"Sugeríamos
à construtora que a gente doasse pelo propósito institucional de manutenção
contratual. Na verdade, a gente pagava e contribuía para as campanhas para
cumprir a lei, quase isso". Isso
porque, de acordo com o delator, a empresa estava amarrada à boa vontade do
prefeito eleito: "Tem sempre a ameaça de 'viu, vou cancelar o seu
contrato'".
Por Gabriela Sá
Pessoa
Folha de São
Paulo
A Odebrecht tornou-se
uma "porta aberta para qualquer político" tão frequente que, segundo
o ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, "era quase sinônimo
de onde ir no momento de financiar a campanha". Tanto que nas eleições municipais
de 2016, com a Lava Jato em curso e executivos da empreiteira negociando
delações, candidatos continuaram pedindo recursos à empresa.
Em 2015, Emílio
Odebrecht, patriarca do grupo, desmontou o "departamento da propina"
e começou a interromper as doações, ainda que pagamentos continuassem nos meses
seguintes.
"Mesmo assim, nós
fomos buscados por vários políticos para fazer caixa dois", afirmou Reis,
em dezembro passado, no depoimento a procuradores da operação Lava Jato. O
executivo não citou nomes.
Criada em 2008, a
Odebrecht Ambiental é o braço do grupo responsável por serviços de saneamento
básico, serviços administrados pelas prefeituras. No ano de sua fundação, a
empresa, segundo o executivo, atuava em oito cidades. Em 2014, já tinha contratos
com 220 cidades de 12 Estados. Um efeito das eleições de 2012, quando a empresa
fez 54 doações ilegais a candidatos, detalhadas em uma planilha apresentada à
investigação.
A maior parte delas
(32) para a disputa em cidades paulistas. A justificativa frequente era manter
ou promover projetos de saneamento básico nessas cidades, favorecendo a
Odebrecht Ambiental.
"A gente foi
aprendendo que o poder do concedente no setor ambiental é diferenciado do setor
de construção. Não dependemos que o prefeito pague a fatura, a gente cobra do
usuário [as tarifas pelo abastecimento]", disse Reis.
"Sugeríamos à
construtora que a gente doasse pelo propósito institucional de manutenção
contratual. Na verdade, a gente pagava e contribuía para as campanhas para
cumprir a lei, quase isso".
Isso porque, de acordo
com o delator, a empresa estava amarrada à boa vontade do prefeito eleito:
"Tem sempre a ameaça de 'viu, vou cancelar o seu contrato'".
Outra justificativa era
a indicação de caciques políticos, para "consolidar o canal".
Exemplo: na planilha, consta doação de R$ 300 mil Helil Cardozo (PMDB-RJ),
ex-prefeito de Itaboraí e codinome "Calota", a "pedido de
Eduardo Cunha". "Acho que nunca conseguimos influenciar que um
candidato ganhasse. Mas, de alguma forma, com o poder econômico, [conseguíamos]
influenciar pelo menos os discursos, as ideias na elaboração dos planos",
explica Reis.
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