Rádio Voz do Maranhão

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

PMs do Ceará metralham veículo de jogadores de sinuca que vinham para São Luís; um morreu e dois ficaram feridos


Segundo o delegado, a polícia foi acionada após um frentista confundir os tacos de sinuca dos ocupantes com armas. “Foi tentada uma abordagem, mas ele não efetuou a parada”, explica

Por Tribuna do Ceará e O Informante

Um competidor de sinuca paraibano morreu e duas pessoas ficaram feridas durante uma abordagem policial em Campos Sales, no Ceará. Ele foi identificado como José Messias Guedes de Oliveira. O caso aconteceu na madrugada desta quarta-feira (1) após denúncia de um frentista, que confundiu os tacos de sinuca dos ocupantes do veículo com armas.

Os quatro amigos, que viajavam de Patos, na Paraíba com destino ao Maranhão, onde participariam de um campeonato de sinuca, resolveram parar para abastecer em um posto de gasolina na cidade de Antonina do Norte, próximo a Campos Sales.

Estavam no veículo José Messias Guedes de Oliveira, Wendel Félix Xavier, os dois de 35 anos, além de Josean Leite de Oliveira e Gutiely Pereira de Araújo, de 30 anos. O frentista do estabelecimento suspeitou dos homens e acionou a Polícia Militar, afirmando ter visto um fuzil dentro do carro. A polícia encontrou o grupo na CE-371 e iniciou a perseguição.

De acordo com o delegado de Polícia Civil de Campos Sales, Bruno Fonseca, o veículo não obedeceu os comandos para abordagem, segundo o delegado, então foi iniciado uma acompanhamento tático.
“Foi tentada uma abordagem, mas ele não efetuou a parada. Os policias decidiram acompanhar até a entrada da cidade de Campos Sales”, afirma em entrevista ao Tribuna do Ceará.

Já na entrada da cidade, o carro não parou diante da barricada, e então os policiais iniciaram os disparos nos pneus.

 “O motorista viu as viaturas na entrada da cidade, no acostamento, mas não entendeu que era uma barricada, continuou a viagem. Foi no momento em que, passando dos policiais, houve o início dos disparos, onde ele até acelerou assustado. Ele parou mais na frente após acertarem os pneus, quando foi feita a abordagem e o atendimento às pessoas que foram atingidas”, explica.

José Messias foi atingindo no abdômen e, mesmo após ser socorrido pelos militares, não resistiu aos ferimentos e morreu. Wendel e Josean foram feridos de raspão. Os dois foram atendidos no hospital da região e liberados em seguida. O motorista do veículo, Gutiely Pereira, não foi baleado.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, os policiais militares fizeram uma vistoria no veículo e não encontraram armas, nem nada de suspeito. O fuzil que o frentista teria visto provavelmente seria uma mala com tacos de sinuca dos competidores.

O delegado ainda comenta que, por conta da onda de terror de ataques a órgãos públicos nos últimos dias, a Polícia Militar “sempre está fazendo operações para tentar evitar que a cidade seja alvo desse tipo de crime”.

A SSPDS não repassou informações sobre os PMs responsáveis pelos disparos e disse que foi instaurado um inquérito policial com o intuito de apurar as circunstâncias da ocorrência. Os sobreviventes fizeram um boletim de ocorrência e o veículo passa por perícia. Todos os envolvidos prestaram depoimento e foram liberados em seguida.

O relato de um dos jogadores

Wendel de Medeiros, que estava no banco de trás do Corola, dirigido por Gutiely, contou como tudo aconteceu: "Nós lanchamos e ficamos conversando um pouco com o frentista. Depois de tudo, soubemos que quando saímos ele, ou alguém do posto, ligou para a polícia dizendo que havia 4 homens com armas no Corola e que estavam indo na direção de Campos Sales. O frentista viu os nossos tacos de sinuca nos estojos e imaginou que se tratavam de armas.  Exatamente 62 km depois do posto, pouco depois de 2h da madrugada, já na entrada de Campos Sales, percebemos umas 4 viaturas da polícia paradas, em sentido contrário, uma delas com o giroflex ligado e as outras com as luzes apagadas. Sem saber de nada, continuamos. As viaturas estavam posicionadas no sentido contrário. Não haviam cones, cancelas, nada..., a nossa pista estava livre. O local era completamente escuro. Quando emparelhamos com eles, passando devagar, os policiais abriram fogo contra o nosso carro. Gutiely acelerou e, 500m depois, quando vimos a igreja da cidade, já no claro, paramos o carro. Eu tinha levado um tiro de raspão na nuca e Josean estava com ferimentos de estilhaços de bala nas pernas e braços. Gutiely nada sofreu. Eles chegaram em seguida mandando todo mundo descer do veículo e deitar no chão. Desci com Gutiely e Josean, mas Messias continuou dentro do carro. Deitados, com as mãos na cabeça praticamente gritamos para os policiais que eramos pais de família e não bandidos. Eles checaram o Corola e constataram que as 'armas' que imaginaram eram apenas tacos e providenciaram socorro para a gente. Quando chegamos ao hospital não tinha praticamente nada..., desfibrilador, morfina, nada... Messias estava com ferimento de bala na altura da virilha, e morreu no hospital, sem condições de receber um atendimento que pudesse lhe salvar a vida."

Segundo caso

Esse é o segundo caso, em menos de 2 meses, em que abordagens policiais terminam em morte no Ceará. Em junho, a pedagoga Giselle Távora Araújo, de 42 anos, foi morta a tiros efetuados por policiais em Fortaleza, quando teve seu carro confundido com o de um criminoso.

Por meio de nota, a Controladoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública, que investiga casos de erros policiais, disse que instaurou um procedimento disciplinar e que apura com detalhes o caso. Só depois das diligências é que serão tomadas as decisões sobre os PMs envolvidos no ocorrido.

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