Segundo ex-presidente da
Transpetro, 'havia um padrão segundo o qual os empresários moldavam seus
orçamentos com incorporação do conceito de custo político'

POR MATEUS COUTINHO,
JULIA AFFONSO,
RICARDO BRANDT, ISADORA PERON E
GUSTAVO AGUIAR
O Estado de São Paulo
Profundo conhecedor do mundo
político e das obras públicas, o ex-presidente da Transpetro e delator da Lava
Jato Sérgio Machado disse aos investigadores que a Petrobrás, que está no
centro das investigações do Ministério Público Federal, é “a madame mais
honesta dos cabarés do Brasil”, por ser ‘um organismo estatal bastante
regulamentado e disciplinado’ e disse que outras empresas e órgãos públicos
adotam práticas “menos ortodoxas”, em referência ao pagamento de propinas
envolvendo empresas privadas e o setor público.
Dentre os outros órgãos que ele
cita estão o DNIT, as companhias Docas, os bancos oficiais “tais como Banco do
Nordeste, Funasa, FNDE e DNOCS”. Ainda segundo o delator, que ficou 11 anos à
frente da Transpetro, desde 1946 “havia um padrão segundo o qual os empresários
moldavam seus orçamentos com incorporação do conceito de ‘custo político'”, que
englobaria o porcentual dos contratos com o poder público destinado a propinas
em todas as esferas: federal, estadual e municipal. De acordo com Machado, este
padrão seria de 3% no governo federal, 5 a 10% nos governos estaduais e de 10 a
30% nas contratações envolvendo municípios.
Nos últimos anos, porém,
políticos de todos os níveis da administração no País teriam extrapolado este
‘padrão’, ‘envolvendo a estrutura das empresas estatais e dos órgãos públicos,
o que antes não acontecia’, afirmou o delator, que disse ainda ter mantido na
Transpetro o ‘modelo tradicional’.
O próprio Machado admite que ele
era o único na estatal a tratar de propinas e que só tratava disso com
presidentes de empresas e políticos, sem envolver outro funcionário da
Transpetro. Ele afirmou ainda que não havia cartel nem fraude nas licitações da
estatal. O esquema, segundo explicou, consistia em não fazer novos contratos
com empresas que não pagassem as propinas ou mesmo excluí-las da lista de
companhias que poderiam ser contratadas pela estatal, uma prerrogativa que
Machado detinha em seu cargo.
Em mais de dois anos de
investigações, a Lava Jato revelou um megaesquema de corrupção na Petrobrás a
partir do loteamento político das diretorias para direcionar propinas a
partidos e políticos a partir de contratos da maior estatal brasileira. Com o
avanço da operação, o Ministério Público Federal revelou que modelos
semelhantes de corrupção foram adotados em subsidiárias da estatal, como a
própria Transpetro, e também em outros setores da administração, como no setor
de energia e no de ferrovias.
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