Segundo o delegado, a polícia foi
acionada após um frentista confundir os tacos de sinuca dos ocupantes com
armas. “Foi tentada uma abordagem, mas ele não efetuou a parada”, explica
Por Tribuna do Ceará e O Informante
Um competidor de sinuca paraibano morreu
e duas pessoas ficaram feridas durante uma abordagem policial em Campos Sales,
no Ceará. Ele foi identificado como José Messias Guedes de Oliveira. O caso aconteceu na madrugada desta quarta-feira (1) após denúncia de
um frentista, que confundiu os tacos de sinuca dos ocupantes do veículo com
armas.
Os quatro amigos, que viajavam de Patos, na Paraíba com destino ao Maranhão, onde participariam de um campeonato de sinuca,
resolveram parar para abastecer em um posto de gasolina na cidade de Antonina
do Norte, próximo a Campos Sales.
Estavam no veículo José Messias Guedes
de Oliveira, Wendel Félix Xavier, os dois de 35 anos, além de Josean Leite de
Oliveira e Gutiely Pereira de Araújo, de 30 anos. O frentista do estabelecimento
suspeitou dos homens e acionou a Polícia Militar, afirmando ter visto um fuzil
dentro do carro. A polícia encontrou o grupo na CE-371 e iniciou a perseguição.
De acordo com o delegado de Polícia
Civil de Campos Sales, Bruno Fonseca, o veículo não obedeceu os comandos para
abordagem, segundo o delegado, então foi iniciado uma acompanhamento tático.
“Foi tentada uma abordagem, mas ele não
efetuou a parada. Os policias decidiram acompanhar até a entrada da cidade de
Campos Sales”, afirma em entrevista ao Tribuna do Ceará.
Já na entrada da cidade, o carro não
parou diante da barricada, e então os policiais iniciaram os disparos nos
pneus.
“O motorista viu as viaturas na entrada da
cidade, no acostamento, mas não entendeu que era uma barricada, continuou a
viagem. Foi no momento em que, passando dos policiais, houve o início dos disparos,
onde ele até acelerou assustado. Ele parou mais na frente após acertarem os
pneus, quando foi feita a abordagem e o atendimento às pessoas que foram
atingidas”, explica.
José Messias foi atingindo no abdômen e,
mesmo após ser socorrido pelos militares, não resistiu aos ferimentos e morreu.
Wendel e Josean foram feridos de raspão. Os dois foram atendidos no hospital da
região e liberados em seguida. O motorista do veículo, Gutiely Pereira, não foi
baleado.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública,
os policiais militares fizeram uma vistoria no veículo e não encontraram armas,
nem nada de suspeito. O fuzil que o frentista teria visto provavelmente seria
uma mala com tacos de sinuca dos competidores.
O delegado ainda comenta que, por conta
da onda de terror de ataques a órgãos públicos nos últimos dias, a Polícia
Militar “sempre está fazendo operações para tentar evitar que a cidade seja
alvo desse tipo de crime”.
A SSPDS não repassou informações sobre
os PMs responsáveis pelos disparos e disse que foi instaurado um inquérito
policial com o intuito de apurar as circunstâncias da ocorrência. Os
sobreviventes fizeram um boletim de ocorrência e o veículo passa por perícia.
Todos os envolvidos prestaram depoimento e foram liberados em seguida.
O
relato de um dos jogadores
Wendel de Medeiros, que estava no banco
de trás do Corola, dirigido por Gutiely, contou como tudo aconteceu: "Nós
lanchamos e ficamos conversando um pouco com o frentista. Depois de tudo,
soubemos que quando saímos ele, ou alguém do posto, ligou para a polícia
dizendo que havia 4 homens com armas no Corola e que estavam indo na direção de
Campos Sales. O frentista viu os nossos tacos de sinuca nos estojos e imaginou
que se tratavam de armas. Exatamente 62
km depois do posto, pouco depois de 2h da madrugada, já na entrada de Campos
Sales, percebemos umas 4 viaturas da polícia paradas, em sentido contrário, uma
delas com o giroflex ligado e as outras com as luzes apagadas. Sem saber de
nada, continuamos. As viaturas estavam posicionadas no sentido contrário. Não
haviam cones, cancelas, nada..., a nossa pista estava livre. O local era completamente
escuro. Quando emparelhamos com eles, passando devagar, os policiais abriram
fogo contra o nosso carro. Gutiely acelerou e, 500m depois, quando vimos a
igreja da cidade, já no claro, paramos o carro. Eu tinha levado um tiro de
raspão na nuca e Josean estava com ferimentos de estilhaços de bala nas pernas
e braços. Gutiely nada sofreu. Eles chegaram em seguida mandando todo mundo
descer do veículo e deitar no chão. Desci com Gutiely e Josean, mas Messias
continuou dentro do carro. Deitados, com as mãos na cabeça praticamente
gritamos para os policiais que eramos pais de família e não bandidos. Eles
checaram o Corola e constataram que as 'armas' que imaginaram eram apenas tacos
e providenciaram socorro para a gente. Quando chegamos ao hospital não tinha praticamente
nada..., desfibrilador, morfina, nada... Messias estava com ferimento de bala
na altura da virilha, e morreu no hospital, sem condições de receber um
atendimento que pudesse lhe salvar a vida."
Segundo
caso
Esse é o segundo caso, em menos de 2
meses, em que abordagens policiais terminam em morte no Ceará. Em junho, a
pedagoga Giselle Távora Araújo, de 42 anos, foi morta a tiros efetuados por
policiais em Fortaleza, quando teve seu carro confundido com o de um criminoso.
Por meio de nota, a Controladoria Geral
dos Órgãos de Segurança Pública, que investiga casos de erros policiais, disse
que instaurou um procedimento disciplinar e que apura com detalhes o caso. Só
depois das diligências é que serão tomadas as decisões sobre os PMs envolvidos
no ocorrido.
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