Ex-ministro da Cultura acusou Temer de
pressioná-lo a liberar prédio de interesse de Geddel; presidente nega
irregularidades
Daiene Cardoso,
O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A oposição na Câmara disse na
noite desta quinta-feira, 24, que o depoimento de Marcelo Calero à Polícia
Federal é caso para impeachment. O ex-ministro da Cultura apontou pressão do
presidente Michel Temer para resolver a liberação do empreendimento imobiliário
em Salvador (BA) onde o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima,
comprou um apartamento. O vice-líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS), vê
desvio de finalidade, uso do cargo de presidente da República para objetivos
privados e crime de responsabilidade. "Isso é passível de
impeachment", declarou.
O porta-voz da Presidência, Alexandre
Parola, confirmou que Temer conversou com Calero sobre o pedido de Geddel, mas
negou pressão sobre o ex-ministro. Segundo Parola, o presidente "sempre
endossou caminhos técnicos para solução de licenças em obras ou ações de
governo".
Pimenta disse que a bancada ainda
avaliará as medidas jurídicas cabíveis, mas está seguro de que a
Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) serão
acionados para investigar a denúncia. "Isso é corrupção ativa. Já tínhamos
classificado como prevaricação (de Temer) porque o Calero disse que tinha
comunicado. Se Temer atuou, ele é cúmplice", afirmou Pimenta.
O deputado afirmou que a situação pode
culminar no afastamento de Temer porque o suposto crime de advocacia
administrativa ocorreu durante o exercício da Presidência da República. Pimenta
lembra que a oposição tentou aprovar requerimentos de convocação de Calero e
Geddel na Câmara, mas os governistas impediram a aprovação dos pedidos.
"Isso explica o pavor do governo de convocar o Geddel. Temer sabia o que
tinha feito", disse.
O líder da Rede na Câmara, Alessandro
Molon (RJ), sugeriu convocar Calero, para confirmar aos deputados a denúncia.
Se o ex-ministro repetir o que disse à Polícia Federal, o deputado defenderá a
coleta de assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI).
"Se ele confirmar, a denúncia é
extremamente grave", afirmou Molon. Para o líder partidário, o caso
demonstra inicialmente que o posto mais alto do País foi usado para pressionar
um servidor público a atender o interesse privado de Geddel.
O líder do PT, deputado Afonso Florence
(BA), disse que as bancadas na Câmara e no Senado vão continuar atuando para
apurar o caso, "que agora ficou muito mais grave, com o envolvimento de
Temer nas denúncias". "Identificado o crime de responsabilidade, o
caminho é a abertura de um processo de impeachment de Temer. O governo Temer
derrete", afirmou por meio de nota.
Base
O vice-líder da bancada do PMDB,
Carlos Marun (MS), disse não acreditar que os fatos tenham ocorrido da forma
como foram expostas por Calero e que ele não merece crédito. "Trata-se de
um homem magoado e a mágoa está o fazendo ter uma reação raivosa",
concluiu Marun.
O peemedebista observou que a denúncia
contra Temer não tinha aparecido antes e que está convicto de que o ex-ministro
mentiu. "Agora ele vem com essa conversa?", questionou. Sobre um
possível pedido de impeachment de Temer, Marun classificou a hipótese de
"loucura".
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