Por Marina Falcão
Do Recife
O governador do Maranhão, Flávio Dino
(PCdoB), afirmou que governo precisa "limpar a área do que é aresta,
conflito e confusão" para poder ter condições de aprovar a reforma da
Previdência.
Para o governador, que se reuniu ontem
com os demais oito governadores do Nordeste, a desvinculação do orçamento
proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é uma agenda
"completamente equivocada", assim como a ideia de capitalização na
Previdência e flexibilização do porte de arma.
Para Dino, o governo pode ter boas
propostas para a Previdência, mas que, misturadas com esse "balaio",
acabam de se perdendo. "A pauta tem que ser reforma da Previdência e Pacto
Federativo, via reforma tributária. O resto é para atrapalhar e para criar
confusão", disse.
O governador disse que "está muito
clara" a dificuldade do governo de Jair Bolsonaro em pautar de modo
produtivo o debate nacional. "Há uma imensa confusão alimentada pelo
próprio governo todos os dias", afirmou Dino, ao Valor, após o encontro de
governadores em São Luís.
Segundo o governador, há um consenso
entre os governadores nordestinos em uma posição contrária à capitalização, à
"desconstitucionalização" da Previdência e às mudanças no Benefício
de Prestação Continuada (BPC) e aposentadoria rural. Estes seria pontos
inegociáveis para eles.
"Se é um bode na sala, o governo
errou no tamanho do bode. Está tão crescido que está afastando todo
mundo", afirmou Dino. "Do jeito que está, o Congresso não aprova. Já
estamos em março e não há sinais que o processo esteja andando", disse.
Para o governador, seria uma atitude
inteligente o governo retirar esses pontos da discussão e apresentar logo uma
proposta para aposentadoria dos militares para criar um clima mais saudável.
Ele avalia que as dificuldades se soma ao ambiente contaminado pela
desarticulação política do governo, que, segundo o governador, tem uma visão de
conflito permanente.
"É difícil até dizer o tema que o
presidente não cria confusão. É uma vocação inata de alguém que consegue brigar
com o carnaval", disse. "[Ele] cria disputa o tempo inteiro, dentro
do próprio governo, e não resolve os problemas. Basta olhar a situação
lamentável do Ministério da Educação. Bebianno ficou sangrando dez dias. O
ministro do turismo na iminência de fazer turismo em outro canto e não
vai".
O governador disse a desvinculação do
Orçamento, sugerida pelo ministro da economia, Paulo Guedes, é algo que
interessa praticamente somente à União. O ministro sugeriu a proposta como se
fosse algo que agradaria os governadores e que poderia até ajudar na tramitação
na reforma da Previdência. "Acho que ele só ouviu dois ou três
governadores [antes de propor a desvinculação]", disse Dino.
Na atual conjuntura, nenhum governador
iria reduzir suas despesas com educação e saúde, porque esses gastos não
existem por conta da vinculação do orçamento, mas por conta da demanda social,
afirmou o governador. Há ainda um temor, por parte dos governadores, de que a
desvinculação termine por reduzir os recursos de políticas de cooperação entre
União e estados e municípios, como SUS e Fundeb, prejudicando a prestação
serviços cruciais.
Durante encontro ontem, em São Luís, os
governadores nordestinos oficializaram a criação de um consórcio para compras
públicas. A ideia é ganhar escala, eficiência e reduzir gastos. Além disso, o
consórcio funcionará para agilizar ações de cooperação entre os estados em
casos de crise na segurança ou no sistema penitenciário, como o
compartilhamento agentes de segurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário