Rádio Voz do Maranhão

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Sarney é a eminência parda do governo de Temer

Mesmo reformado da política, o ex-presidente levou esta semana o Planalto a mudar o nome do ministro do Trabalho e, no mês passado, indicara o novo diretor-geral da polícia. 

Por Adriano Machado/Reuters

Após a demissão do ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira na semana passada, o presidente da República Michel Temer, do Movimento da Democracia Brasileira (MDB), pediu ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a que pertence Nogueira, para apresentar um substituto.

O PTB escolheu o deputado Pedro Fernandes e a oficialização da troca ficou marcada para os primeiros dias de 2018. Porém, houve uma reviravolta de última hora: José Sarney, presidente de honra do MDB, vetou o nome de Fernandes para o cargo. É que para o governo de Temer, os desejos de Sarney – que foi chefe do Estado brasileiro entre 1985 e 1990 – são ordens.

“Infelizmente não deu devido ao embaraço que eu crio na relação de Michel Temer com José Sarney”, disse através de mensagem Pedro Fernandes, aos seus colegas do grupo parlamentar do PTB. Roberto Jefferson, presidente do partido, confirmou aos jornalistas que “o Planalto ligou a dizer que Sarney não concordava com o nome em causa e que pensássemos numa alternativa”. A deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson, assumirá a pasta.

Fernandes, deputado pelo estado do Maranhão, é aliado do governador Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que em 2014 tirou a família Sarney do poder no estado após 50 anos. Em outubro, Dino concorrerá pela reeleição contra Roseana Sarney (MDB), filha do antigo presidente. Daí o veto.

A influência de Sarney no atual governo é notada desde que deu aval às manobras a favor do impeachment de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, ainda em 2015 – foi um dos interlocutores gravados por um ex-aliado a combinar um acordo para elevar Temer à presidência e travar a Operação Lava-Jato. Na sequência, garantiu o seu filho mais novo, Sarney Filho, do Partido Verde, na pasta do Meio Ambiente do atual executivo. Além de colocar três aliados políticos na presidência de três empresas estatais da área da energia.

Durante a crise das gravações de Temer a, supostamente, pedir a um empresário corrupto, Joesley Batista, para manter pagamentos pelo silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado do MDB preso na Lava-Jato, Sarney aconselhou o atual presidente a não se demitir. E Temer ouviu-o. No poder legislativo, do qual o governo depende para aprovar reformas impopulares, o antigo presidente, apesar de se ter reformado da política, também mantém influência, principalmente entre deputados e senadores eleitos pelo Maranhão.

Por indicação de Sarney, foi um ex-superintendente da polícia do Maranhão, Fernando Segovia, o escolhido para dirigir a Polícia Federal no lugar de Leandro Daiello, que comandou a Lava-Jato desde o início. E na sua primeira aparição, Segovia considerou insuficiente como prova uma mala de 50 mil reais carregada pelo assessor especial de Temer após encontro às escondidas com o braço direito de Joesley Batista no estacionamento de uma pizaria.

Nascido José Ribamar de Araújo Costa há 87 anos, Sarney adotaria o nome de batismo do pai no início da carreira política de mais de meio século – foi governador, senador e vice-presidente do Brasil por mês e meio até à morte de Tancredo Neves cuja presidência herdou. Dono de uma das maiores fortunas do Maranhão, através da propriedade de centenas de imóveis e da maioria dos órgãos de comunicação locais, controlou desde os anos 60 o estado mais pobre do Brasil através de aliados e parentes.

Da sua biografia política constam suspeitas de corrupção e investigações por sobrefaturação de obras, irregularidades em concorrências públicas e favorecimentos em concessões do Estado. É dado frequentemente como exemplo de práticas de coronelismo (controle privado do poder público) e de nepotismo.


Em paralelo, desenvolveu uma carreira literária que o levou à Academia Brasileira de Letras, mas cujos méritos nem sempre foram reconhecidos. O crítico Millôr Fernandes considerou o seu romance Brejal dos Guajás como sendo “genial, por estar errado da primeira à última linha” e “motivo de impeachment em qualquer país civilizado”. José Sarney é ainda grão-mestre da Ordem de Cristo, de Santiago de Espada e do Infante Dom Henrique.

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