), da comissão
da Câmara que analisava a proposta da emenda constitucional da reeleição, para
votar contra a medida. No livro, porém ele não cita outros parlamentares nem os
detalhes relatados por Pedro Corrêa.
Veja
a íntegra da nota do ex-presidente:
“O depoente apenas repete o que
foi veiculado na época e levou à renúncia de alguns dos 4 deputados citados
como responsáveis por receber propinas, isso depois de investigação na Câmara.
O modo como a informação chegou a mim e sua pronta repulsa estão minuciosamente
registrados no volume 2 dos Diários da Presidência, que acabo de publicar. “FH
COM
A PALAVRA, O EX-PREFEITO DE SÃO PAULO E DEPUTADO FEDERAL PAULO MALUF:
O ex-prefeito Paulo Maluf
(1993/1996) afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique é que deve ser ouvido
sobre o caso. “O favorecido no episódio foi Fernando Henrique Cardoso com a sua
reeleição, e portanto é o FHC que deve ser ouvido”, disse, por meio de sua
assessoria.
Veja
a íntegra da nota de Paulo Maluf
“O favorecido no episódio foi
Fernando Henrique Cardoso com a sua reeleição, e portanto é o FHC que deve ser
ouvido.”
COM
A PALAVRA, ROBERTO SETÚBAL:
“Fico profundamente indignado em
ver o nome de meu pai tão absurdamente envolvido numa história sem
comprovações.
Ele era um homem absolutamente
ético e tenho convicção de que ele jamais se envolveu em nada parecido com o
que, covardemente, o ex-deputado Pedro Corrêa descreveu.
Meu pai não participava de
qualquer atividade política partidária desde 1986, e não há nenhum indício de
que essa história possa ter fundamento”.
Roberto Setubal
COM
A PALAVRA O LÍDER DO DEM, PAUDERNEY AVELINO:
“Rechaço com veemência as
referências feitas a mim pelo ex-deputado Pedro Corrêa, autointitulado
corrupto. Não responderei aos bandidos e ladrões do dinheiro público”.
OUTRAS
DEFESAS:
A reportagem entrou em contato e
encaminhou e-mail para a assessoria de ACM Neto, da família de Luis Eduardo
Magalhães, mas não obteve retorno. Os demais políticos que ainda estão vivos
citados na delação não foram encontrados para comentar o caso, o espaço está
aberto para a manifestação deles.
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