Mesmo
reformado da política, o ex-presidente levou esta semana o Planalto a mudar o
nome do ministro do Trabalho e, no mês passado, indicara o novo diretor-geral
da polícia.
Por Adriano Machado/Reuters
Após a demissão do ministro do Trabalho
Ronaldo Nogueira na semana passada, o presidente da República Michel Temer, do
Movimento da Democracia Brasileira (MDB), pediu ao Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB), a que pertence Nogueira, para apresentar um substituto.
O PTB escolheu o deputado Pedro
Fernandes e a oficialização da troca ficou marcada para os primeiros dias de
2018. Porém, houve uma reviravolta de última hora: José Sarney, presidente de
honra do MDB, vetou o nome de Fernandes para o cargo. É que para o governo de
Temer, os desejos de Sarney – que foi chefe do Estado brasileiro entre 1985 e
1990 – são ordens.
“Infelizmente não deu devido ao embaraço
que eu crio na relação de Michel Temer com José Sarney”, disse através de
mensagem Pedro Fernandes, aos seus colegas do grupo parlamentar do PTB. Roberto
Jefferson, presidente do partido, confirmou aos jornalistas que “o Planalto
ligou a dizer que Sarney não concordava com o nome em causa e que pensássemos
numa alternativa”. A deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson, assumirá a
pasta.
Fernandes, deputado pelo estado do
Maranhão, é aliado do governador Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil
(PC do B), que em 2014 tirou a família Sarney do poder no estado após 50 anos.
Em outubro, Dino concorrerá pela reeleição contra Roseana Sarney (MDB), filha
do antigo presidente. Daí o veto.
A influência de Sarney no atual governo
é notada desde que deu aval às manobras a favor do impeachment de Dilma
Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, ainda em 2015 – foi um dos
interlocutores gravados por um ex-aliado a combinar um acordo para elevar Temer
à presidência e travar a Operação Lava-Jato. Na sequência, garantiu o seu filho
mais novo, Sarney Filho, do Partido Verde, na pasta do Meio Ambiente do atual
executivo. Além de colocar três aliados políticos na presidência de três
empresas estatais da área da energia.
Durante a crise das gravações de Temer
a, supostamente, pedir a um empresário corrupto, Joesley Batista, para manter
pagamentos pelo silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado do MDB preso na
Lava-Jato, Sarney aconselhou o atual presidente a não se demitir. E Temer
ouviu-o. No poder legislativo, do qual o governo depende para aprovar reformas
impopulares, o antigo presidente, apesar de se ter reformado da política,
também mantém influência, principalmente entre deputados e senadores eleitos
pelo Maranhão.
Por indicação de Sarney, foi um
ex-superintendente da polícia do Maranhão, Fernando Segovia, o escolhido para
dirigir a Polícia Federal no lugar de Leandro Daiello, que comandou a Lava-Jato
desde o início. E na sua primeira aparição, Segovia considerou insuficiente
como prova uma mala de 50 mil reais carregada pelo assessor especial de Temer
após encontro às escondidas com o braço direito de Joesley Batista no
estacionamento de uma pizaria.
Nascido José Ribamar de Araújo Costa há
87 anos, Sarney adotaria o nome de batismo do pai no início da carreira
política de mais de meio século – foi governador, senador e vice-presidente do
Brasil por mês e meio até à morte de Tancredo Neves cuja presidência herdou.
Dono de uma das maiores fortunas do Maranhão, através da propriedade de
centenas de imóveis e da maioria dos órgãos de comunicação locais, controlou
desde os anos 60 o estado mais pobre do Brasil através de aliados e parentes.
Da sua biografia política constam
suspeitas de corrupção e investigações por sobrefaturação de obras,
irregularidades em concorrências públicas e favorecimentos em concessões do
Estado. É dado frequentemente como exemplo de práticas de coronelismo (controle
privado do poder público) e de nepotismo.
Em paralelo, desenvolveu uma carreira
literária que o levou à Academia Brasileira de Letras, mas cujos méritos nem
sempre foram reconhecidos. O crítico Millôr Fernandes considerou o seu romance
Brejal dos Guajás como sendo “genial, por estar errado da primeira à última
linha” e “motivo de impeachment em qualquer país civilizado”. José Sarney é
ainda grão-mestre da Ordem de Cristo, de Santiago de Espada e do Infante Dom
Henrique.
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