Parlamentar
chegou a seu limite quando mensagens passaram a falar em explosões e
decapitações de familiares
Por
CartaCapital
Um e-mail apócrifo com destino aos
assessores. Foi dessa forma que duas horas após a publicação, na última
quinta-feira (24), da entrevista que anunciava a renúncia ao seu terceiro
mandato como deputado federal e sua saída do Brasil devido às ameaças de morte
que recebia, que Jean Wyllys (PSOL), recebeu a seguinte mensagem:
Transportado por dois carros blindados e
três agentes federais, desde março de 2018 o deputado recebe escolta policial.
Entretanto, é desde 2011, quando assumiu seu primeiro mandato, que recebe
ameaças. Foi em dezembro de 2016 que o deputado diz ter recebido a mensagem que
mais lhe assustou. Com o título “bichona”, o texto do e-mail dizia: “Você pode
ser protegido, mas a sua família não. Já pensou em ver seus familiares
estuprados e sem cabeça?”.
Poucos dias depois, o mesmo remetente
enviou a Wyllys e seus irmãos endereços e placas de carro dos membros da
família. Mas as ameças não pararam por aí. Em 15 de março de 2017, o deputado
recebeu mais um e-mail, desta vez, com seus dados pessoais, endereço, placa de
seu veículo, nomes de seus familiares e para intimidá-lo, informações de como
elaborar explosivos:
“Eu vou espalhar 500 quilos de explosivo
triperóxido de triacetona, explosivo tão perigoso e potente que é chamado de
mãe de Satan pelos terroristas do Estado Islâmico. […] Se vocês duvidam que
tenho capacidade para fazer isto, apenas vejam como é fácil produzir o
explosivo”. A mãe do deputado também
sofreu ameaças na mesma mensagem:
Em entrevista à reportagem do jornal O
Globo, que revelou estas e outras ameaças, um dos assessores do deputado afirma
que o endereço de IP do dispositivo que disparou esta mensagem é da Califórnia,
nos EUA. Outro assessor do deputado confirmou a Carta Capital a veracidade de
todas as mensagens publicas. Segundo o assessor, todas elas mensagens estão em
posse da Polícia Federal, que já abriu cinco investigações sobre esses
conteúdos.
Na entrevista, o deputado conta que
desde o assassinato da colega de partido, Marielle Franco, em março de 2018,
saía pouco de casa e sempre com o objetivo de cumprir compromissos do trabalho.
A assessoria do deputado revelou também que em 20 de março de 2018, durante o
ato ecumênico que marcou os sete dias do assassinato da vereadora, ele recebeu
uma mensagem que sabiam onde ele estava e que “deveria tomar cuidado porque
seria o próximo”.
A Polícia Federal confirmou que parte
das ameaças que Jean recebia partiram da quadrilha de Marcello Valle Silveira
Mello, que havia sido preso em maio de 2018 pela Operação Bravata, condenado
por associação criminosa, divulgação de imagens de pedofilia, racismo, coação,
incitação ao cometimento de crimes e terrorismo cometidos na internet.
Em 2012, Marcello já havia sido
investigado pela Polícia Federal na Operação Intolerância, por realizar
postagens incitando o ódio contra negros, judeus, mulheres, homossexuais e
nordestinos. Ele era um dos principais agressores online de Dolores Aronovich,
famosa ativistas feministas do país.
Segundo a assessoria do deputado, na
época da investigação da Operação Tolerância, a Câmara dos Deputados havia
flagrado que a quadrilha a que Marcello pertencia havia estado nas dependências
do anexo 4 do Congresso Nacional com o objetivo de testar e conhecer a
segurança do local. A assessoria reforça a gravidade das ameaças a Jean a
partir de um caso que veio a público:
Em outubro de 2018, André Luiz Gil
Garcia, de 29 anos, rapaz que fazia parte da quadrilha, atirou contra uma moça
em Penápolis (SP) e fugiu. Ao ser encontrado pela Polícia Militar, se matou,
tendo atirado contra o próprio peito. A cantora Simony e a neta da
apresentadora Monique Evans também já haviam sido ameaçadas por membros da
quadrilha.
No mesmo mês, Jean recorreu a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos relatando as ameaças sofridas e a ausência
de medidas protetivas do Estado brasileiro. A Comissão chegou a se manifestar
em favor do deputado, mas não o cerceou de alternativas.
Quem assume o mandato de Jean Wyllys é
seu suplente, David Miranda (PSOL), vereador pelo Rio de Janeiro desde 2016.
David, que assim como Jean, é LGBTI, se manifestou nas redes sociais na tarde
da última quinta-feira (24) defendendo o colega de partido e rebatendo a um
tweet do presidente Jair Bolsonaro.
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